A virtude laureada | Page 5

Manoel Maria de Barbosa du Bocage

não coube, No abysmo vos sumio dos Desenganos.
Deos... oh Deos! quando a morte a luz me roube, Ganhe hum momento
o que perdêrão annos, Saiba morrer o que viver não souve.
Bocage.
* * * * *
*SONETO.*
De peito impenetravel sempre ao susto, Lédo entre as armas, a folfar no
p'rigo, Ó França, teu magnanimo inimigo, Por timbre teu não triunfou
sem custo.
Ardendo em gloria o coração robusto, Onde teve o troféo, teve o jazigo:
Nelson venceo, venceo por uso antigo; Mas da victoria foi desconto
injusto.
Bem que nadante a Gallia em rubro lago, (Domando a morte quem seus
brios doma) Crê reparar com isto immenso estrago!

Ah! donde um Nelson cahe, logo outro assoma, Assim,de Heróes
privando-te Carthago, Heróes fervião no teu seio, ó Roma.
Bocage.
* * * * *
*SONETO.*
Mãi de Chefes Heróes, de Heróes soldados A Gallia herdou de Roma o
genio, a sorte; Seus filhos no igneo jogo da Mavorte Virão Marcios
Leões tremer curvados.
Mas alta Lei dos Penetraes Sagrados Baixou, que o fatal impeto reporte:
Fervendo em raios no Oceano a morte, Te obedece, ó Britania, ao
mando, aos Fados.
No Continente o Gallo he Deus da guerra; O Anglo audaz sobre o
pelago iracundo Da victoria os pendões, troando, afferra...
Ah! nutrão sempre assim rancor profundo. Hum triunfa no mar, outro
na terra: Se as mãos se derem, que será do Mundo!
Bocage.
* * * * *
*SONETO.*
C'hum Diadema de luz no Elysio entrava Envolto Nelson em sanguineo
manto! Lavrou nos Manes desusado espanto, E a turba dos Heróes o
rodeava.
Grita Alexandre (e nelle os olhos crava) Quem hes, que entre
immortaes fulguras tanto? Sou (lhes diz) quem remio de vil quebranto
Europa curva, oppressa, e quasi escrava.
Deixei de sangue o pégo rubicundo; Troféos em meu sepulcro a Patria
arvora; Raio ardi sobre o Gallo furibundo...

Nisto de novo o Macedonio chora: O que immensa extensão venceo do
Mundo, Quem vencêra hum só povo inveja agora.
Bocage.
* * * * *
Á Memoria de Ulmia.

*SONETO.*
Quando meu coração de Amor vivia, Ufana a liberdade em ver-se
escrava, E quando para mim se variava O Ceo n'um riso, o Ceu n'um ai
de Ulmia!
Das escuras Irmans a mais sombria, E que mais com seu pêzo o Mundo
aggrava, Na vista divinal, que me encantava, Roubou luz á minha alma,
e luz ao dia.
Não mais, Dor, Fado meu, Dor, meu costume, Cedo a paz gozarei, que
o peito anhéla, Nos olhos do meu Bem, do Ceo já lume;
Junto á Nynfa immortal, na Estancia bella, Os dias perennaes, que vive
hum Nume, Irei (Nume em ser seu) viver com Ella.
Bocage.
* * * * *
*SONETO.*
Il n'est de malheureux que les coeurs détrompés. Voltaire. Merop.
Trag.
Em vão, para tecer-me hum ledo engano, Filosofo ostentoso industrias
cança; Diz-me em vão, que exhalando-se a esperança, Repousa na
apathía o peito humano.

O nauta a soçobrar no Pégo insano Vê rir ao longe a cérula bonança; A
mente esperançosa enfreia, amansa Os roncos, e as bravezas do
Oceâno.
Se nos míseros cahe da mão dos Fados O negro desengano, eillos
anciosos, E á desesperação, e á furia dados.
Doirai-nos o por-vir, oh Ceos piedosos! Justos Ceos! dêm sequer
jardins sonhados As flores da ventura aos desditosos.
Bocage.
* * * * *
Ao Senhor Manoel Maria Barbosa du Bocage, por occasião de se ter
dito, que recebêra o Sagrado Viatico.

*SONETO.*
Depois que a teus ouvidos grata vôa Mensagem pura, que ante os Ceos
te expia, Por mil Sóes, Orbes mil, por Lactea Via Jove ao proprio teu
lar desce em pessoa:[1]
Colloquio amigo, que entre os Dois resôa, Par não soffre em ternura,
em energia, He d'hum Cysne expirante a melodia, He a fraze efficaz
d'hum Deos, que trôa:
Consagrados eis são Mortal, e Immenso; Fogem subito ao pacto
renovado Vã lida, torpe invéja, e morbo intenso!
Rasgou-se o véo do nubilo teu Fado; Dás fragil myrrha por eterno
incenso, D'Home és Nume, de Vate és invocado.
De Santos e Silva.
[1] Contracção de Jehova.

* * * * *
Ao Senhor Manoel Maria Barbosa du Bocage, achando-se o A.
molesto.

*SONETO.*
A Musa, que bebeo comtigo alento, Que ao lado teu paixões
commerciava, Os sons, que alegre outr'hora derramava, São ais viuvos,
que dirige ao vento.
D'entre meus braços te apertar sedento, Por vingar o intervallo soluçava,
Que a mal firme existencia me embargava, Sem que podésse olhar-te
hum só momento.
Se não pude fartar voraz saudade, Inda mádida a face, enternecida
Chora males do amigo em soledade.
Minha alma em tua dor toda embebida, Implora em ais, em pranto aos
Ceos piedade, Ama doirar-te a tenebrosa vida.
De Pedro José Constancio.
* * * * *
Ao Senhor Manoel
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 16
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.