Chronica de el-rei D. Affonso Henriques | Page 5

Duarte Galvão
Copiada
do Seu Original, que se conserva no Archivo Real da Torre do Tombo.
OFFERECIDA
Á MAGESTADE SEMPRE AUGUSTA DELREI D. JOAÕ V.
NOSSO SENHOR
POR MIGUEL LOPES FERREYRA
LISBOA OCCIDENTAL, Na Officina FERREYRIANA.
M. DCC. XXVI.
Com todas as licenças necessarias.

SENHOR
Prostrado aos Reais pés de V. Magestade, lhe offereço a Chronica do
Fundador da sua gloriosa Monarchia o Santo Rei D. Affonso Henriques
decimo quinto Avô de V. Magestade, que ha mais de dous seculos
escreveo Duarte Galvão, tão estimado dos Senhores Reis de Portugal,
como dizem os grandes lugares, em que o occuparam, especialmente o
Senhor Rei D. Manoel quinto Avô de V. Magestade, em cujo Reinado
se vio com maior admiração a grande capacidade deste Chronista.
Aceite V. Magestade com a sua Real, e costumada benignidade este
meu pequeno obsequio, para que desta sórte animado possa continuar
com a impressão das outras Chronicas dos Serenissimos Predecessores
de V. Magestade. Deos guarde a V. Magestade muitos annos como
desejamos, e havemos de mister.

Miguel Lopes Ferreira.

AO EXCELLENTISSIMO SENHOR
*FERNÃO TELLES DA SILVA*
Marquez de Alegrete, dos conselhos de Estado, e guerra del-Rei Nosso
Senhor, Gentil-homem de sua Camara, Vêdor de sua fazenda,
Embaixador extraordinario á Corte de Vienna, ao Serenissimo
Emperador Joseph, e Condutor da Serenissima Rainha Nossa Senhora a
estes Reinos, Academico, e Censor da Academia Real da Historia
Portuguesa, &c.
Depois de ter resoluto dedicar esta Chronica del-Rei D. Affonso
Henriques a El-Rei Nosso Senhor, não podia ter duvida em que fosse
Vossa Excellencia quem lha offerecesse em meu nome. Se para se
consultarem os Oraculos, se procuravam aquellas pessoas, que eram
dedicadas aos Templos em que elles respondiam, justamente dezejo a
protecção de Vossa Excellencia para um Oraculo tão Soberano, que o
merece ser de todo o mundo. A proporção é o que mais se deve de
procurar, e sendo assim, não póde Vossa Excellencia accuzar a
confiança, com que lhe peço, offereça este livro a S. Magestade que
Deos guarde, pois é para este fim um meio tão proporcionado, que o
mesmo Principe elegeo a Vossa Excellencia para lhe assistir com a
pessoa no seu Palacio, e com as prudentes experiencias do seu grande
entendimento aos negocios mais importantes de toda a Monarchia.
Deos guarde a Vossa Excellencia muitos annos como desejo.
Criado de Vossa Excellencia
Miguel Lopes Ferreira

MIGUEL LOPES FERREIRA
AO LEITOR

Pela Chronica do primeiro Rei de Portugal começo a satisfazer a
promessa de dar ao prelo todas as Chronicas dos nossos Reis, que até
agora se conservavam manuscritas. Esta do fundador glorioso do
Imperio Portuguez tem mais de dous seculos de antiguidade, porque
seu Author Duarte Galvão falleceu na Ilha de Camarão a 9 de Junho do
anno de mil e quinhentos e dezasete. A authoridade de quem a escreveu
não é menor, porque o Pai deste Chronista foi Ruy Galvão, Secretario,
e Escrivão da Puridade de El-Rei D. Affonso V. de Portugal, lugares
tão grandes, e tão immediatos á Magestade, que suppõem illustre a
quem os exercita. Duarte Galvão seu filho foi do Conselho dos Reis D.
João o II e D. Manoel, Chronista Mór do Reino, Alcaide Mór de Leiria,
doutissimo nas Letras humanas, e Embaixador a França, e Alemanha, e
ultimamente ao Preste João, levando em sua companhia ao Embaixador
Matheus, que da Corte do Abexim tinha passado á de Portugal,
vencidas, e compostas as injustissimas duvidas da sua verdade. O irmão
deste Chronista foi D. João Galvão, que depois dos maiores lugares da
Congregação de Santa Cruz de Coimbra, sendo Bispo da mesma
Cidade, lhe fez mercê El-Rei D. Affonso V do Titulo de Conde de
Arganil, que até agora se conserva nos seus Successores, e desta Mitra
passou para a de Braga. Nesta Historia se acham alguns pontos
encontrados com a verdade, o que de nenhum modo se deve de attribuir
a malicia do Author senão a que naquelle tempo devia de ser esta a
tradição, que havia entre nós mal fundada no principio, e peior
continuada na boca dos que a passavam a outros, em que como é
natural, cada dia se vai desfigurando, e perdendo a sua fórma
verdadeira. Estes descuidos emendou doutissimamente o Doutor Fr.
Antonio Brandão na Terceira Parte da Monarchia Lusitana, porque
examinou a verdade no segredo dos Cartorios, em que estava sepultada.
Algumas pessoas me aconselhavam, que lhe fizesse notas, porém segui
o parecer de outras, que assentáram, que como esta Chronica se
imprimia para os que sabem, elles não ignoram pela lição de Fr.
Antonio Brandão, o que é tradição errada. Sahe pois a Chronica de
El-Rei D. Affonso Henriques da sórte que a escreveu Duarte Galvão, e
lhe fiz o beneficio de lhe ordenar um Index para utilidade de todos.
Agradeça o leitor o meu cuidado, que brevemente lhe darei impressas
todas as
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