As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes | Page 4

Ramalho Ortigao
houvesse j�� sido lida, mas, com quanto escripta ha muitos annos, n?o foi por emquanto estudada.
Em todo o longo trabalho de investiga??o, de critica, d'analyse, de deduc??o, que constitue a materia d'esses quatro volumes, o publico portuguez n?o viu sen?o dois factos extremamente subalternos na obra do philosopho e na obra do artista:--a nega??o do milagre d'Ourique e das c?rtes de Lamego.
O historiador da nossa nacionalidade n?o foi olhado se n?o debaixo d'um aspecto,--o aspecto das nossas supersti??es.
As origens do direito, da arte, da propriedade, da religi?o, da familia, da patria interessaram-nos d'um modo t?o mediocre que nunca nos suggeriram uma id��a clara sobre qualquer d'esses phenomenos.
De t?o multiplos problemas suscitados ou resolvidos pelo historiador da nossa vida civil, um unico nos commoveu at�� as mais intimas profundidades do nosso organismo social: Se Jesus Christo tinha ou n?o tinha vindo cavaquear com D. Affonso Henriques na vespera d'uma batalha, e se a derrota dos mouros fora ou n?o o resultado d'uma opera??o estrategica combinada de commum accordo entre os dois poderosos inimigos do kalifado de Cordova, o filho do conde D. Henrique e o filho de Deus.
Todas as demais quest?es debatidas nos quatro volumes da _Historia de Portugal_ passaram inteiramente despercebidas do jornalismo portuguez, o qual n?o teve ainda, at�� hoje, occasi?o de publicar um artigo scientificamente fundamentado ��cerca do papel do nosso primeiro historiador na direc??o dos estudos historicos e na comprehens?o das leis fundamentaes da nossa evolu??o social.
A homenagem que a imprensa deve prestar a Alexandre Herculano �� a publica??o d'esse estudo, porque o primeiro dever dos jornalistas perante um grande escriptor �� mostrar que o leram. Com rela??o a Herculano essa divida est�� por saldar, e a imprensa tem que desempenhar-se d'ella com tanta mais promptid?o, quanto �� certo que o seu longo silencio podia ter sido uma das causas que levaram o iniciador dos trabalhos historicos portuguezes a talhar para si mesmo a triste mortalha em que desceu envolto para o tumulo--a mortalha do desprezo. N?o conseguiu merecer-lhe mais o espirito dos contemporaneos.
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Annaes da viagem de suas magestades e altezas pelos seus reinos segundo os telagrammas publicados por toda a imprensa e da ac??o civilisadora da mesma viagem sobre o espirito dos povos segundo os alludidos documentos.
CAPITULO I
Bussaco... d'agosto. Sua magestade Anjo da Caridade acaba, de chegar esta secular floresta acompanhada suas altezas Preciosos Penhores. Anjo passeou matta. Jantou 6 horas. Preciosos Penhores foram Cruz Alta companhia um dos seus preceptores. Jubilo povo inexcedivel.
CAPITULO II
Bussaco... d'agosto. Sua magestade Anjo encontrou interessante menino na serra e afagou. Commo??o todos visitantes que presencearam acto Anjo afagar menino chegou lagrimas. Preciosos Penhores foram p�� Fonte Fria. Jantar Anjo, Preciosos Penhores e Damas, 6 horas, 14 minutos, tempo medio. Jubilo povo augmenta progressivamente.
CAPITULO III
Bussaco... agosto. Anjo apreciou mediocremente rouxinoes gorgeando secular floresta. Chamados �� pressa para gorgear na balseira bauda de infanteria 14 e cysne Mondego D. Amelia Jenny. Jubilo povo excitado por Quatorze e por Cysne innarravel.
CAPITULO IV
Bussaco... d'agosto. Sua magestade Anjo recusa licen?a a touristes comerem saborosos peixes ria d'Aveiro em secular floresta. Preciosos Penhores pequeno passeio durante 1 hora, 28 minutos, 14 segundos. Jubilo povo augmenta.
CAPITULO V
Bussaco... d'agosto. Desmente-se noticia Anjo prohibir touristes petisqueira saborosos peixes ria Aveiro secular floresta. N'este mesmo momento secular floresta saborosos peixes est?o sendo comidos touristes com approva??o d'Anjo. Preciosos Penhores pequeno passeio meia hora e 16 1/2 segundos. Jubilo povo toca raias.
CAPITULO VI
Bussaco... d'agosto. Sua magestade Anjo e suas altezas Preciosos Penhores acabam de partir Porto, comboyo expresso. Anjo e Preciosos Penhores n?o mais a secular floresta. Raias ultrapassadas por jubilo povo.
CAPITULO VII
Vidago... d'agosto. Sua magestade Excelso Soberano, acompanhado duas phylarmonicas e quarenta maiores contribuintes montados quarenta maiores eguas, chegou sem novidade real saude. Indiscriptivel jubilo povo.
CAPITULO VIII
Vidago... d'Agosto. Excelso Soberano foi tomar aguas 10 horas. Voltou tomar aguas 4 horas. Jantou 6 horas. Centenares de pessoas presencearam acto Excelso Soberano tomar aguas. Grande ardor geral pelas institui??es monarchicas e pela dynastia. Jubilo povo tende a augmentar, se possivel f?r.
CAPITULO IX
Vidago... d'agosto. Excelso Soberano encontrou real passagem dois rapazes de joelhos. Excelso Soberano afagou. Lagrimas punhos faces pessoas viram Excelso Soberano afagar rapazes joelhos. Jubilo povo toca zenith.
CAPITULO X
Vidago... d'agosto. Excelso soberano partiu tarde acompanhado phylarmonicas, contribuintes e maiores egoas. Estes logares, ausencia excelso soberano e real sequito, convertidos triste ermo. Jubilo povo impossivel descrever palavras humanas.
CAPITULO XI
Porto... d'agosto. Hoje, fim da tarde, entrada triumphal n'este Baluarte liberdade sua magestade Anjo da Caridade acompanhada de suas altezas Louras Crean?as. Jubilo povo de Baluarte e concelhos ruraes adjacentes delirante.
CAPITULO XII
Porto... d'agosto. Presidente camara municipal disse a Anjo da Caridade que Baluarte se gloriava ter Anjo no seio. Jubilo povo frenetico.
CAPITULO XIII
Porto... d'agosto. Louras crean?as passear Palacio Crystal. Anjo n?o passeiar Palacio Crystal. Jubilo povo febril.
CAPITULO XIV
Porto... d'agosto. Anjo e Louras Crean?as foram photographar-se ao atelier Fritz. Duas innocentes
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