géstos a sua desesperação.
A Policia com Guardas.
Contra os Vicios communs, que pouco empecem, Exercer correcções
não só me he dado. Velai, Guardas fieis, sobre os Perversos, Que a
Policia commette ao zello vosso, Até que o raio Némesis dispare Co'a
férrea voz de Tribunal supremo. Eu dos crimes terror, dos crimes freio,
A supplicio exemplar, que sare a Patria D'impia contagião, reservo
aquelle De todos o mais duro, o mais funesto, Que, instrumento servil
de atroz vingança, Tingio vendida mão no sangue alheio. Ao cutélo de
Astréa em vão furtaste Colo rebelde ás Leis, ó tu, cruento, Lobo
nocturno, que, vibrando as garras, A mansos Cidadãos oiro, existencia
De mistura usurpavas, sem que ao menos Tremesse o coração, e as
mãos tremessem. Estes, mais que nenhuns, velar se devem, Estes nas
feias, subterraneas sombras Para o pavor da Morte a mente ensaiem. Eu,
Luz do bom Luceno, eu Alma, eu Tudo, Corro, entre-tanto, a
suggerir-lhe idéas, Com que os públicos Bens floreção, medrem. A
Sciencia, e Penuria, antigas Socias, Em seus Lares por elle ha pouco
ouvidas, O fertil patrocinio lhe implorárão. Em lagrimas lhes deo
penhor singelo De firme protecção: vós, Indigentes, Seus effeitos vereis,
vereis, ó Sabios, Que a Mente, e o Coração por vós divido.[1]
[1] Vai-se.
*SCENA VI.*
Salão Magestoso da Policia, adornado das Estatuas de varias Virtudes.
O Genio, e a Hospitalidade.
Eis-me na Estancia da Policia Augusta, Cultora da Razão, das Leis, do
Solio, A fitubante, a pávida Indigencia, Que já dos males seus alivio
goza, Por mão do Bemfeitor, que os Ceos inspirão, Vem co'a Sabedoria
honrar seu nome, De interna Gratidão, sagrar-lhe os cultos; Mas
profundo respeito os pés lhe tolhe, E o Salão venerando entrar não
ousão.
*SCENA ULTIMA.*
Os ditos, e a Policia, que, ouvindo as ultimas palavras, sahe de repente.
Policia.
Foi sempre este lugar franco á Virtude, Entrai. [1]
[1] Entrão as duas.
Hospitalidade.
Longe de vós hum vão receio.
Policia.
Cumpri vosso dever, tecei contentes De Luceno o louvor. Materia
summa As Virtudes vos dão, que resplandecem Em brilhantes Estatuas
magestosas Neste brilhante, Magestoso Alcaçar. Aquella, que risonha
os olhos firma, Como que rosto súpplice attentando, He a Benevolencia,
e diz no affago, Que alguns, havendo a honra em mais que os lucros,
Ante duro Ministro enfrêão preces, E só do Compassivo, e só do
Affavel A presença demandão, que os conforte, Que ao rogo n'hum
sorriso o effeito augure, E não de altiva injúria avilte o rogo. Esta he
Exemplo, est'outra he a Inteireza; Alli Fidelidade o jaspe anima;
Desinteresse além reluz, e avulta; Mais perto voluntaria Obediencia
Curva o docil joelho: eis as Virtudes, Que fórmão, bom Luceno, o teu
caracter, Todas egregias, necessarias todas.
Sciencia.
Verdade, e Gratidão nos lábios nossos, Approvão quanto sôa em honra
delle.
Indigencia.
Oh Reinante feliz com taes Vassallos!
Policia.
Folga, Sciencia, e tu, Penuria, folga: Dado me he recrear-vos, ser-vos
guia Ao Principe immortal, de quem reflectem Raios de luz para o
Ministro excelso, Que o seu mór premio tem na Regia Gloria.
Curvai-vos, e admirai o Heróe sublime, Que Lysia adora, e que adorára
o Mundo, Se o Mundo todo merecesse olhallo.[1] Vêde a seus pés o
Magistrado insigne, Que nelle se revê, que a bem da Patria A Grandeza
Real submisso implora.
[1] Abre-se o fundo do Theatro, apparece o Retratro do Principe R.
com o Magistrado a seus pés, offerecendo-lhe os Votos mais puros da
Nação.
Hospitalidade.
Quanto a Virtude altêa a Dignidade.
Sciencia.
Oh Júbilo: Oh Ventura!
Indigencia.
Eu pasmo, eu tremo.
Genio. (Dirigindo-se para o retrato do Principe R.)
Heróe, sacro aos Mortaes, acceito aos Numes, Olympico Fulgor
compõe teus dias; Os Ceos na minha voz mil dons te abonão, Com
meus olhos teu Povo os Ceos vigião, O Commercio por ti de fé se nutre;
As Artes, a Virtude, as Leis triunfão; No Solio, no Poder tens base
eterna; Tua alma sobresahe aos teus Destinos; E de teu puro arbitrio
esse orgão puro, He digna escolha tua, aos Astros vea No rasto de oiro,
com que o Pólo esmaltas. Subditos de JOÃO, rendei mil cultos Ao grão
Regente, ao inclyto Carácter, Que nelle diviniza a especie humana: A
voz da Gratidão se alongue em Vivas, E cordeal ternura os labios
honre.
(CORO.)
Oh Luso Heróe! Baixaste Da Estancia divinal! Tu és hum Deos visivel,
Oh Principe immortal!
FIM.
* * * * *
*SONETO.*
Meu ser evaporei na lida insana Do tropel de paixões, que me arrastava,
Ah! cégo eu cria, ah! mísero eu sonhava Em mim, quasi immortal, a
essencia humana:
De que innumeros sóes a mente ufana Existencia fallaz me não doirava!
Mas eis succumbe a Natureza escrava, Ao mal, que a vida em sua
origem damna.
Prazeres, socios meus, e meus tyrannos, Esta alma, que sedenta em si
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