Claridades do sul | Page 5

António Gomes Leal
emfim, morrendo, elle o cordeiro,?Pomba mansa no ar pesado e immundo,?Pendeu-se como um lyrio moribundo,?Sobre a haste do tragico madeiro.
E lan?ando o espirito prufundo?Ao reino bello, grande, e verdadeiro,?Finou-se, emfim, chagado e justiceiro,?Ainda, ainda, perdoando ao mundo.
Um soldado romano vendo-o exposto,?E j�� morto na Cruz, com um desgosto,?Com a lan?a enristada o trespassou...
Saiu d'aquella chaga sangue e agoa...?--Ah sangue que n?o deu a tanta m��goa!?--Lagrimas, sim, talvez que n?o chorou!
*AS ALDEIAS*
Eu gosto das aldeias socegadas,?Com seu aspecto calmo e pastoril,?Erguidas nas collinas azuladas--?Mais frescas que as manh?s finas d'Abril.
Levanta a alma ��s cousas _visionarias_?A doce paz das suas eminencias,?E apraz-nos, pelas ruas solitarias,?Ver crescer as inuteis florescencias.
Pelas tardes das eiras--como eu gosto?Sentir a sua vida activa e s?!?Vel-as na luz dolente do sol posto,?E nas suaves tintas da manh?!
As crean?as do campo, ao amoroso?Calor do dia, folgam seminuas;?E exala-se um sabor mysterioso?D'a agreste solid?o das suas ruas!
Alegram as paysagens as crean?as,?Mais cheias de murmurios do que um ninho,?E elevam-nos ��s cousas simples, mansas,?Ao fundo, as brancas velas d'um moinho.
Pelas noutes d'estio ouvem-se os rallos?Zunirem suas notas sibilantes,?E mistura-se o uivar dos c?es distantes?Com o canto metallico dos gallos...
*BENEFICIOS E PHILOSOPHIA DO SOL*
Tem sido at�� agora--o scintillante?E antigo Sol, amigo da Harmonia,?Que me tem ensinado, cada dia,?A desprezar a Morte escura e errante!
As densas nuvens do porvir distante?Desdenha-as a sua epica alegria,?E a sua heroica e s? philosophia?Nada, at�� hoje, eguala e �� semelhante.
Decerto, �� grato ao soffrimento insano?Dos tristes, quando surge o _rosto humano_?_Da lua_, abrandecer o Ceu com ais;
Mas, quando �� que j��mais dobrou �� Sorte,?A alma do _fakir_, paciente e forte,?Mais sereno que as plantas e os metaes?!
*DISPUTA*
Voltaire dando com o p�� n'uma caveira, ria?Com certo riso mau, sinistro e mofador;?--A velha companheira, ent?o, da Theologia?Dos santos e da Cruz bradou ao pensador:
--��s tu impio Voltaire, �� verme roedor?Das folhas do Evangelho! �� Satan da ironia!?Cujos risos crueis fazem chorar Maria,?E despregam do lenho a ensanguentada flor!?
Tu tens lan?ado o cuspo aos astros lancinantes;?Abalado da Cruz os cravos vacillantes;?E ladrado de Deus que julgas a dormir!...
Mas olha em cima �� o Ceu, dos astros sementeira!...?--Voltaire disse-lhe ent?o: Pois se assim ��, caveira,?Por que te encontram, sempre, ao p�� da cruz a rir?
*AS CATHEDRAES*
Como vos amo ver �� cathedraes sosinhas,?A recortar o azul das noutes constelladas!?Erguidos corucheus, mysticas andorinhas,?--�� grandes cathedraes do sol ensanguentadas!
Como vos amo ver, pombas alvoro?adas!?Ogivas ideaes, anjos de puras linhas,?E �� criptas sem luz, aonde embalsamadas?Dormem de m?os em cruz as santas e as rainhas!
Em v?o olhaes o Ceu sagradas epopeias!?Flores de renda e luz, d'incenso e aromas cheias,?Aves celestiaes banhadas da manh?!
Em v?o santos e reis, �� monges dos desertos!?Em v?o, em v?o resais, sobre os livros abertos,?--O Ceu por que chorais �� uma fic??o christ?!
*LYCANTHROPIA*
L'auteur �� remarqu�� que que la mort de ceux qui nous sont chers, et g��neralment la contemplation de la mort, affecte biem plus notre ame pendaut l'��t�� que dans les autres saisons de l'anine��. (Paradis artificiels)
Nuvens da tarde, azul fundo e sereno!?E astros inviolados, larangeiras!?Para mim n?o valeis seu riso ameno,?E aquellas _lindas_, languidas olheiras!
Nunca mais... eu bem sei que nunca mais...?Ouvir-lhe-hei seus ais no ar calado,?Junto �� janella �� tarde no bordado,?E entre as murtas do outono... Nunca mais!
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Quando �� tarde, no occaso, os penetrantes?Cheiros das plantas nadam pelos ares,?E que as vermelhas nuvens singulares?Tomam formas de sonhos fluctuantes,
Quando ha no azul a mystica elegia?Que nos lan?a nas lugubres chimeras,?Eu scismo ent?o--�� rutilas espheras!?N'aquella que j�� come a terra fria!
E ent?o n'aquella vaga somnolencia--?Somnolencia em que a terra desparece!?Mais immortal seu vulto me parece;?Mais cruel e sem fim _aquella auzencia_!
Nuvens da tarde, azul fundo e sereno!?E astros inviolados, larangeiras!?Nunca mais me dareis seu riso ameno?E aquellas _lindas_, languidas olheiras.
Quando �� que, �� grande e santa Natureza!?Me poder��s um dia consollar?--D'aquella que j�� mais eu pude amar!--?Inacreditavel, lugubre crueza!
D'aquella que talvez, alegre e louca,?Eu de certo amaria;--amara, �� certo!--?Mas que era pobre e s��, e cuja boca?Tinha a vermelha c?r d'um cravo aberto!
Cuja voz era doce como um favo,?Voz que tocava as cordas mais secretas!?Que nos fazia o cora??o escravo,?Cujos olhos... leaes tulipas pretas!...
Nuvens d'Agosto, azul fundo e, sereno!?E astros inviolados, larangeiras!?Nunca mais me dareis seu riso ameno?E aquellas _lindas_, languidas olheiras!
Nunca mais... Ah! mas n?o; Vir�� um dia,?--Dia livre de vis _conveniencias_!--?Que a ella me una em fim na terra fria,?E te ache �� paz! nas santas florescencias!
*O PECCADO*
Nunca cessamos de peccar?(Imita??o de Christo)
I
*Ubique doemon*
Bem sei... e mais que o sei, claro luar!?Que segundo a severa theologia,?Pelas noutes sonoras de poesia?O aroma dos lyrios faz peccar!
Quem vos dir��a!... madresilvas, mar,?Lilazes, claros rios, cotovia!?Que ao dizer da tirannica theoria,?V��s farieis a Carne triumphar!
Ah! Natureza, pois, se ��s criminosa,?E nos levam ao mal urnas da rosa,?Bom cora??o de Christo imaculado!...
Quantos n?o v��s morrer, do ceu prufundo,?Cheios de sangue, como heroes no mundo,?--Exhautos dos mil golpes do Peccado!?--
II
*O Peccado*
Elle �� antigo,
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