A princeza na berlinda | Page 7

Urbano de Castro
edade feliz em que se tem jus �� venera??o e ao respeito.?
Ora aqui est�� o que aconteceria a sua alteza se em vez de ser uma bas bleue pretenciosa f?sse dan?arina de S. Carlos. Ninguem fallaria n'ella... Por tudo, e principalmente... pela segunda raz?o...
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Deixemos por��m os theatros e vejamos o que a princeza diz a respeito do nosso mais notavel monumento--o mosteiro da Batalha.
?Batalha, tambem pequena cidade, (que disparate!) alguns kilometros mais longe (do que Alcoba?a, que descreve antes) possue um mosteiro mais pequeno; mas tambem gothico, e de um estylo ainda mais puro que o de Alcoba?a.
Este mosteiro foi fundado pelo rei D. Jo?o I, que ahi repousa. Nota-se particularmente a sala do capitulo, cuja elegancia �� superior a toda a express?o, bem como o claustro. Decididamente, os senhores frades d'aquelles tempos tinham bem boas habita??es, e �� pena que se n?o tivessem construido mais, t?o encantadoras, n?o para lhe servirem unicamente de residencia, mas para alegrarem os olhos dos touristes.?
Ter visto a Batalha, ter entrado n'aquelle monumento, que �� uma verdadeira epopeia de pedra, e escrever o que ahi fica, sabe o que ��, princeza?--�� um diploma. Simplesmente n?o lhe digo de qu��.--V�� ter com alguns dos muitos estrangeiros illustres que visitaram aquelle mosteiro, francezes, inglezes, italianos, hespanhoes, russos, allem?es, ou de qualquer outra nacionalidade, diga-lhes que viu a Batalha, mostre-lhes depois o que escreveu no seu livro... qualquer d'elles lhe dir�� de que �� o tal diploma...
Mas, que diabo! tambem n?o pode haver tempo para tudo, e, ella por ella, a equipagem do marquez de V. �� decerto muito mais digna de atten??o do que o monumental edificio da Batalha!
�� pena, diz sua alteza, que n?o se tivessem construido mais monumentos para alegrar os olhos dos touristes...
Ah! sim, �� pena! pois n?o! chega a ser uma d?r d'alma n?o estar o reino de Portugal cheio de monumentos, como a Batalha, para que sua alteza, a muito alta e muito nobre princeza Rattazzi, podesse percorrer o paiz com os olhinhos alegres!
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Porque afinal de contas, o magestoso e sublime mosteiro n?o lhe causou nenhuma outra impress?o... alegrou-lhe o olho.
Frei Luiz de Sousa, descreve-o com a sua penna de ouro, o inglez Murphy estuda-o maravilhado durante largos annos, o erudito patriarcha D. Francisco de S. Luiz dedica-lhe uma extensa memoria:--n'uma palavra, nacionaes e estrangeiros, curvam-se reverentes em presen?a do patriotico e veneravel monumento... Rattazzi vae vel-o... faz-lhe a honra de conceder-lhe doze linhas... e alegra-se-lhe o olho... Isto ��, o mosteiro produz-lhe o mesmo effeito que um copinho de chartreuse... Vamos compatriotas, sirvam caf�� �� princeza, e tragam n'uma bandeja... mosteiro da Batalha e copos... Sua alteza tem o olhar basso e triste... alegremos-lhe o olho... d��mos-lhe um calicesinho da sala do capitulo... Ent?o princeza, nada de ceremonias... Se quer mandamos tambem buscar os Jeronymos... Beba, beba... Alegre-se... alegre-se...
�� impagavel no fim de tudo esta Rattazzi:--Melicio �� espirituoso e incisivo, e a Batalha... alegra-lhe o olho...
Delicioso, como dizia o Leoni nos Amores de Boccacio...
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Tudo quanto o leitor tem visto at�� agora, fica por��m eclipsado pelo capitulo em que a muito nobre princeza falla do modo porque os estrangeiros s?o recebidos em Lisboa.
Leiam:
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?Pode dizer-se, sem grande exaggero, que ha um secreto horror pelos estrangeiros e que s?o olhados com maus olhos. Entretanto esta execra??o tem graus e n?o deixa de ser curioso fazer o seu estudo.
Supponhamos que um pobre diabo cae de inani??o n'uma das pra?as publicas de Lisboa, confessando que n?o recebeu do c��u a gra?a de ter nascido cidad?o portuguez.
1.^o--Se �� inglez, d?o-lhe os restos da comida do dia antecedente.
2.^o--Se �� allem?o, um bocado de p?o.
3.^o--Se �� americano, umas migalhas.
4.^o--Se �� italiano, um copo de agua.
5.^o--Se �� francez, n?o lhe d?o nada.
Aqui est�� approximadamente a grada??o do estima a que um estrangeiro p��de aspirar em Portugal.
Os inglezes s?o os mais considerados, o que se explica, dizendo-se que Portugal �� um pouco uma colonia ingleza, uma terra de exporta??o para os productos da Gr?-Bretanha: o ouro e os uniformes militares s?o inglezes. Ha n'este povo meridional muitos costumes anglicanos que ficaram como recorda??o da allian?a das armas inglezas contra os francezes em 1808.
Os allem?es gosam de alguma considera??o.
Os americanos do norte s?o antes temidos do que estimados.
Os italianos s?o todos pastelleiros ou tenores; �� a opini?o dos portuguezes que dou aqui, n?o a minha. Mas �� uma opini?o perfeitamente estabelecida, e qualquer que seja a posi??o social d'um italiano que chega a Portugal, ser�� considerado por todos como um pastelleiro que fez fortuna, ou como um tenor em procura de escriptura.
Os francezes muito bem acolhidos �� superficie, s?o perfeitamente detestados no fundo. Quando n?o s?o luveiros, cabelleireiros ou cozinheiros consideram-os como uns aventureiros. Ha uma avidez por todos os fructos da sua intelligencia, tira-se-lhes
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