Bases da ortografia portuguesa | Page 4

Guilherme Abreu
ch, transcrição latina do [Greek: ch], grego?
3.º _Escólio_.--Só ao Congresso compete tratar da exclusão ou
conservação da aspirante h.
II b.--ADOPÇÃO DE LETRAS CONSOANTES
_a)_--1.º Escrevem-se com ch as sílabas que são proferidas com palatal
dura, segundo os dialectos, explosiva ou contínua: _chave, chapeu,
chuva_; etc. A etimolojia e as línguas conjéneres determinam que

sigamos o exemplo dos nossos clássicos e de vários monumentos
escritos usando-se da grafia ch.
2.º Escrevem-se com x (melhor seria _[.x]*_) as sílabas cuja inicial
palatal é dura contínua: _xacoco, xadrez, xarafim; enxárcia, enxada,
enxêrga, enxérga, enxertia, enxaimel, enxame, enxúndia; rixa, roixo;_
etc. Cf. _d)_.
3.º Escrevem-se com s as sílabas cuja final é sibilante dura palatal e,
esporádicamente, sibilante dura dental: _mas; basta; foste; démos,
dêmos; bosques; português, portugueses_; etc. A etimolojia, o dialecto
transmontano e as línguas conjéneres determinam a grafia s.
4.º Escrevem-se com s inicial, ou com ss entre vogais, as sílabas em
que a sibilante dura é ou dental, ou supra-alveolar, conforme os
dialectos: _saber, classe, diverso, sessão, conselho, sossêgo, sosségo_,
etc. Determinação histórica e comparação.
5.º Escrevem-se com _ç_, ou com _c_(_e, i_), inicial as sílabas em que
a sibilante é dental dura, e só é supra-alveolar nas partes do país onde
não ha outra sibilante dura inicial: _peço, ciéncia, concelho, poço,
doçura, preço, çapato, çarça, cárcere_, etc. Determinação histórica e
comparação.
6.º Escrevem-se com s entre duas vogais (uma final da sílaba a que
pertence a sibilante, outra final da sílaba precedente) as sílabas em que
a sibilante é branda dental ou, segundo o dialecto, supra-alveolar:
_posição, coser_ (consuere), _precioso, preso_ (prehensum, cf.
_prezo_), _preciso, pêso, péso_, etc. Determinação histórica e
comparação.
7.º Escrevem-se com z inicial as sílabas em que a sibilante é dental
branda em todo o país, à excepção daqueles pontos em que se não
profere sibilante inicial senão supra-alveolar: _azêdo, azédo, azebre,
razão, cozer, prezo_ (cf. _preso_), etc. Determinação histórica e
comparação.
8.º Escrevem-se com z final os vocábulos que nos seus derivados são

escritos com c (_e, i_) correspondente à sibilante final deles. Assim o
determina a etimolojia, evidente na derivação, e a pronúncia dialectal.
Exemplos: _infeliz, infelicidade; símplez, símplices, simplicidade;
ourívez, ourivezaria_; etc.
_Corolário_.--Escrevem-se com z infixo os diminutivos e aumentativos
_zito, -zinho, -zão_, etc., e os sufixos (derivados do latino _-itia_) _-eza,
-ez_; bem como os sufixos de verbos, _-izar_, e de nomes, _-ização_.
_Escólio_.--Os plurais dos nomes diminutivos formam-se do tema do
plural do nome fundamental e do plural do sufixo. Dão testemunho os
dialectos. Assim, pois, escrevemos: _homemzinho, homemzinhos_, não
_homensinhos; acçãozinha, acçõezinhas_, não _acçõesinhas; pãozinho,
pãezinhos_, não _pãesinhos; mãozinha, mãozinhas; aneizinhos_; etc.
_b)_--1.º Adoptámos, pelo que fica dito em _a)_ 3.º, a representação
gráfica s para a sibilante palatal dura final de sílaba, que muitas pessoas
julgam ser absolutamente igual a x (_[.x]*_).
2.º Por falta mais grave na observação se tem confundido as
articulações _g_(_a_), _g_(_ue, ui_), _j_(_a_), _j_(_e, i_), e ainda
_c_(_a_), _q_(_ue, ui_). Os pontos articulatórios são diferentes. No
congresso trataremos estes assuntos. Carecemos de caracteres próprios
para distinguir na escrita as articulações _j_(_a_), _g_(_e, i_), _j_(_o,
u_), nas palavras _Jacob, Jeremias, José, Jesus, Jutlandia, Jerusalem,
geme, gemer, gentes, gymnasio, Gil_; etc.; e é certo que não podemos,
tão pouco, distinguir _Guilherme, guerra, garra, gume_, causando
estranheza invencível a grafia _Geremias, Gesus_, e ficando aínda
infiel _gemer, geral_, e sempre em contradição com uma pronúncia
_Gèrusalém_ ou _Jerusalém_; tendo nós, pois, de escrever _Jeremias,
Jesus_, adoptámos o símbolo j para os fonemas articulados das sílabas
_ja, jo, ju, ge, gi_, e por êste sistema gráfico evitamos também regra
especial para a conjugação dos verbos em (_-ger, gir_) _-jer, -jir_.
_Escólio_.--É evidente (pelo que fica dito em _b)_ 2.º) a necessidade
aínda existente de mantermos o modo de escrever _gue, gui_, nas
sílabas terminadas na vogal palatal i ou e, precedida do fonema gutural
brando, mostrando-se pelo acento grave sôbre o u da prolação _gùe,

gùi_, as silabizacões _gu-e, gu-i_, como fica dito em 4.º de páj. 7.
_c)_ Conservamos todo sinal gráfico de fonema histórico, hoje nulo,
cuja influéncia na vogal precedente é persistente: _acção, actor,
predilecção, redacção, respectivo, trajectória, baptismo, concepção_; e
aínda quando é facultativa a pronunciação, como em _carácter._
_Escólio_.--Os fonemas _i, u_, não estão sujeitos a esta influéncia:
edito = edicto (cf. _édito_); corruto = _corrupto_; _corrução_ =
_corrupção_.
_d)_ Conservamos a grafia x para representar os diferentes fonemas
que de facto representa na língua portuguesa, porque não temos direito,
nem Congresso nenhum, de impor pronúncia pela ortografia. O
Congresso poderá assentar as bases para o dicionário ortoépico; e no
tocante a pronúncia nada mais pode fazer--estabelece o padrão, dá a
norma--para que se dilijenceie ler dum modo único o vocábulo escrito.
Ninguém pode contestar o direito de se pronunciar o vocábulo exemplo
de uma das seguintes maneiras: _izemplo, isemplo, eizemplo, eisemplo,
isjemplo_.
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