de Portucale foi-lhe a pouco e pouco tomando o nome, deixando ao burgo primitivo a denomina??o de Cale, que tambem insensivelmente se converteu na de Gaia.
Os christ?os aproveitaram a inexpugnavel posi??o fronteira, e fortificaram-a. Desde ent?o houve na margem direita o Portucale Castrum novum, e na outra o Portucale Castrum antiquum, ou por outra fortaleza velha, e fortaleza nova, ambas com o nome de Portucale. De nome de cidadella passou a designa??o de districto, d'ahi a condado, e mais tarde a reino, segundo a conquista christ? se alargou mais, e á medida que a administra??o e governo deram a esse tracto de territorio alguma homogeneidade.
Deixemos pois o nome latino de lusitanos, mesmo com o risco de desagradarmos a tres ou quatro idolatras das tradic??es romanas, e fiquemos portucalenses, já que d'ahi nos transformámos em portuguezes. é melhor guardar o nome que é feitura nossa, do que andarmos a torcer a geographia e a historia para amontoar fabula sobre fabula.
IV
O CONDE BORGONHEZ
O conde D. Henrique n?o se entreteve por muito tempo nos cuidados do governo. Em 1103 estava na Palestina, d'onde o encontramos de volta dois annos depois, e na c?rte do sogro em 1106.
N?o se sabe quaes foram os motivos que resolveram D. Henrique a deixar o seu governo, e a separar-se da esposa com quem havia pouco se casára, para se associar ao empenho dos cruzados, em resgatar o tumulo do Redemptor.
As causas d'esta determina??o deviam ser poderosas: nós n?o as conhecemos. Dos hespanhoes só alguns cavalleiros isolados foram ás primeiras cruzadas. Que melhor e mais santa guerra podia achar na Palestina, quem tinha á porta de casa os inimigos da cruz? O proprio pontifice Paschoal II veiu a prohibir aos cavalleiros hespanhoes, que se alistassem entre os cruzados, e em Italia obrigavam-os a embarcar de novo para Hespanha.
O conde D. Henrique obedeceu talvez á idéa geral de sacrificar todos os interesses ás cren?as e deveres religiosos, e porventura a instiga??es e convite dos seus parentes de Fran?a, de cujo auxilio elle porventura contava tirar proveito mais tarde. Supp?em-se que o conde partira na armada genoveza que em 1104 prestou auxilio ao conde de Flandres Balduino na conquista de Ptolemaida.
De volta do oriente o conde borgonhez entregou-se inteiramente á governa??o dos seus estados, empenhando-se devéras em fortalecer o proprio poder, acrescentando o territorio nas guerras contra os arabes, a preparando-se para acabar com qualquer especie de supremacia estrangeira.
Estes intuitos deviam mais do que uma vez occasionar guerra no norte com os leoneses, e no sul com os musulmanos. Para aquella a base de opera??es era Guimar?es, c?rte e residencia do D. Henrique e de D. Tareja. Para a guerra do sul a base de opera??es era Coimbra.
De Coimbra deviam partir as expedi??es destinadas a libertar de novo os territorios do sul, e ali sabia-se, melhor do que em qualquer outra parte, a occasi?o em que mais desprevenidos andavam os infieis, e em que se podia contar com um triumpho menos disputado.
Em Guimar?es agitavam-se quest?es de natureza mais complicada; quest?es diplomaticas de success?o ao throno de Affonso VI, de allian?as estrangeiras, de independencia do territorio separado da monarchia de Le?o, e de tudo quanto podia favorecer os planos ambiciosos de Henrique de Borgonha.
Os dois primos Raymundo e Henrique fizeram entre si, em 1106 ou no come?o de 1107, um tratado secreto ácerca da reparti??o dos estados do sogro, ent?o ainda vivo; porém, Deus que muitas vezes zomba dos melhores calculos dos homens, permittiu que Raymundo morresse em 1107, sem herdar de Affonso VI, que todavia lhe n?o sobreviveu muito tempo.
O convenio entre os dois condes tinha por fim evitar que a coroa de Affonso VI passasse para o infante D. Sancho filho de Zaida Ibn-Abed, que alguns tratavam como esposa do imperador. A filha do emir de Sevilha n?o podia ser mulher de Affonso VI, ent?o casado com a rainha D. Constan?a, mas o amor de pae para com o infante, seu unico filho var?o, inspirava receios aos maridos das duas princezas Urraca e Tareja.
Este temor n?o agitava sómente os animos de Raymundo e de Henrique: tambem lá de longe o celebre Hugo, abbade de Cluni, e parente dos condes, meditava n'este caso, e entrava no trama, se o n?o promovera elle proprio. é certo que o tratado foi jurado pelos dois primos e concunhados nas m?os de Dalmacio Veget, agente de Hugo.
O imperador morreu em Toledo no mez de junho de 1109, pouco depois de ter perdido seu filho e herdeiro D. Sancho, que elle mandára com o conde Gomes de Cabra a soccorrer o castello de Uclés.
O tratado entre os dois primos n?o teve execu??o. Urraca, viuva de Raymundo, succedeu, segundo o testamento de Affonso VI, na cor?a de Le?o e de Castella, e deixando em Galliza seu filho D. Affonso entregue á tutela dos condes de Trava,

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