Claridades do sul | Page 3

António Gomes Leal
com ella ��s tardes outomnaes;?De inverno n?o terei os consollos do lar,?Nem do estio a do?ura immensa do luar;?Meus filhos n?o ir?o j��mais colher os ninhos;?Ninguem vir�� �� tarde esperar-me nos caminhos!
*OS MONGES DE ZURBARAN*
(IMITADO DE TH. GAUTIER)
Monges de Zurbaran! �� magros solitarios,?Que ao longo deslisaes dos grandes claustros frios,?Correndo eternamente as contas dos rosarios!
Dos remorsos sentis os santos desvarios??Que mal vos fez a Carne, algozes de tonsura??Espectros monacaes cavados e sombrios?
Essa materia vil--que �� divina esculptura,?E que o Justo vestiu nas santas tradi??es,?Com que lei e raz?o �� que bradaes--Impura?
�� santos! eu entendo as allucina??es!?Os chumbos em fus?o, as abrasadas lenhas,?As grelhas, a pol��, e as fauces dos le?es!...
As rodas infernaes que rasgam as entranhas,?Tudo o que Roma ideou;--mas o que eu n?o entendo?�� o suicidio e a f�� sob essas estamenhas!
Por que pois, sempre assim, um suicidio horrendo??E toda a noute a carne, entre as vis disciplinas,?Dilacerar at�� o sangue ver correndo?
N?o s?o s�� as crueis macera??es mofinas,?E o continuo bater nos peitos angulosos,?Que em tuas letras s��, �� Christo! nos ensinas!
Julgais que Deus s�� quer aos grandes ulcerosos!?E que essa morte lenta, esse ar austero e grave,?Vos fa?a abrir mais cedo os ceus gloriosos?
Julgais que tal suicidio os grandes crimes lave??--Largae das magras m?os, unidas, as caveiras,?Vossas covas, mortaes, deixai que um outro as cave!
O espirito immortal ergue-se entre as fogueiras;?Mas continuo insultar a Carne com desdem,?�� rebaixar-te, �� Deus, a charlat?o de feiras!
E comtudo que for?a e que energia teem,?Esses monges de Deus, em vivo amortalhados,?A viver sem mulher, sem paes, e sem ninguem!
T?o mo?os! e, assim j��, t?o velhos e cavados!?Por horisonte um claustro e um muro,--indifferentes,?S��sinhos a resar ante os Crucificados!
Teus frades, Lesueur, s?o d'estes differentes!?O triste Zurbaran soube exprimir melhor?Os extases do olhar e as cabe?as doentes!
E a vertigem do ceu, o tedio, o desamor?Da Carne, que lhes d�� aureolas febris,--?E esse aspecto que faz gelar-nos de pavor!
Como o duro pincel lhes pinta a flor de liz?Dos cilicios! e a luz dos olhos mortecidos,?E essas rugas que os faz magros, sublimes, vis!
Como as pregas alonga aos habitos compridos!?Como ��s faces lhes cava a pallidez da terra,?Como se fossem j�� uns mortos estendidos!
Quando as viz?es do Ceu nos extases descerra,?Ao Crucifixo os p��s beijando solu?antes,?E a?outando-se qual o mar a?outa a serra!...
Ou quando passeaes pelos claustros gigantes,?Nem mesmo a propria sombra atraz deixando ao muro,?--Sempre, �� monges! vos pinta eguaes e semelhantes!
Com duas tintas s��--claro livido, e escuro,?S�� duas posi??es--a recta e a que inclina,?Pintou a vossa historia e o vosso viver duro!
A forma, o raio, a c?r, a luz que nos fascina,?Nada s?o para v��s, magros indifferentes,?Por que o Ceu vos desvaira e a Cruz vos allucina!
E assim mudos passaes nas Biblias reverentes...?Julgando sempre ouvir nos ceus que se descobrem,?Trovejar de repente as trombetas dos crentes.
�� monges! �� fieis! n?o entendeis o homem!?Talvez a herva cres?a, agora, em vossos peitos,?Pois bem, que dizeis hoje aos vermes que vos comem?
Que sonhos maus fazeis n'esses extremos leitos??Choraes o ter gastado o tempo que nos foge,?Entre essas solid?es e esses muros estreitos?!...
Monges, o que haveis feito, inda o farieis hoje?!
*A BELLA FLOR AZUL*
Quem saber�� ?signora? d'onde ter�� nascido esse bello lyrio branco? (Velha Comedia Italiana)
Eu n?o sou o fatal e triste Baudelaire;?Mas analyso o Sol e decomponho as rosas,?As rijas e crueis dahlias gloriosas,?--E o lyrio que parece o seio da mulher.--
Tudo que existe ou foi, morre para nascer;?Na campa d?o-se bem as plantas graciosas,?E, um dia, na floresta harmonica das Cousas,?Quem sabe o que serei quando deixar de ser!
A Morte sae da Vida--a Vida que �� um sonho!?A flor da podrid?o, o Bello do medonho?E a todos cubrir�� o mystico cypreste!...
E, �� minha Sphinge, a flor pallida e azul no meio,?Que hontem tinhas no baile, e que trouxeste ao seio?Levantei-a d'um ch?o onde pass��ra a Peste.
*HORA DO MEIO DIA*
J'��tois inquiet distrait, r��veur; j�� d��sirois un bonheur dont je n'avois pas l'ide��.?(Confessions de J.J. Rousseau)
--Sosinho no meu quarto retirado,--?Certas horas do dia calorosas,?Quando as flexas do Sol queimam as rosas,?Eu scismo no seu corpo esbelto e amado!
As curvas do seu collo assetinado,?Mais fino que o das rollas amorosas,?Dar-me-hiam as noutes voluptuosas?De que fallam os doutos do Peccado.
Mas, no emtanto, l�� fora o sol adusto?Queima as campinas e o alde?o robusto;?V?am abelhas a colher o mel.
E eu cheio de tristeza e d'anciedade,?Continuo a scismar--como um abbade--?Na Virgindade olympica e cruel.
*CANTIGA DO CAMPO*
Como eu adoro as tuas ?simplicidades!??(Heine)
Por que andas tu mal commigo??�� minha doce trigueira??Quem me dera ser o trigo?Que, andando, pisas na eira!
Quando entre as mais raparigas?Vaes cantando entre as searas,?Eu choro ao ouvir-te as cantigas?Que cantas nas noutes claras!
Os que andam na descamisa?Gabam a violla tua,?Que, ��s vezes, ou?o na brisa?Pelos serenos da lua.
E fallam com tristes vozes?Do teu amor singular?��quella casa onde cozes,?Com varanda para o mar.
Por isso nada me medra,?Ando curvado e sombrio!?Quem
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 32
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.