Paraisos, Variado entre Amor, entre Amizade, Me enchera o vácuo da existencia ens?ssa, Que se definha inerte.
Eu amo, eu sou amado, eu lucro, eu gózo; Mas, aí! que a hum dia de prazer succedem Dias, e dias de Afflic??o teimosa, Que o cora??o me azéd?o.
Amas, como eu tambem, tambem amado, Mas avesso Poder te engelha os fructos, Que já colheste em tempos fortunosos De perpétua lembran?a!
Cumpria, que a Amizade suppridora Instantes affagasse amargurados, Mesmo d'entre os negrumes do Destino Tirasse hum riso a furto.
Infelizes de nós, se n?o restasse No fundo d'alma, de sofrer cansada, Divino n?o sei que, que aos males todos Nos torna sobranceiros.
Eia, pois ao porvir se appelle, Elmano, Fonte de gostos, ideaes amenos, O F?lego alargando ao soffrimento, Leda Esperan?a ondêa.
Ella espinhos crueis em flores torna, Sustenta o fio, e dá sabor á vida; Retem suicidas m?os, angustias doura,[2] Deve ser nosso Numen.
Se dize com Ovidio: "Eu perdi for?as,[3] Perdi c?r, e mal cobre a pelle o osso," Tambem com elle eu digo: "Immensos males[4] A velhice me avan??o."
A Aurora do Prazer talvez que enflore, Ermo invernoso da existencia nossa, á Fama vividoura, assombros novos Na Lyra ent?o daremos.
Por Nuno Alvares Pereira Moniz.
[1] Affectus que animi, qui fuit ante manet. Ovid. Trist. lib. 5. Eleg. 2. [2] Me quoque conantem gladio finire dolorem, Arguit, injectas continuit que manus. Ovid. de Pont. lib. I. Eleg. 6. [3] Nam neque sunt vires, nec qui color ante solebat, Vixque habeo tenuem, quae tegat ossa, cutem. Ovid. Tris. lib. 4. Eleg. 6. [4] Me quaque debilisat series immensa laborum, Ante meum tempus, cogor et esse senex. Ovid. de Pont.
* * * * *
Carminibus quaero miserarum oblivia rerum. Ovid.
*ODE*
Ao Senhor Nuno Alvares Pereira Moniz
Já meu estro, Moniz, apenas sólta Desmaiadas faiscas; Em que as fr?xas idéas mas se aquecem; Elmano do que ha sido Qual no gésto desdiz, desdiz na mente; Diástole tardia Já da fonte vital me esparge a custo O licor circulante, Que he rosa entre os jasmins de virgem Face, Que outr'ora esperto, accezo De santa Agita??o, de Ardor sagrado, No cérebro em tumulto (Estancia ent?o de hum Deos!) me borbolhava. Respira??o Divina, Enthusiasmo augusto, alma do Vate! Que rápidos portentos, Portentos em tropel, n?o déste á Fama, N?o déste á Natureza, á Patria, ao Mundo, a Amor na voz de Elmano! Ora, aplanando os sulcos, Com que a Saturnia m?o semblantes lavra, A Raz?o pensadora Erguia aos graves sons o grave aspecto: Ora ao ver-se anteposto Por deleitosa insania, a Ella, a Tudo, O grato, Cyprio Nume, Fadava docemente o doce canto No Cora??o de Anália. Oh extase! oh relampagos da Gloria! Faustos momentos de ouro, Com que meu gráo comprei na Eternidade! Do Tempo meu voando, Do Tempo que anuvi?o negros Males, Brilhais inda em minha alma, Entre sombrias, áridas Idéas, Qual entre Aves escuras, (Org?os do Agouro, Interpretes da Morte) Requebros annulando, Das Aves de Cithéra o coro alveja...! Mas ah, saudosos Dias, Vós sois memoria só, n?o sois influxo! N?o me reluz comvosco O Espirito, abysmado em funda trévas, Com gasto, debil fio Prêzo á Materia vil, que rál?o Dores! Ante meus olhos tristes, (Que já d'amiga luz se despedír?o) Sahe de eterna Voragem Vapor funéreo, que exhalais, oh Fados! Eis meu termo negreja, Eis no Marco fatal meu fim terreno!... Mas surgirei nos Astros Para nunca morrer: com riso impune Lá zombarei da sorte. Moniz! oh puro Amigo: oh Socio! oh Parte Do já ditoso Elmano! ás Musas, como a mim, suave, e caro! De lagrimas, e flores Honra-me a cinza, o túmulo me adorna, N?o só longa Amizade, Novo Sacro Dever te exige extremos: Da Lyra minha herdeiro Menu Nume Fébo, e teu te constitue; Fébo ap?s mim te augura Vasto renome, que sobeje[1] aos Evos: (He dos Annos vantagem, N?o vantagem do Engenho a precedencia) Teu metro magestoso, Que já, todo fulgor, zoilos deslumbra, Teu metro scintilante, Das virtudes mimoso, acceito ás Gra?as, Turvem saudades: canta Alguma vez de Elmano, e chora-o sempre, E Amor, e Anália o chorem: Amor, e Anália, meus piedosos Numes. Sem, por mim suspirem.
Bocage
[1] Em Lucena, e em outros Quinhentistas de summo apre?o, vem sobejar por exceder.
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Por largo campo, indómito, e fremente, Corre o Nilo espumoso: Feroz alaga a rápida corrente O Egypto fabuloso:
Mas se na gr? carreira, ás ondas grato, Tributo de caudaes rios acceita, Soberbo n?o regeita Pobre feudo de incógnito regato.
Diniz. Ode I.
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*ODE*
Por occasi?o da noticia, que grassou no Porto, das melhoras do Senhor Bocage.
Cisne de immenso v?o! ave, que rója, A medo se abalan?a aos teus louvores.
D'entre a que, eterna, lá no abysmo estala Immensa chamma, que accendeo o Immenso, T?rva ullulando, á regi?o do dia Surge a myrrhada Invéja.
Seu hálito empestado a luz suffóca, E sécca, e mirra as arvores, as flores; Drag?o,
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