A fundação da monarchia portugueza | Page 5

Antonio Vasconcellos
em breve romper a guerra entre
Navarra e Leão, e Bermudo, pouco feliz nos feitos militares contra
Sancho, teve de dar a Fernando, filho do rei de Navarra, sua irmã
Sancha por mulher. Cedeu tambem então todo o territorio entre os rios
Cea e Pizuerga, com o que ficaram mui dilatados os dominios de
Sancho já soberano de Navarra e de Aragão, agora senhor de Castella, e
de uma boa parte das terras de Leão. Esta cedencia foi feita em 1032.
Tão vastos estados não passaram unidos ao primogenito de Sancho. O
bravo rei de Navarra deu o Aragão a seu filho Ramiro; a Castella e as
terras entre o Cea e o Pizuerga a Fernando. Garcia, tambem filho de
Sancho, succedeu na corôa de Navarra. Talvez cuidou o velho rei que o
parentesco de cunhados entre Fernando de Castella e Bermudo de Leão
os faria amigos, e bons visinhos. Enganou-se. Os reis são mais parentes
pelos laços da politica e dos interesses do que pelos do sangue.
O desventuroso Bermudo não pôde resignar-se a possuir unicamente
uma pequena porção do reino que lhe transmittira Affonso V seu pae.
Em breve começou a guerra entre os dois cunhados, e se bastasse a boa

vontade dos fidalgos, e a energia do rei para reconquistar as terras
cedidas cinco annos antes, de certo que assim teria acontecido.
Foi-lhes porém contraria a fortuna das armas. A batalha de Carrion
tinha de ser o ultimo feito militar de Bermudo III. Ali perdeu a vida ás
mãos de seu proprio cunhado Fernando de Castella, e a varonia da raça
real de Leão extinguiu-se inteiramente. Os historiadores dizem que o
tragico fim de Bermudo acontecêra no anno de 1037.
Fernando I rei de Castella succedeu ao cunhado na corôa de Leão. A
morte de Bermudo chamava ao throno a rainha de Castella D. Sancha,
sua irmã, e mulher de Fernando; a prole de ambos continuava a
successão da familia de que Bermudo fôra o ultimo representante varão.
O novo soberano era dotado de grandes qualidades, e sabia temperar a
ambição com a prudencia e espirito moderado, que mais seguram e
firmam o poder dos reis.
A ambição demasiada é quasi sempre funesta aos thronos e ás nações,
porém o defeito contrario póde tambem produzir graves inconvenientes.
Napoleão I foi victima da sua ambição insensata, e arruinou a França.
Victor Manuel, se não fosse ambicioso poria em risco a propria corôa, a
sorte do Piemonte, e o destino da Italia.
Ha um regulador para a ambição dos reis, é o interesse das nações. Por
este cumpre-lhes arriscar-se a tudo. O principe que só vive para si ou
para a sua dinastia não é completamente soberano; é meio rei. D.
Fernando de Castella soube, apesar dos tempos em que viveu, achar o
meio termo entre esses dois extremos.
Seu irmão Garcia morreu pouco depois em uma batalha contra o
exercito de Fernando. A corôa de Navarra podia então reunir-se com as
de Castella e de Leão. Era muito. Fernando soube resistir á tentação, e
voltou as suas armas contra os arabes, tomando-lhes largos territorios
até ao fim do anno de 1065 em que morreu na cidade de Leão.
Deixou tres filhos e duas filhas. O primogenito que se chamava Sancho,
subiu ao throno de Castella: Affonso foi proclamado rei de Leão e das
Asturias, Garcia poz na cabeça a corôa de Galliza e da terra

portucalense até ao rio Mondego. Urraca governou Samora; e Elvira foi
soberana de Toro; ambas com o titulo de rainhas, como era de uso
então.
A paz entre Castella e Leão não foi duradoura. Os dois irmãos Affonso
e Sancho tiveram dentro em pouco que pelejar um contra o outro, e o
rei de Leão depois de uma victoria ficou prisioneiro de seu irmão por
um estratagema d'aquelle grande capitão que a Hespanha ainda hoje
celebra com o simples nome de Cid. Foi no anno de 1071.
N'aquelles tempos um rei prisioneiro era presa de difficil guarda.
Matavam-o as mais das vezes. Outras contentavam-se de o cegar.
Rapar-lhe a cabeça e obriga-lo a entrar em uma clausura monastica era
um acto de brandura e de moderação.
Sancho não quiz abusar da victoria, e mandou seu irmão para o
mosteiro de Sahagun; porém este, ou porque se enfastiava da clausura
ou porque receiava que alguma circumstancia fortuita lhe viesse
aggravar a pena, fugiu da prisão e foi pedir hospitalidade a Al-Mamum,
emir de Toledo.
Os arabes nem sempre andavam a pelejar com os christãos. Até ás
vezes uns e outros eram amigos e companheiros de armas. Em muitas
occasiões as tropas arabes batalharam nos exercitos christãos, e os
cavalleiros da cruz combateram nas hostes infieis. Interesses mundanos!
Transacções politicas! Era como hoje, como foi hontem, e como
amanhã ha de tornar a ser!
O chefe musulmano
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 22
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.