fiquei com estes. Eu tambem
bebi do licor. Não imaginas, Mãe! nunca subi tão alto! Ainda mais alto
do que o verbo ganhar!
Havia uma rã que tinha entrado comigo ao mesmo tempo. A rã tambem
estava a augmentar.
Depois, quando já estava quasi do tamanho de um boi, a rã estoirou.
Coitada! Como antigamente, em latim.
Então, puz-me logo a escorregar desde lá de cima, até aonde eu já tinha
amarinhado; desde mais alto do que o verbo ganhar.
A escorregar, a ser necessario escorregar, a querer por força escorregar,
a custar immenso escorregar, a fazer doer escorregar, a escorregar.--O
verbo desinchar!
O verbo desinchar dura muito tempo. No fim do verbo desinchar é
outra vez a terra, cá em baixo.
+FIM DA SEGUNDA PARTE+
+CONFIDENCIAS+
Mãe! doe-me o peito. Bati com o peito contra a estatua que tem em
cima o verbo ganhar. Ainda não sei como foi. Eu ia tão contente! eu ia
a pensar em ti e no verbo saber e no verbo ganhar. Estava tudo a ser tão
facil! Já estava a imaginar a tua alegria quando eu voltásse a casa com
o verbo saber e o verbo ganhar, um em cada mão!
Doe-me muito o peito, Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Mãe!
Já não volto á cidade sem ir comtigo! para a cidade ser bonita. Irmos os
dois juntos de braço-dado, e andarmos assim a passear; para ver como
tudo està pôsto na cidade por causa de ti e de mim e por causa dos
outros que andam de braço-dado.
Mãe! dize essa metade que tu sabes do que é necessario saber, dize essa
metade que tu sabes tão bem! para eu pensar na outra metade.
Se não houvésse senão homens e saltimbancos eu ia buscar a outra
metade, mas os saltimbancos estão vestidos como os homens, e os
homens estão vestidos como os saltimbancos, ambos estão vestidos de
uma só maneira, não sei quaes são os homens nem os saltimbancos,
elles tambem não o sabem,--não ha senão losangos de arlequim!
Mãe!
Quando eu vinha para casa a multidão ia na outra direcção. Tive de me
fazer ainda mais pequeno e escorregadío, para não ir na onda.
Perguntei para onde iam tão unidos, assim, com tanto balanço.
Responderam-me: Para deante! para a frente!
Iam para deante! iam para a frente!
Fiquei a pensar na multidão.
O meu anjo da guarda disse-me: Prompto! A multidão já passou, levou
um quarto d'hora a passar. A multidão não é senão aquillo que levou
um quarto d'hora a passar. Prompto! já está vista! anda d'ahi!
O meu anjo da guarda está sempre dizer-me: De que estás á espera? Vá,
anda! Começa já! Começa já a cuidar da tua presença!
Não sei o que o meu anjo da guarda quer que eu advinhe em taes
palavras.
Outras vezes, o meu anjo da guarda pede-me para que seja eu o anjo da
guarda d'elle.
Mãe!
Hoje acordei todo virado para deante. Assim, como tu o compreendes,
Mãe!
Vi as coisas do ar que havia, as coisas que estavam focadas com o ar de
hoje. As lembranças já estão inteiras, muito poucos os minutos falsos.
Fiz todas as horas do Sol e as da sombra. Ao chegar a noite estive de
accordo com o Sol no que houve desde manhã até ser bastante a luz por
hoje. Depois veiu o somno. E o somno chegou a horas. Antes do somno
ainda houve uma imagem--um leão a dormir!
Na verdade, não ha somno mais bem ganho do que o de um leão a
dormir com restos de sangue ainda no focinho, como os leões de pedra
que ha nas escadarias por onde se sobe depois da batalha!
+RETRATO DA ESTRELLA QUE GUIOU O FILHO PRODIGO NA
VOLTA Á CASA PATERNA+
Na praia uma menina perguntou-me se eu era rico. Estava de gatas e
muito longe, a perguntar-me se eu era rico.
* * * * *
Todas as manhãs ia brincar com os vizinhos para a sombra da egreja.
Depois do almoço a sombra era do outro lado.
* * * * *
Quando as meninas corriam no jardim, os cabellos e os vestidos
ficavam para traz.
* * * * *
A rapariga das laranjas tinha uma linda voz para vender laranjas. As
pessoas ficavam co'as laranjas na mão a ouví-la.
* * * * *
A larangeira ao pé da nóra já me conhecia--punha-se a fingir que era o
vento que a fazia mexer.
* * * * *
Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias em que chove ponho-me
a pensar que não sou eu só que vivo arreliado. Depois, o cheiro da terra
molhada é que me faz de novo animar.
* * * * *
Ás vezes ponho-me a pensar em coisas que eu
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