Claridades do sul | Page 4

António Gomes Leal
me dera ser a pedra?Em que tu lavas no rio!
E andar comtigo, �� meu pomo,?Exposto ��s chuvas e aos soes!?E uma noute morrer como?Se morrem os rouxinoes!
Morrer chorando, n'um choro?Que mais as magoas consolla,?Levando s�� o thesouro?Da nossa triste violla!
Por que andas tu mal commigo??�� minha doce trigueira??Quem me dera ser o trigo?Que, andando, pisas na eira!
*A AGUIA*
No tempo em que era a grande deusa viva?Os deuzes, os heroes e as Musas bellas,?Dizia uma aguia velha e pensativa,?Que fizera a viagem das estrellas:
--V?o-se indo as tradi??es! e h?o-de ir com ellas?Apollo, Jove, Vichnou e Siva!?Um astro �� gr?o de luz; o mar saliva?De ti �� grande Pan!... S�� Pan tu vellas!...
Mas quando assim fallava a aguia, eis quando?Se ouviu aquella voz triste bradando?Na Sicilia: _Morreu o grande Pan_!
Epheso estremeceu, carpiu Eleusis;--?Mas a aguia velha gargalhou:--�� deuses!?_Qual ser�� o deus novo de ��manh?_!
*ACCUSA??O �� CRUZ*
Ainsi lirat-il les artiques v��rit��s, les tristes v��rit��s, les grandes, les terribles v��rit��s.?(De Quincey)
Ha muito, �� lenho triste e consagrado!?Desfeita podrid?o, velho madeiro!?Que tens avassalado o mundo inteiro,?Como um pend?o de luto levantado.
Se o que foi nos teus bra?os cravejado?Foi realmente a Hostia, o Verdadeiro,?Elle est�� mais ferido que um guerreiro?Para livrar das flexas do Peccado.
Ha muito j�� que espalhas a tristeza,?Que lutas contra a alegre Natureza,?E vences �� Cruz triste! Cruz escura!
Chega-te o inverno, symbolo tremendo!?Queremos Vida e Ac??o--Fica-te sendo?Um emblema de morte e sepultura!
*LUTHERO*
Ah, ��s tu diabo?...?(Lenda mouacal)
Luthero, o frade austero e macilento,?Encontrou a Satan dormindo um dia,?N'uma rua d'Erfurt, �� ventania,?Envelhecido, calvo e vinolento.
Dorme! gritou-lhe o frade... a teu contento,?Guloso Pae da Indigist?o, da Orgia!?Renunciaste as li??es de theologia,?�� velho corvo mau do Firmamento?!
O mundo como tu �� calvo e velho;?A Egreja �� o lupanar do Evangelho;?E tu �� ��brio, gulot?o, descan?as!?...
Satan, olhando o azul, disse:--As estrellas?V?o pelo Ceu t?o ba?as, amarellas,?Deus j�� deixou enferrujar as lan?as!
*A TERRA*
Fecundar��s a terra com o suor do teu rosto.
Cavae, eternamente, a velha terra!?Soffrei, suae, gemei na dura enxada,?Fecundae-a na paz ou pela guerra,?Quer seja pelo arado ou pella Espada,
�� Homem! trabalhar �� tua heran?a?At�� que a Morte, emfim, grite--descan?a!
�� a Arvore a tua companheira?O lar, a tenda, a sombra de teus passos,?Da tua amante a perfumada esteira,?Como ben??os t'estende os longos bra?os!
E ou seja em teu inverno, ou teu estio,?E teu ber?o, teu leito, e teu navio!
�� preciso que as lagrimas que correm?Fa?am crescer dos cardos os trigaes,?E por cima dos corpos dos que morrem?Se ergam verdes loureiros triumphaes!
�� preciso que em paz ou pela Guerra,?Com pranto, ou sangue se fecunde a Terra!
�� preciso caval-a!--nos teus bra?os?Luza a enxada ou o gladio de destro?os!?A vida �� curta--e breves nossos passos,?E as flores vivem, crescem sobre os ossos!
E o ber?o n?o �� mais, �� creatura!?Que a linha d'uni?o �� sepultura!
�� preciso que a Morte, a d?r e os lutos?Se transformem em vinhas ostentosas,?Nossos prantos convertam-se nos fructos,?Do sangue dos heroes tinjam-se as rosas!
Soffrei, lutae, morrei, �� infelizes!?--O vosso sangue �� util ��s raizes!
*O OURO*
A Theophilo Braga
Dizia o ouro �� pedra;--Ente mesquinho!?Que profundo scismar sempre te pr��ga?�� beira d'uma estrada, ou d'um caminho,?Pasmada, mas sem ver, eterna cega?!
Em v?o o orvalho a ti te lava e rega!?Em ti n?o cresce nunca p?o, nem vinho,?Dura e inutil--o lodo �� teu visinho,?E o homem s��, por te pisar, t'emprega!
Em ti s�� medra e cresce o cardo os lixos!?Tu serves s�� d'abrigo ao lodo e aos bixos,?E ensanguentas os p��s descal?os, nus!
�� pedra! quanto a mim, sou a Riqueza!?--A cega disse, ent?o, com singeleza:?--Eu, tambem, guardo no meu seio a Luz!
*O BUDA*
(De Catullo Mend��s)
O Budha scisma, as m?os sobre os artelhos.
Aquelle ent?o que ouvira os seus conselhos?Diz:--Mestre! os que n?o foram resgatados?Do Mal, s?o como uns ceus anuviados!?Aos povos que d'aqui moram distantes,?Para que a Lei n?o errem, ignorantes,?Consente que affrontando os soes e os frios,?Montes, rochas, passando a nado os rios,?Teu grande dogma, �� Mestre, eu v�� pr��gando!...
--Mas se elles, corta o Budha venerando,?Te insultarem, eleito! que dir��s?
--Direi s��:--estas gentes n?o s?o m��s,?Pois vindo-lhes pr��gar de terra alheia,?N?o me atiram aos olhos com areia,?Nem me espancam e ferem com pedradas!
--Mas se as gentes, acaso, allucinadas?Te espancarem, causando graves damnos?
--Estes povos, direi, s?o muito humanos,?E ha do?ura n'aquelles cora??es;?Pois quando erguiam pedras e bast?es?Contra uma creatura t?o mesquinha,?N?o tiraram a espada da bainha.
--Se o ferro te ferir?
--S?o bons, de sorte?Que me ferem, sem querer-me dar a Morte!
--Se morreres?
--A morte �� grande esmolla!
--Vae pois, o Budha diz, salva e consolla!
*NO CALVARIO*
Maria com seus olhos magoados,?Ceus espirituaes, lavava em pranto?As largas chagas de Jesus, emquanto?Ria ao p�� um dos tres crucificados.
Semblantes de mulher mortificados?Escondiam a d?r no casto manto;?Uma mulher d'Hennon chorava a um canto,?Jogavam sobre a tunica os soldados.
Martha, os pingos de sangue, alva a?ucena,?Dir-se-hia no bom seio recolhel-os;?Alguns riam brutaes d'aquella pena!...
Salom�� tinha um mar nos olhos bellos;?Jo?o fitava a Cruz... Mas Magdalena,?Limpava a Christo os p��s com seus cabellos!
*H��LI! H��LI!*
Quando elle,
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 32
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.