Claridades do sul | Page 2

António Gomes Leal
ideal do escudo de Membrin.
Paravam alde?es, lavradores crestados;?Vinham �� porta as m?es, fiando o linho fino;?E os magros charlat?es viam passar, pasmados,?Na sombra d'um cavallo o extremo paladino.
Dan?avam os tru?es; as sujas enxurradas?Com a lodosa voz, perguntavam: Que �� isto?--?Satan n'um corucheu, dizia ��s gargalhadas:?--�� campe?o do Bem! �� victima do Christo!
*O PUBLICANO*
Ils erraient sales et immonds, et avaient des d��votions hypocrites (Dubois)
Um gra? doutor da Lei dizia ao publicano,?Junto ao atrio do templo, em tempos da Judea,?Tambem tu vens orar, publicano sereia,?A tua casa ardeu, ou deu na vinha o damno?
Jejuas tu agora e resas todo o anno,?Tu que levas o pobre e o orph?o �� cadeia,?Que tiras �� viuvez o p?o, o leito, e a teia,?Tu que ��s avaro e vil, pag?o como um Romano?!
Que n?o resas como eu, que nunca vi desfeito?Dos compridos jejuns, nem macerar o peito;?E que hospedas Satan, como o antigo Saul!
N?o v��s como estou sempre erguendo ao Ceu os bra?os??--O publicano ent?o, disse, olhando os espa?os:??Tambem os po?os s?o voltados para o Azul!?
*A LYRA DE NERO*
Nos seus jardins pag?os, entre archotes humanos,?Na lyra de marfim sobre as cordas douradas,?Nero vinha cantar ��s noutes estrelladas,?Elegias d'amor e canticos thebanos.
Essa lyra do Mal que ouviram os romanos,?Que cantou entre o fogo, as casas abrazadas,?E os lutos, os tru?es, as ceias depravadas,?Que mysterios n?o viu, medonhos e profanos!
E, no emtanto, apesar da sua historia triste,?Se os tempos tem corrido, a Lyra ainda existe?Do devasso real, do lyrico histri?o...
Seu canto inda nos prende e ouvimol-o sem susto,?E, �� Terror! �� Terror! eu que amo o Forte e o Justo,?--Ou?o-o ��s vezes tambem, dentro do cora??o!
*MYSTICISMO HUMANO*
Sunt lacrimae rerum...?(Virgilio)
A alma �� como a noute escura, immensa e azul,?Tem o vago, o sinistro, e os canticos do sul,?Como os cantos d'amor serenos das ceifeiras?Que cantam ao luar, �� noute pelas eiras...?��s vezes vem a nevoa �� alma satisfeita,?E cae sombria, vaga, e meuda e desfeita...?E como a folha morta em lagos somnolentos?As nossas illus?es v?o-se nos desalentos!
Tem um poder immenso as Cousas na tristeza!?Homem! conheces tu o que �� a natureza?...?--�� tudo o que nos cerca--�� o azul, o escuro,?�� o cypreste esguio, a planta, o cedro duro,?A folha, o tronco a flor, os ramos friorentos,?�� a floresta espessa esguedelhada aos ventos;?N?o entra o vicio aqui com beijos dissolutos,?Nem as lendas do mal, nem os choros dos lutos!...
--E os que viram passar serenos os seus dias...?E curvados se v?o, ��s longas ventanias,?Cheio o peito de sol, atravez das florestas,?�� calma do meio dia... e dormiam as sestas,?Tranquillos sobre a eira, entre as hervas nas leivas...?V?o cansados depois, entre os ramos e as seivas,?Outra vez sob o Sol--a sua eterna cren?a!--?Em fructos resurgir �� natureza immensa,?E, aos beijos do luar, descansarem felizes,?Da bem amada ao p��, no meio das raizes!
Morrer �� livramento! oh deve saber bem?Sentir-se dilatar na Natureza m?e!?Ser tronco, ramo ou flor, nuvem, herva ou alfombra,?A rosa que perfuma, a arvore que d�� sombra!?Estremecer na encosta ��s nocturnas geadas,?E recortar o azul das noutes constelladas!
Oh pelo claro azul d'essas noites serenas,?Que o segador trigueiro ent?a as cantilenas,?Tristes como a lua e o espinho dos martyrios,?E que atravez do azul parecem cair lyrios!...?Quando a brisa levanta as folhas indiscretas,?Noivam os rouxinoes e se abrem as violetas...?E a Natureza tem como um sabor de beijos,?Que obriga a solu?ar a alma de desejos!...
Que segredos dir?o nas brisas mensageiras,?�� do?ura da lua, a flor das larangeiras,?O lyrio, a madresilva, os jasmins vacillantes,?Que foram j��, talvez, seios fortes e amantes,?E que hoje' �� branca luz dos myrthos sideraes,?Conversam sobre o amor e os gosos ideaes?Do tempo, que a fallar corriam breve as horas,?Que seus olhos leaes tinham a c?r d'amoras,?E debaixo do Ceu teciam longas dan?as,?Ao p�� da amante meiga e de compridas tran?as!...
No lago somnolento a flor do nenuphar?Talvez �� um cora??o que abre para chorar!?O lyrio um seio bom,--e as violetas curvadas?S?o os olhos talvez das doces bem amadas!...
Feliz o semeador que vive entre os arados,?O campo, os lentos bois, longe dos povoados,?Entre os rijos irm?os humildes e trigueiros,?Que vivem sob o sol, �� chuva, aos nevoeiros,?E quando �� noute finda os suarentos trabalhos,?Vem a doce mulher buscal-o nos atalhos,?Cujo olhar como a lua �� tranquillo e consola,?E descanta chorando �� noute na viola!...
E os que andam pelo mar, alegres e contentes,?Entre as ondas e o Ceu, saudosos, negligentes,?Entre os cantos do vento, olhos fitos nos ceus,?Entre o azul, o escuro, e os frios escarceus,?Hombro a hombro o abysmo,--abysmo sempre aos p��s,?Que dormem �� poesia, �� lua das mar��s,?E morrem uma noute, �� mar, aos teus emballos,?Deixando uns olhos bons e meigos a choral-os!
Eu por mim n?o terei um astro bom nos Ceus,?Nem uns olhos leaes que chorem pelos meus,?E que inda a fronte mal me obscure?a a magoa,?Como espelhos d'amor j�� sejam rasos d'agua!...?S��sinho passarei, e n?o irei j��mais,?Pelas murtas
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