Mas, no emtanto, lá fora o sol adusto
Queima as campinas e o aldeão
robusto;
Vôam abelhas a colher o mel.
E eu cheio de tristeza e d'anciedade,
Continuo a scismar--como um
abbade--
Na Virgindade olympica e cruel.
*CANTIGA DO CAMPO*
Como eu adoro as tuas «simplicidades!»
(Heine)
Por que andas tu mal commigo?
Ó minha doce trigueira?
Quem me
dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Quando entre as mais raparigas
Vaes cantando entre as searas,
Eu
choro ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noutes claras!
Os que andam na descamisa
Gabam a violla tua,
Que, ás vezes,
ouço na brisa
Pelos serenos da lua.
E fallam com tristes vozes
Do teu amor singular
Áquella casa onde
cozes,
Com varanda para o mar.
Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!
Quem me dera
ser a pedra
Em que tu lavas no rio!
E andar comtigo, ó meu pomo,
Exposto ás chuvas e aos soes!
E
uma noute morrer como
Se morrem os rouxinoes!
Morrer chorando, n'um choro
Que mais as magoas consolla,
Levando só o thesouro
Da nossa triste violla!
Por que andas tu mal commigo?
Ó minha doce trigueira?
Quem me
dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
*A AGUIA*
No tempo em que era a grande deusa viva
Os deuzes, os heroes e as
Musas bellas,
Dizia uma aguia velha e pensativa,
Que fizera a
viagem das estrellas:
--Vão-se indo as tradições! e hão-de ir com ellas
Apollo, Jove,
Vichnou e Siva!
Um astro é grão de luz; o mar saliva
De ti ó grande
Pan!... Só Pan tu vellas!...
Mas quando assim fallava a aguia, eis quando
Se ouviu aquella voz
triste bradando
Na Sicilia: _Morreu o grande Pan_!
Epheso estremeceu, carpiu Eleusis;--
Mas a aguia velha
gargalhou:--Ó deuses!
_Qual será o deus novo de ámanhã_!
*ACCUSAÇÃO Á CRUZ*
Ainsi lirat-il les artiques vérités, les tristes vérités, les grandes, les
terribles vèrités.
(De Quincey)
Ha muito, ó lenho triste e consagrado!
Desfeita podridão, velho
madeiro!
Que tens avassalado o mundo inteiro,
Como um pendão
de luto levantado.
Se o que foi nos teus braços cravejado
Foi realmente a Hostia, o
Verdadeiro,
Elle está mais ferido que um guerreiro
Para livrar das
flexas do Peccado.
Ha muito já que espalhas a tristeza,
Que lutas contra a alegre
Natureza,
E vences ó Cruz triste! Cruz escura!
Chega-te o inverno, symbolo tremendo!
Queremos Vida e
Acção--Fica-te sendo
Um emblema de morte e sepultura!
*LUTHERO*
Ah, és tu diabo?...
(Lenda mouacal)
Luthero, o frade austero e macilento,
Encontrou a Satan dormindo um
dia,
N'uma rua d'Erfurt, á ventania,
Envelhecido, calvo e vinolento.
Dorme! gritou-lhe o frade... a teu contento,
Guloso Pae da Indigistão,
da Orgia!
Renunciaste as lições de theologia,
Ó velho corvo mau do
Firmamento?!
O mundo como tu é calvo e velho;
A Egreja é o lupanar do
Evangelho;
E tu ó ébrio, gulotão, descanças!?...
Satan, olhando o azul, disse:--As estrellas
Vão pelo Ceu tão baças,
amarellas,
Deus já deixou enferrujar as lanças!
*A TERRA*
Fecundarás a terra com o suor do teu rosto.
Cavae, eternamente, a velha terra!
Soffrei, suae, gemei na dura
enxada,
Fecundae-a na paz ou pela guerra,
Quer seja pelo arado ou
pella Espada,
Ó Homem! trabalhar é tua herança
Até que a Morte, emfim,
grite--descança!
É a Arvore a tua companheira
O lar, a tenda, a sombra de teus passos,
Da tua amante a perfumada esteira,
Como bençãos t'estende os
longos braços!
E ou seja em teu inverno, ou teu estio,
E teu berço, teu leito, e teu
navio!
É preciso que as lagrimas que correm
Façam crescer dos cardos os
trigaes,
E por cima dos corpos dos que morrem
Se ergam verdes
loureiros triumphaes!
É preciso que em paz ou pela Guerra,
Com pranto, ou sangue se
fecunde a Terra!
É preciso caval-a!--nos teus braços
Luza a enxada ou o gladio de
destroços!
A vida é curta--e breves nossos passos,
E as flores vivem,
crescem sobre os ossos!
E o berço não é mais, ó creatura!
Que a linha d'união á sepultura!
É preciso que a Morte, a dôr e os lutos
Se transformem em vinhas
ostentosas,
Nossos prantos convertam-se nos fructos,
Do sangue
dos heroes tinjam-se as rosas!
Soffrei, lutae, morrei, ó infelizes!
--O vosso sangue é util ás raizes!
*O OURO*
A Theophilo Braga
Dizia o ouro á pedra;--Ente mesquinho!
Que profundo scismar
sempre te préga
Á beira d'uma estrada, ou d'um caminho,
Pasmada,
mas sem ver, eterna cega?!
Em vão o orvalho a ti te lava e rega!
Em ti não cresce nunca pão, nem
vinho,
Dura e inutil--o lodo é teu visinho,
E o homem só, por te
pisar, t'emprega!
Em ti só medra e cresce o cardo os lixos!
Tu serves só d'abrigo ao
lodo e aos bixos,
E ensanguentas os pés descalços, nus!
Ó pedra! quanto a mim, sou a Riqueza!
--A cega disse, então, com
singeleza:
--Eu, tambem, guardo no meu seio a Luz!
*O BUDA*
(De Catullo Mendés)
O Budha scisma, as mãos sobre os artelhos.
Aquelle então que ouvira os seus conselhos
Diz:--Mestre! os que não
foram resgatados
Do Mal, são como uns ceus anuviados!
Aos
povos que d'aqui moram distantes,
Para que a Lei não errem,
ignorantes,
Consente que affrontando os soes e os frios,
Montes,
rochas, passando a nado os rios,
Teu grande dogma, ó Mestre, eu vá
prégando!...
--Mas se elles, corta o Budha venerando,
Te
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