Bases da ortografia portuguesa | Page 5

Guilherme Abreu
Ninguém pode contestar o direito de se pronunciar _trouxe:
trou[.x]e, trouce; extravagante: eistravagante, istravagante, 'stravagante;
fixo: fi[.x]o, ficso, ficço_.
III--DOS DITONGOS
Pelo que fica dito se vê qual a maneira por que indicamos a dissolução
do ditongo. Não usamos da _diérese_, também chamada _ápices_, e
mais jeralmente trema ¨, que alguns gramáticos entre nós querem que
se use na vogal prepositiva ou conjuntiva, e no u das prolações, para
neste caso mostrar que faz sinérese com a voz seguinte.
O trema é sinal que nos veiu de países estranhos. Tem na escrita de
línguas europeas significação insubstituível; que nas jermánicas é
fórma abreviada de um e, e nesta significação únicamente o
empregamos.
IV--DA SILABIZAÇÃO

Em quanto à sibalizacão devemos mencionar aqui apenas os tres
seguintes princípios:
1.º Dividem-se as sílabas, considerando os vocábulos como
portugueses para êste efeito, sem que se atenda à derivação de língua
estranha, nem à derivação dentro da própria língua: _ma-nus-cri-to,
cons-pí-cu-o, obs-tá-cu-lo, ins-cre-ver, no-ro-es-te, nor-des-te,
pla-nal-to, a-lhei-o, mai-or, mai-o-res_.
2.º Conserva-se à sílaba a consoante que determina a modulação da sua
vogal (paj. 11, _c)_): _ac-ção, fac-tor, cor-rec-to, bap-tis-mal_.
3.º Na passajem de uma para outra linha empregamos em ambas as
linhas o _traço de união_, tanto o próprio de vocábulos compostos
cujos símplices se distingam na escrita entrepondo-se-lhes o _hífen_,
como o próprio da ligação das vozes enclíticas às suas subordinantes:
_porta--bandeira, guarda--fato, clara--boia; luso--brasileiro; deu--m'o,
louva--lhe, démo'--lo, louva--o, louvá--lo, arrepender--se,
domá--lo--ia_.
V--DOS HOMÓNIMOS E PARÓNIMOS
1.º Os homónimos confundem-se umas vezes na escrita do português
como na sua pronúncia; exemplos: cedo (verbo e advérbio); conto
(verbo e nome): _são_ (verbo e adjectivo). Outras vezes distinguem-se
com exactidão na escrita, embora não se distingam em todas as
pronúncias; exemplos: _vez, vês; cem, sem; coser, cozer; sessão, cessão;
-passo, paço_,--parónimos no dialecto em que se faça diferença na
articulação de s para a de _ç_ e para a de z. Podem aínda os homónimos
distinguir-se na escrita e não se distinguirem em pronúncia nenhuma:
_houve, ouve; dê-se, dêsse_.
_Escólio._--Distinguem-se na escrita, mas sem exactidão rigorosa:
_hora, ora; heis, eis_; e por êrro de analojia falsa, pelo cuja orijem é
_per-lo_, que deu pel lo e _pe'-lo_ homónimo, quando se pronuncie
enfáticamente, de pello, que etimolójicamente só tem um l e devemos
escrever (como de facto se escreve nesta ortografia proposta) _pêlo_ (cf.
_pélo, pelo_).

2.º Os parónimos são perfeitamente distintos na presente ortografia:
_pelo, pêlo, pélo; para, pára; crê, cré; cesto, sexto_ (homónimos em
Lisboa); _fôsse, fósse; fôrça, fórça; sessão, cessão, secção; coando,
quando; quanto, canto; credor, crèdor; incómodo, incomodo; colhêr,
colhér; contrato, contracto; alias, aliás; alem_ (verbo), _além; papeis_
(verbo), _papéis; reis_ (pl. de _rei_), _réis_ (pl. de _real_); bateis
(verbo), _batéis; caia, caía_; etc.
VI--DOS SUFIXOS
Conservamos toda a exactidão na ortografia dêstes elementos
morfolójicos cuja função anda tão ignorada. Pululam os galicismos, os
estranjeirismos, até na ortografia da nossa linguajem e na sua
morfolojia, que não só em se introduzirem vocábulos novos
desnecessários, e em se esquecer a sintaxe dela.
É êrro escrever-se _civilisação_ por _civilização, organisar_ por
_organizar; chapeleria_ por _chapelaria; cortez_ por _cortês_; etc.
VII--DA COMPOSIÇÃO, DA PERÍFRASE, E DAS ENCLÍTICAS
Dissemos o bastante acêrca do primeiro e terceiro dêstes pontos. Em
quanto à perífrase, diremos que as linguajens perifrásticas dos verbos
são diferenciadas em linguajens de perífrase consciente e perífrase
inconsciente.
É linguajem perifrástica consciente a formada com o presente do verbo
haver. Escrevemo-la, pois, sem hífen de ligação: _descrevê-lo hei,
louvá-la has, dar-lh'o ha, amar-nos hemos, unir-vos heis, receber-se
hão_.
É linguajem perifrástica inconsciente, com tmese evidente, a formada
com um resto do pretérito imperfeito do verbo _haver: -ia_ = (hav)_ia,
-ias_ = (hav)_ias, -ia_ = (hav)_ia, -íamos_ = (hav)_íamos, -íeis_ =
(hav)_íeis, -iam_ = (hav)iam. Escrevemos estas linguajens sem o h,
perdido com os outros elementos de _hav-_, em todas as pessoas do
pretérito imperfeito do verbo haver, que entra na perífrase. Exemplos:
_descrevê-lo-ia, deixar-me-ias, aborrecê-la-ia, evitá-lo-íamos,

comportar-vos-ieis, obedecer-lhe-iam_.

III
O NOSSO INTUITO
Se quiséssemos entrar em minudéncias de linguajem e defender em
todos os pontos a ortografia que iniciámos, teríamos de escrever um
livro de grosso volume. Se o nosso intuito fôsse ensinar, publicaríamos
um tratado. Mas é diferente o fim dêste escrito, que oferecemos
gratuitamente aos nossos conterráneos, como testemunho de respeito
pelas cousas da nossa pátria: _Damos razão da reforma iniciada e
sujeitamos ao são critério as bases em que esta assenta_. Por êste
motivo deixámos de tratar pontos de que o Congresso terá de se ocupar.
Andam infelizmente esquecidas por alguns escritores regras de
gramática, que, a serem lembradas, os não deixariam cometer erros
imperdoáveis. Temos visto ortografar (e até pronunciar!!), _passeiando,
passeiata, ideiou, receiará, feichara_, etc., em vez de _passeando,
passeata, ideou, receará, fechara_, etc. É certo que a maioria dos
leitores sabe que, por motivo de a acentuação tónica se fazer nas tres
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 10
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.