vos abono Do Ministro sem par, favor, e asylo.
Sciencia.
O Ceo por ti se exprime: o Ceo não mente; Oraculo de Jove, eu te
obedeço: Vejo sorrir-se ao longe amigos Fados; Guia-me, ó Deosa.
Hospitalidade.
Guío-te á ventura. (vão-se.)
*SCENA III.*
O Genio só.
Tereis o galardão, tereis o loiro Que á virtude compete, immota, illésa
Entre os duros vaivens de iniqua, sorte: Desgraçado o Mortal, se o chão
não trilha Por onde a mão de Jove arreiga espinhos, Que súbito depois
converte em flores!... Mas que ufano Baixel retalha o Téjo![1] Brincão
no tópe flammulas cambiantes, E cambiante bandeira as ondas varre:
Eis vôa, eis se aproxima!.. Hum quasi monstro, De aspecto feminil,
tigrinas garras, De trage multicôr, lhe volve o leme! Que Turba enorme
á sua voz marêa! E o ferro curvo, e negro ao fundo arroja! Desce a vaso
menor a horrivel Furia, Recolheço-lhe o rosto, os fins lhe alcanço.... Lá
vem, lá toca sobre a arêa e salta. Inimiga dos Ceos![2] és tu, profana!
Sacrilega, fallás, blasfemadôra, Peste dos Corações, Orgão do Averno!
Vens tambem macular com teus venenos, Com halito infernal, e atroz
systema Campos, que meu bafejo Elysios torna!
[1] Apparece hum Baixel, donde pouco depois desembarca a
Libertinagem com sequito numeroso. [2] Corre para ella.
Libertinagem.
Orgão não sou do Averno, o Averno he sonho[1] Para mim, para os
meus, não soffro o jugo, Que sobre Corações tão férreo péza.
Fantasticos Deveres não me illudem; O sensivel me attrahe, do ideal
não curo, Só de palpaveis bens fecundo a mente; O Bando, que allicio,
e que prospéro, Vive em prazeres, em prazeres morre. Compleição dos
Catões, Moral de ferro, Furia, Libertinagem me nomêa; Mas o carácter
meu destroe meu nome. Delicias ao teu seio, ó Lysia, trago, Não crúas
oppressões, nem agros males, Que o Fantasma Razão produz, maquina;
Eu sou a Natureza: ella não manda, Que o gosto opprimas, que os
desejos torças; As paixões contentar, não he loucura: Prestar-lhe
attenção, vontade, assenso, He lei, necessidade, e jus dos Entes. Olha:
com sceptro de oiro impéro, ó Lysia; Franquêa o pensamento a meu
systema, Despe imagens quiméricas e approva, Que a posse do
Universo em ti remate.
[1] Sentimentos abominosos da Libertinagem, refutados vigorosamente
pelo Genio da Nação.
Genio.
Enganas-te, Perversa, os Ceos a escudão; De Lysia puro Insenço aos
Numes sóbe, arde em virtude, inflamma-se na Gloria; Moral, Religião,
saudavel Jugo, Que péza aos Impios, que aos Iniquos péza, Nunca foi
grave a Lysia, Heróe supremo, Que he na Terra, o que he Jupiter no
Olympo, Aqui, não com violencia, e não com arte, Mas pelo exemplo
morigéra os Lusos, Só menos, que as Deidades, venturosos. Não
manches estes Ceos, Tartareo Monstro, Onde jaz da Virtude o trilho
impresso. Eco da Magestade, a voz te aterre Do zeloso Ministro
infatigavel, Luceno, ao Throno, ás Leis, aos Deoses curvo, Que, em
vínculo fraterno atando os Póvos, Os vê curvos ao Throno, ás Leis, aos
Deoses. Negreja, a teu pezar, o horror, que doiras, O Inferno, que não
crês, de ti fuméga, E o Remorso tenaz te róe por dentro. Este Povo de
Heróes, de Irmãos, de Justos, Teu carácter maldiz, teu nome odêa.
Aparta-te daqui... mas tu repugnas! Guerreiros da Virtude, e flor da
Patria,[1] Que limpais a Moral de intrusa escória, Eia, apurai o ardor
contra esse Monstro; A vosso invicto Esforço a Furia cêda, Do Gremio
da Innocencia o Vicio fuja.
[1] Sahe Tropa armada, que trava peleja com os sequazes da
Libertinagem, e os vai destroçando.
Libertinagem.
Não se alcança de mim victoria facil.
Genio
Satéllites da Gloria: Avante, avante: A Pérfida franquêa, a Palma he
vossa.
Libertinagem.
Colheste contra mim Triunfo inutil: Lysia perdi, mas senhoreo o
Mundo.[1]
[1] Embarcão-se tumultuosametne, sempre acossados pela Tropa.
*SCENA IV.*
O Genio, e Tropa.
Graças, ó Numes, sucumbio a infame. Heróes, eu vos bemdigo o
Marcio fogo, O rápido valor, que n'hum momento A melhor das
Nações salvou do estrago...[1] Mas, Deoses, soffrereis, que n'outro
clima, Talvez á infamia sua ignoto ainda, Sobre o lenho orgulhoso
aporte a Fera, E tóxico respire, e peste exhale: O sacri1egio pune; hum
raio, ó Jove, Hum raio a torne cinza, hum raio abysme O ligneo
Torreão no equóreo centro[2] Annuiste-me, oh Deos: He chammas todo!
Lá cabe, lá se desfaz, e o Tejo o sorve. Vai, Monstro , vai saber,
desesperado, Se he fantasma a Razão, se he sonho o Inferno, Vai no
horrendo tropel dos teus sequazes De momentanea flamma á flamma
eterna; E eu, ministro dos Ceos, submisso aos Fados, Vou por mão de
hum Mortal encher seus planos.[3]
[1] Vai-se a Tropa. [2] Cahe o raio sobre o Baixel da Libertinagem, e o
abraza. [3] Vai-se.
*SCENA V.*
Carcere subterraneo, onde estarão os Vicios, e os Crimes agrilhoados,
exprimindo variamente nos
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