A fundação da monarchia portugueza | Page 9

Antonio Vasconcellos
casou em segundas nupcias com Affonso I rei de Arag?o.
Este segundo casamento foi celebrado mais a exigencias dos bar?es castelhanos e leonezes, do que por vontade de D. Urraca. Queriam um homem para commanda-los, e que fosse pelo seu esfor?o e valentia digno de tal encargo. Affonso de Arag?o era já ent?o nomeado como batalhador. Por essa qualidade o escolheram.
Mas a pobre rainha n?o p?de accommodar-se ao caracter aspero e violento do aragonez, D'ahi provieram muitas occasi?es de guerra e de desordem e d'ahi tambem come?ou a surgir a possibilidade de Portugal vir a ser um estado independente, e separado para sempre da cor?a leoneza.
Entretanto o conde Henrique n?o estava ocioso. Apenas soube da morte do sogro com quem já andava mal avindo, partiu para Fran?a a reunir ali os meios necessarios para se apoderar dos estados de Affonso VI, ou para colher o maior proveito possivel das altera??es e dificuldades, que necessariamente deviam seguir a morte do imperador.
Esta viagem n?o teve bom exito. D. Henrique foi preso em Fran?a por motivos que a historia se esqueceu de registrar, fugiu da pris?o, e recolheu a Portugal pelo Arag?o cujo rei já separado de D. Urraca se alliou facilmente com elle.
Desde o seu regresso de Fran?a, que foi em 1111, o conde Henrique mudou de politica, provavelmente porque a falta do auxilio esperado lhe impunha a obriga??o de ser mais circumspecto, e de certo tambem porque a morte de Raymundo, e o casamento de D. Urraca tinham dado aos negocios da peninsula uma direc??o muito differente.
A rainha D. Urraca pouco depois de casada, separou-se do segundo marido Affonso[NT] rei de Arag?o, e passou o resto de seus dias em reconcilia??es e separa??es successivas, sempre precedidas, acompanhadas e seguidas dos disturbios e agita??es que resultam das discordias internas das familias soberanas, a cujo exemplo se comp?em os costumes dos povos.
Esta situa??o das monarchias leoneza, castelhana e aragoneza, que o casamento de D. Urraca e de D. Affonso tinha unido, e que o caracter dos dois conjuges separava a cada instante, aggravava-se com desintelligencias repetidas entre Castella e Galliza. Os fidalgos gallegos, sob a direc??o do conde de Trava, tutor do joven filho de Raymundo, complicaram frequentes vezes as difficuldades da cor?a de Le?o e Castella, querendo realisar a separa??o decretada no testamento do imperador em proveito do principe Affonso Raymundes.
D. Henrique soube valer-se habilmente das desaven?as alheias, alliando-se ora com D. Urraca, ora com D. Affonso de Arag?o, e mesmo com os magnates de Galliza. Desinteressado dessas quest?es, o seu principal fim era prolonga-las, collocando-se do lado de quem menos probabilidades tinha de resistir ao poder do outro. Assim, o vencedor de hoje podia facilmente ser o vencido de ámanh?, e nenhum dos belligerantes ficaria nunca t?o poderoso, que se lembrasse de attentar contra a soberania de Henrique.
Entretanto brotavam e florescíam na terra portucalense os elementos de independencia, que mais tarde deviam produzir a forma??o da nacionalidade portugueza. A cada guerra civil a allian?a de Henrique era solicitada com empenho e ninguem ousava regatear-lhe as concess?es, ou p?r cobro ás demasias do seu poder. A sua supremacia era incontestavel, reconheciam agora uns, logo outros, e a final todos.
N'aquellas epochas de preponderancia feudal e militar, a politica sagaz de D. Henrique n?o dependia só da sua ambi??o e do seu espirito elevado. Era indispensavel que os cavalleiros portuguezes seguissem de boa vontade as modifica??es da politica do conde borgonhez e de D. Tareja, e que sacrificassem a um principio geral as affei??es e os interesses que podessem liga-los a D. Urraca, a D. Affonso, ou aos fidalgos gallegos.
Essa necessidade reconhecida por todos dominava o animo dos portuguezes. Unia-os o desejo da propria independencia, sentimento especial da nossa ra?a, que o decurso de tantos seculos ainda n?o p?de destruir, nem a unidade da civilisa??o moderna conseguiu modificar. Os portuguezes do come?o do seculo XII seguiram o conde Henrique em todas as suas mudan?as politicas e diplomaticas com tal confian?a e tenacidade, que ambas se podem enumerar entre as causas mais energicas da independencia de Portugal.
Sem esta uni?o intima entre o chefe do estado e os seus magnates, a gente portugueza ter-se-ía dividido nos differentes bandos em que frequentemente se separava a familia hespanhola, e d'essa divis?o resultaria o enfraquecimento do poder material e da for?a moral de D. Henrique, bem como a impossibilidade de resistir aos esfor?os do monarcha de Le?o, quando este principe tentasse encorporar de novo nos seus dominios a terra portugueza.
O desejo de possuir a maior por??o possivel dos estados de Affonso VI prevalecia sobre qualquer outro pensamento no animo do conde de Portugal. Por isso talvez n?o acudiu a Santarem e ás outras terras do sul, que os arabes tomaram de novo, e apenas p?de empregar-se em socegar os habitantes de Coimbra, que irritados pelo procedimento de Munio Barroso e
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