A senhora Rattazzi | Page 4

Camilo Castelo Branco
VIII matizadas no peito. E que nos diz a snr.^a Rattazzi ás cabelleiras Luiz XV, de cachos empoados, com que se toucam os juizes antes de se amezendrarem com offenbachiana parlapatice magestosa nas cadeiras da magistratura em Westminster-Hall? E aquelle sumptuoso coche tirado por cavallos baios em que se estadêa o carniceiro opulento, com os bra?os nús e a camisa arremangada até ás claviculas? Se a Gran-Bretanha nos n?o exhibisse estas gargalhadas, teriamos de nos remediarmos com o producto da ex-princeza Studolmire Wyse que só de per si tem a vis insita, a for?a ridicula latente das dynamisa??es altas.
Penetra na vida intima dos portuguezes, no segredo dos seus amores castos, amor que só os olhos exprimem. N?o gosta. Acha isto semsaboria, e chama-lhe paix?o è olhadas, para exprimir bem portuguezmente a cousa. á Casa Havaneza, onde se refastelam muitos dos taes ?apaixonados das olhadas?, chama clubo des bavards. Diz que em Portugal as meninas de doze annos tem olhadas e carteiam-se. Acrescenta que é rara uma mulher galante portugueza; mas que os homens s?o, na generalidade, bonitos e bem feitos--beaux et bien faits. Isto captiva a gente. Contou alguem á princeza a historia fresca de um velho par do reino ?que se lambia? dizendo a paix?o que inspirára a uma joven que só á beira d'elle sentia o lyrismo e as delicias do amor. A snr.^a Rattazzi espantou-se, e do velho idiota inferiu que em Portugal todos os velhos se lambiam d'amor.
Foi aos touros; viu os capêlhas portuguezes, e os torreros e os for?ados (forcados) que ella diz assim chamarem-se, for?ados, porque for?am os applausos. Está em primeira m?o esta sandice. (Se o leitor quizer corrigir a minha indelicadeza, onde está sandice leia sandwiche). Como successor do conde de Castello Melhor no garbo e destreza cavalleirosa de toureiro, menciona Rebello da Silva el Castro. Provavelmente do historiador da Ultima corrida de touros em Salvaterra fez um toureiro equestre no campo de Sant'Anna. Diz que, a pedido da commiss?o, offerecera uma ?mona?--reminiscencia poetica da idade média. Achou na idade média as monas. Sua alteza acha um tanto canibal o prazer das touradas, mas nem por isso é moins immense (este immenso menor que o immenso maior, é bom). Nos theatros da Trinidade e do Principo, desagradou-lhe o pessimo costume de pateader. Diz que as obras do theatro de S. Carlos foram dirigidas por Santo Antonio da Cruz Sobral. Lá fóra ha de cuidar-se que temos um Santo Antonio de Lisboa para os milagres e outro Santo Antonio da Cruz para os theatros.
Sobre politica decifra alguns artigos bons do Pimp?o e guiza varias beldroegas de sua lavra. Entra bem na quest?o financeira, na fiduciaria, dos Bancos, no escandalo das loterias e do jogo. Faz um moral opusculo em assumpto de rolêta.
Tratando de jornaes, traslada e traduz annuncios aphrodisiacos do Diario de Noticias, e diz que o snr. Thomaz Antunes é moco fidalgo. O snr. Antunes n?o é fidalgo moco; tem a cedilha: saiba-o a Fran?a. Do Jornal da Noite, escreve que A. A. Texero de Vasconcellos noticiava principalmente anniversarios e nascimentos, dava a lista dos numeros mais premiados na loteria, e d'isso ia vivendo. Assim atassalha a snr.^a Rattazzi a reputa??o jornalistica do mais rijo pulso athleta que teve a arêna dos gladiadores politicos--o rival de A. Rodrigues Sampaio. Nem A. Augusto era outra cousa. Logo veremos como ella conceitua socialmente o seu conviva e panegyrista.
Menciona como collaborador da Correspondencia de Portugal o snr. Rodrigues de Treitas. Se lhe chama Tretas ao illustrado e honesto republicano, merecia uma descompostura.
Tambem versa a quest?o cornigera dos gados, des bestiaux. Louva, ao intento, um Relatorio do snr. conselheiro Morres Soares. Morres? Longe vá o agouro. Desejo que o snr. Moraes Soares viva muitos annos, para nos dar muitos relatorios sobre bestiaux, e mais occasi?es a que esta princeza se occupe das nossas vaccas--objecto em que é ella a unica senhora concorrente com as leiteiras saloias.
Em uma pagina util e talvez a unica proveitosa aos viajantes, informa ácerca dos hoteis. Diz que no ?Hotel de Lisbonne? ha muitos ratos; no ?Allian?a? persevejos; e no ?Gibraltar? baratos (n?o confundir pre?os baratos com ?baratas?, ou ?carochas?). Depois d'esta assevera??o impugnavel, esteia a sua affirmativa em uma passagem do Cousin Bazilio onde se lê que em Lisboa ha persevejos. Luxo escusado de erudi??o. Os persevejos em Lisboa s?o d'uma tamanha evidencia fetida e mathematica que se dispensava o testemunho do snr. Eca de Queroz, de Querioz, ou de Querioze, que vem citado como Plinio para os lacráos, e Livingstone para a Tsetse-fly, mosca mortifera da Africa.
Espanta-se dos muitos Burnay que em Lisboa exercitam varios ramos de industria. Acha que a Lusitania, n'este medrar de Burnay, virá a chamar-se Burnaisie. Depois escreve: Il faut mentionner, ne f?t ce que pour faire contraste, les Gallegos à cotê des Burnay. Les uns
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