Bases da ortografia portuguesa | Page 3

Guilherme Abreu
exposição doutrinal os terá notado o leitor, pois que saltam à vista,
sempre como excepção, as dições cuja grafia é acentuada.
6.º Os vocábulos terminados em outra qualquer vogal (_i, u_), ou em
vogal pura seguida de outra consoante que não seja s, e os plurais
respectivos, são jeralmente proferidos com acento na última sílaba.
Logo não teem acento gráfico.
6.º bis. Todo vocábulo terminado dêste modo mas cuja acentuação se
faz noutra sílaba tem o acento gráfico nessa sílaba. Ex.: _pedi, pedis;
funil, 'funis; matiz; pénsil, pénseis; cascavel, cascaveis; peru, perus;
Hindu, Hindus; Caramuru; tríbu, tríbus; Púru_.
7.º Os vocábulos cuja última sílaba for em vogal nasal, ou em ditongo
puro ou nasal, teem jeralmente a enunciação acentuada na sílaba final.
Logo não se lhes marca o acento na escrita. Ex.: _marfim; irmã, irmãs;
irmão, irmãos; marau, maraus; andai, andais; louvei, louveis; Simões;
Magalhães_. Cf. 2.º paj. 7 e 13.
7.º bis. Será, porém, marcada a acentuação dêsses vocábulos quando
ela se faça noutra qualquer sílaba. Ex.: _órgão, Estêvão_.
_Escólio_.--Para os contratos é absolutamente indispensável, como
bem o viu o grande Ministro, distinguir os futuros dos pretéritos na 3.ª
pessoa do plural, sem emprêgo do acento gráfico, fácil de esquecer ou
de ser pôsto depois do contrato escrito e assinado, distinguir-se hão,
pois: _jurarão, juraram (jurárão); venderão, venderam (vendêrão);
prescindirão, prescindiram (prescindírão)_; etc.
_Corolário_.--Por êste motivo o ditongo _ão_, final átono de verbos,
escrever-se ha idénticamente com _am_; e, por analojia, se escreverá a
sílaba final dos vocábulos terminados pelo ditongo átono _êe_ com a
grafia em. A acentuação gráfica de tais vocábulos obedece ao princípio
5.º Ex.: _honram, viajam, ordem, viajem, pôrem, alem_ (= _álem,_ v.
_alar_).
_N.B._ Pelo princípio 5.º bis devemos escrever e escrevemos: _porém,
ninguém, também, além_, etc.; deveríamos, todavia, usar da ortografia:
_porêe, ninguêe, tambêe_, etc. Deixámos êste ponto para o Congresso.
É aínda evidente que os plurais dêstes nomes seguem análogamente a
regra dada para os plurais dos nomes em _a, o, e_; assim: _ordens,
viajens, (_órdêes, viájêes_).
8º Os vocábulos compostos teem na escrita a acentuação dos seus
símplices respectivamente marcada em obediéncia aos princípios que

ficam expostos.
II--DOS FONEMAS E SUA REPRESENTAÇÃO POR LETRAS
CONSOANTES
Dois princípios absolutos determinam a exclusão de consoante inútil; e
quatro ordens de outros factos decidem a adopção científica de
representação de fonemas articulados. São estes factos:
_a)_ valores dialectalmente confundidos: ch (= _tch_), ch (= _x_), _x; s,
ç; s, z_.
_b)_ valores próximos confundidos pela falta de observação da
articulação: _s, x; g_(_a_), _g_(_ue, ui_); _g_(_e, i_), _j_; _c_(_a, o,
u_), qu.
_c)_ valor exclusivamente de influência do fonema articulado sôbre o
fonema modulado precedente.
_d)_ valores diferentes de um só símbolo gráfico: x, entre vogais.

II a.--EXCLUSÃO DE LETRAS CONSOANTES
1.º São banidos da escrita os símbolos gráficos sem valor de fonema
próprio. São eles _th, ph, ch_, respectivamente por _t, f, q_(_u_),
_c_(_a, o, u_), _c_; bem assim _y_=i.
1.º bis. Póde manter-se _k=q_(_u_)=_c_(_a, o, u_) nas abreviaturas de
_quilómetro_=_klm._, etc. Devemos, porém, escrever por extenso:
_quilómetro_[1], quilograma, etc.
2.º São banidos da escrita os símbolos gráficos sem valor. São eles as
consoantes dobradas ou grupos de consoantes não proferidas e sem
influéncia na modulação antecedente, nem necessidade por derivação
manifesta de outro vocábulo existente em que haja de proferir-se cada
uma das consoantes, como é Ejipto de que se deriva _ejípcio_.
Exemplos de símbolos sem valor próprio em português:
th = t.--thermometro = _termómetro_; ether = _éter_; thio = tio.
ph = f.--ethnographia = _etnografia_; philtro = filtro.
ch = _q_(_u_).--chimica = _química_; machina = _máquina_; chimera
= quimera.
ch = _c_(_a, o_).--chorographia = _corografia_; mechanica =
_mecánica_.

y = i.--lyrio = _lírio_; physica = _física_.
Consoantes dobradas:--agglomerar = _aglomerar_; prometter =
_prometer_; commum = _comum_; Philippe = Filipe.
Grupo de consoantes:--Christo = _Cristo_; Demosthenes =
_Demóstenes_; Mattheus (que já se escreve, sem razão, Matheus) =
_Mateus_; schola = _escola_; sciencia = _ciéncia_; phthisica =
_tísica_.
Influência da consoante na modulação precedente:--Vejam-se exemplos
em c, páj. 11.
1.º _Escólio_.--Conservamos n dobrado, m dobrado, nos vocábulos
derivados de outros, cuja inicial é n ou m, por meio das prepositivas _in,
em_, toda vez que a prepositiva significa _dentro_; e aínda nalguns
poucos vocábulos em que n ou m influam na vogal i ou e. A nasal da
prepositiva com só a conservamos, por êste motivo, em connosco.
Escrevemos, pois: _immigrar, immerjir, emmalar, ennobrecer, innato_,
etc.; _comoção, comum, comutar, conexo_, etc.
2.º _Escólio_.--Mantemos as representações gráficas das palatais _ch,
lh, nh_, emquanto não houver símbolo único para cada uma delas.
[1] A ortografia kilometro por chilometro dá ocasião a traduzir-se
«metro-de-burro» e não «mil-metros». Em grego _kíllos_ significa
«burro», e _chílioi_ significa «mil». Porque razão, pois, havemos de
escrever _cirurgia, chimera, kilo_, quando o c, o ch e o k representam a
mesma orijem
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