escreve, escreve, escreve, escreve
sempre: superiormente, é questão controversa; enormemente, com
certesa. A quantidade excede em muito a qualidade, diz-se, (diz ella);
dotado de uma actividade laboriosa, infatigavel, comparavel á de uma
legião de formigas, construe romances contemporaneos sobre romances
historicos, com uma preseverança e uma sequencia que intrigam a
imaginação. É uma especie de Quevedo com certo sentimentalismo
catholico.
Particularidade curiosa: em todos os seus romances entram
infallivelmente um brazileiro, uma menina que se mette n'um convento,
um fidalgo provinciano, e um namorado amorudo e transparente. É
invariàvel como a chuva e o bom tempo. De fórma, que o primeiro
romance que se lê do sr. Branco parece muito interessante, o segundo
accorda remeniscencias, e o terceiro adivinha-se; o quarto sabe-se de
cór, volta-se a pagina sabendo-se o que vae passar-se. É uma galeria de
personagens que raramente se renova, como a dos museus de figuras de
cera. Os seus principaes romances são: Onde está a felicidade, Doze
casamentos felizes, O que fazem mulheres, Historia d'um homem rico;
são feitos com este arcabouço em que as vigas, as asnas e os alicerces
são invariavelmente os mesmos.»
* * * * *
«--Bulhão Pato. É um peninsular, um sybarita, um camaleão. Como
muitos rapazes que se dizem artistas pintores ou esculptores, para terem
o direito de usar umas enormes cabelleiras e de adoptarem umas
maneiras e um modo de fallar desbragado, este, fez-se poeta, o que na
alta sociedade de Lisboa é um titulo de apresentação.
O sr. Bulhão Pato é incontestavelmente um homem d'uma conversação
encantadora. Passando por espirituoso e mordente, imaginou que para
ser um genio lhe bastava o querer sel-o, esquecendo que não é poeta
quem quer. Assim, creou-se por si só, e por si só, ainda, se julga um
grande poeta. O seu poema, a Paquita, é uma imitação dupla do estylo
aggressivo de Byron e da finura de Musset, um urso fazendo rendas de
Alençon. Escreveu muitos volumes de versos, satiras, novellas, etc.,
onde se não encontra o reflexo do espirito notavel que tem a fallar. O
que escreve não traduz o que diz (Sa plume ne traduit pas sa langue).
Para acabar este retrato é necessario acrescentar que é impertinente,
irritavel, invejoso, que pouco sabe da vida, julga-a mal, e por isso
mesmo declara-se descontente com cada um e com todos, passando a
vida a lamentar-se sem rima nem rasão.»
N'uma nota continúa no mesmo tom amavel chamando-lhe o poeta da
melena (poète aux longs cheveux).
* * * * *
«--Ernest Biestero, o grande magro litterario de quem Castilho
dizia:--É um fructo de inverno, por mais que o expremam não deita
nada! O que elle traduziu, apanhou, pilhou, é incalculavel: seriam
necessarios volumes só para fazer a sua rapida enumeração.
Os seus dramas originaes, Caridade na sombra, Moscovellos, Natureza
de alma (?) são uma galeria de manequins sem vida e até sem cordeis.
Deve accrescentar-se--segundo a chronica--que os seus dramas são
retocados por seu cunhado Mendes Leal. O que os não embelleza!
Biester teve a gloria de ser um dos fundadores da Revista
Contemporanea de Portugal e Brazil, que durou cinco annos, onde se
acham associadas todas as individualidades do elogio mutuo.»
* * * * *
«--Mendes Leal (José da Silva) nasceu em Lisboa em 1820. Sem
talento e até sem disposições dramaticas escreveu muitos dramas e
romances historicos. É o litterato portuguez que fez mais plagiatos, e
isto com a maxima audacia e sem-cerimonia. O seu theatro pertence á
escola do ultra-romantismo, e os Dois renegados, que passam por ser a
fina flôr da sua corôa litteraria, são um drama insipido, cheio de
punhaes, venenos e ciladas. O seu romance Calabar é completamente
tirado do Bateur d'Estrade, de Paul Duplessis; as suas poesias formam
um volume no qual só uma poesia é digna de menção, a Morte de
Carlos Alberto. Este fructo secco da litteratura foi bibliothecario de
Lisboa, ministro, e finalmente ministro plenipotenciario em Paris. O
que prova que as mediocridades são muita vez empregadas.»
* * * * *
Agora querem saber como apparecem os nomes portuguezes no livro
da princeza? Ahi vae uma amostra.
Odio velho não cança, o notavel romance de Rebello da Silva, é:--Odio,
velho, vraô cauca.
O prato de arroz dôce, de Teixeira de Vasconcellos, chama-se:--O
Porto de oroz dou.
As tempestades sonoras, de Theophilo Braga, são:--As tempos tades
sanoras.
Moços e velhos, que a princeza erradamente attribue a Ernesto Biester,
apparece assim no livro:--Mocosvellos.
* * * * *
Aos theatros de Lisboa faz sua alteza a honra de lhes consagrar um
capitulo do seu livro.
E como a princeza é mulher coherente em todos os actos da sua vida,
não quiz deixar de ser mexiriqueira tratando de assumpto que tanto a
mexericos se presta.
Assim diz, por exemplo, fallando do theatro do Gymnasio:--«Este
theatro não tem
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