nunca morrer: com riso impune Lá zombarei da sorte. Moniz! oh
puro Amigo: oh Socio! oh Parte Do já ditoso Elmano! Ás Musas, como
a mim, suave, e caro! De lagrimas, e flores Honra-me a cinza, o
túmulo me adorna, Não só longa Amizade, Novo Sacro Dever te exige
extremos: Da Lyra minha herdeiro Menu Nume Fébo, e teu te constitue;
Fébo apôs mim te augura Vasto renome, que sobeje[1] aos Evos: (He
dos Annos vantagem, Não vantagem do Engenho a precedencia) Teu
metro magestoso, Que já, todo fulgor, zoilos deslumbra, Teu metro
scintilante, Das virtudes mimoso, acceito ás Graças, Turvem saudades:
canta Alguma vez de Elmano, e chora-o sempre, E Amor, e Anália o
chorem: Amor, e Anália, meus piedosos Numes. Sem, por mim
suspirem.
Bocage
[1] Em Lucena, e em outros Quinhentistas de summo apreço, vem
sobejar por exceder.
* * * * *
Por largo campo, indómito, e fremente, Corre o Nilo espumoso: Feroz
alaga a rápida corrente O Egypto fabuloso:
Mas se na grã carreira, ás ondas grato, Tributo de caudaes rios
acceita, Soberbo não regeita Pobre feudo de incógnito regato.
Diniz. Ode I.
* * * * *
*ODE*
Por occasião da noticia, que grassou no Porto, das melhoras do Senhor
Bocage.
Cisne de immenso vôo! ave, que rója, A medo se abalança aos teus
louvores.
D'entre a que, eterna, lá no abysmo estala Immensa chamma, que
accendeo o Immenso, Tôrva ullulando, á região do dia Surge a
myrrhada Invéja.
Seu hálito empestado a luz suffóca, E sécca, e mirra as arvores, as
flores; Dragão, de linguas tres, na dextra arrôcha, Alça na outra o
facho.
Silvão-lhe horrendas na tostada fronte Viboras crespas, de que está
coalhada; Nutre nos peitos ávida serpente, De insaciavel fome.
Atro veneno a lingua lhe destilla, A lingua, que de vibora parece: Vós
Górgonas, vós Furias, tu Medusa, Não sois mais horrorosas.
De espaço meneando as azas longas, Demanda vagarosa a Estygia
margem; E alli, prendendo o vôo, descendo á terra, Que, ao sentilla,
estremece.
Alli em subterranea, em ampla furna, Desde a infancia dos seculos
formada, Dura, immutavel lei impondo a tudo, Reside a Morte
horrenda.
Montão enorme de esbulhados ossos, De crâneos seccos lhe compõem
o throno, Assôma no alto o descarnado Monstro, A ferrea fouce em
punho.
Voão-lhe em roda Lémures, Espectros, Jazem-lhe aos pés as lividas
Doenças: O silencio, o pavor, a escuridade Alli, perennes, mórão.
Nos quatro cantos de horrorosa estancia Quatro cyprestes lúgubres se
elevão; Aves sinistras, rouquejando agouros, Entre os ramos se
aninhão.
Para aqui se encaminha a Invéja tôrpe: Tremendo, aos pés do throno
se apresenta; Frio terror os membros lhe entorpece Ao encarar o
Nume:
Mas, assanhando a roedora serpe, Que no peito lhe pásce, a dor
vehemente Lhe esperta o coração, lhe volve o acôrdo; E assim troveja
a Furia:
"Deosa, dominadora do Universo, Cujo imperio vastissimo confina
Co'a muralha da immensa Eternidade: Branda meu rogo affaga.
Já vezes mil o tétrico veneno Das serpes, que me toucão, que alimento,
Fêz em teus lares borbulhar o sangue De victimas sem conto,
Serviço não vulgar, que te hei prestado, Jús me confere a não vulgar
indulto: Vinga-me, ó Deosa, de hum Mortal soberbo, Que ousa
affrontar-me impune.
Elmano, o caro a Febo, e caro a Lysia, C'roado ha muito de
immurchavel louro, Sobre o ludibrio meus alçou ufano Troféo de
eterna dura.
Com pé robusto esmigalhou valente (Da peçonha mortal nem foi
tocado) Viboras, que arranquei da trança horrenda, Para arrojar-lhe
ao seio.
Tentei vãmente ennegrecer-lhe a Fama, Que nivea, e pura os Orbes
divagava! Meus baldados projectos só servirão De aviventar-lhe o
lustre.
Chusmas de Zoilos, meus fieis Ministros, Em vão em meu favor as
armas tomão: Relampaguêa o Vate, e nos abysmos Baqueão,
aterrados.
Myrrhada de pezar, baixei ao Orco, E alli fui prantear a injúria minha:
Gritos, que então soltei de dor, de raiva, Inda nelle retumbão.
Foi-me comtudo balsamo suave Á dor cruel, que me ralava o peito, O
grato annúncio, de que o Vate odioso Roçava o ponto extremo.
Mortifero aneurisma promettia Romper-lhe antes de muito os nós da
vida! Meu coração folgou, desaffrontado, Co'a proxima ventura.
Já com soffregas mãos, tintas em sangue, No Báratro compunha atróz
peçonha, Para ensopar-lhe as socegadas cinzas No tácito jazigo.
Porém, ó Deosa, se, exercendo a Fouce, O demorado golpe não
desfechas, As, que alimento, gratas esperanças, Qual fumo, se
esvaecem.
Sim, ás contínuas súpplicas de Lysia, Como que o Fado a fronte
desenruga; Brado, macio já, como que intenta Deferir-lhe propicio.
Ah! e quanto, inda assim oppresso, enfermo, Quando me affronta, me
assoberba Elmano! Seu Estro sempre o mesmo, sempre em chammas,
Raios me vibra intensos.
Todos de Lysia abalizados Cisnes Melifluo canto em seu louvor
modúlão; Rôto ao porvir (mercê de Apollo) o seio, Vida fádão-lhe
eterna.
E serei, ai
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