Chronica de el-rei D. Affonso Henriques | Page 6

Duarte Galvão
mais Chronicas manuscritas dos nossos Reis, e entre ellas a de
El-Rei D. João o II que escreveu Ruy de Pina, tão rara como desejada.

Vale.

PROLOGO
DO AUTHOR
Dirigido ao Serenissimo, e Muito Poderoso Principe El-Rei D. Manoel
nosso Senhor, sobre as vidas, e excellentes feitos dos Reis de Portugal,
seus Antecessores, ordenados, e escritos por seu mandado, por Duarte
Galvão Fidalgo da sua Casa, e do seu Conselho, no qual falla do grande
louvor destos mesmos Reis de Portugal.
Muito devem, Serenissimo Senhor, trabalhar os homens, por em sua
vida obrarem virtudes, para que mereçam a Deos no outro mundo, e
neste leixem de seu tempo memoria, não sómente, que viveram o que
as animalias tem por igual comnosco; mas que bem, e louvadamente
passaram sua vida, que é proprio do homem, o qual tendo a vida, em
dias breve, com a virtude que obra, a faz longa, e durar mais des que
morre, vivendo depois de morto no outro mundo, por gloria, e neste por
exemplo assi, que para nós necessario nos é nossa virtuosa vida, e para
os outros nossa virtuosa fama; esto como quer que convem a todos,
muito mais cabe em os Principes, e Reis faze-lo, cuja maior excellencia
de seu nome traz logo maior obrigação de seu carrego, que é serem
Reis postos por Deos, para regedores principaes na terra sobre os outros
homens para execução, e exemplo de toda perfeita virtude, mas pois
que toda desposição para obrar virtudes por muito que naça com a
pessoa não póde ser comprida, nem haver perfeição senão por ajuda, e
graça Divinal. Grandes e perpetuos louvores devem ser dados a nosso
Senhor, por todos os naturaes do Reino de Portugal, por tanto participar
de sua graça, com os Reis vossos Antecessores, e com vossa Real
pessoa, com tão clara mostrança de os querer honrar, e escolher para
seu santo serviço, exalçamento da sua Santa Fé, de maneira, que para se
mais mostrar que vinha delle, e por elle, segundo em seus grandes
mysterios sempre neste mundo, até em si mesmo escolheo o menos,
para fazer, ou desfazer o mais, e o baixo para se fazer conhecer por
mais alto, lhe aprouve dar graça, e poder a vossos Antecessores por

onde no Reino, e senhorio menos de outros que vemos na Christandade,
alcançáram por suas louvadas famas, e obras, em todo o genero de
louvor, e virtudes grande, e assinado merecimento para o outro mundo,
e neste muita honra, fama, e proveito, para sua Real Coroa, e de seus
Reinos, e esto então poucas idades, que se as contarmos parece mui
pouco tempo, e segundo a grandeza de suas obras julgar-se-ha por
infindo, querendo nosso Senhor que assi como no desejo, e fervor de
serviço em especial de punhar pela Fé vossos Antecessores fossem
sempre mui singulares, assi fosse singular antre os outros Principes
nesta parte, e em outra seu louvor, remunerando-lhes nosso Senhor
nisso seus grandes merecimentos como hoje em dia faz a vossa Real
Alteza, segundo se grandemente manifesta no grande louvor, e não
menos mysterio de vossas mui louvadas, e excellentes obras, as quais
bem condradas concludem, e claramente mostram não menos, que
vosso Divino nome ser Deos comnosco, e com o bem destes Reinos
mais que de antes, dando-vos nellos para o diante como fruito mostrado,
e prometido, no grande emflorecer de vossos Antecessores, escuza-me,
Senhor, de ser, nem parecer adulação o que digo.
Primeiramente vossa successão nestos Reinos por nosso Senhor tão
claramente querida, e ordenada levando para si tantos, que vos nella
precediam, segundo seus ocultos Juizos, porém sempre justos, e
escuza-me o grande fervor, que logo poz em vosso virtuoso coração
para seu serviço, em tirar Judeus, e Mouros destos Reinos por tal, que
lançado fóra todo Judaico, e Mosometico culto, ficasse só o verdadeiro
de sua Christã Religião, e escuza-me esso mesmo vossa perseverante
devação, e cuidado, em proseguir, e obrar por mar, e terra, guerra
contra Mouros, em as partes Dafrica, do que não satisfeito vosso
manhanimo coração, e desejo, que sempre ha por menos o muito de tão
santas emprezas, não leixou de mandar a Levante por mar Armada de
mui nobre gente, maior do que des memoria de homens, sem Rei saio
destes Reinos em soccorro da Christandade contra os Turcos, e por
Capitão della D. João de Menezes Conde de Tarouca vosso Mordomo
Mor, e Capitão da Cidade de Tanger, mui dino de semelhantes, e
maiores encargos por sua singular cavalaria, e prudencia. Escuzo-me
finalmente antes, e depois desto, a grande maravilha, e mysterio, do
achamento, ou mais com verdade conquista das Indias; nunca esperado,

nem cuidado pelas gentes, até que se vio feito por vosso mandado, e
posto por obra, e assi descobrimento de minas, terras outras, mares,
climas, polos, e gentes inconhitas, nunca de
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