ti, lá em baixo na terra. Esse logar é o teu! o teu logar é a
tua fortuna! o teu logar é a tua gloria. Não deixes o teu logar vazio, nem
te deixes pr'áhi sem logar.
«Não te aleijes a procurar outras fortunas que não terás,--ha uma só
para ti--é a unica que ha para ti, não serve senão para ti, não serve para
os outros,--é por isto que ella é a tua fortuna!
«Porque viéste ajoelhar-te aqui aos pés da minha cruz? Foi porque a tua
cabeça se encheu de duvida?...
Tanto melhor! Aproveita agora que tens a duvida dentro da tua cabeça,
aproveita a sorte de têres a duvida dentro da tua cabeça. Não te cances
de ter esta sorte!
«Não tenhas mêdo de estares a ver a tua cabeça a ir directamente para a
loucura, não tenhas mêdo! Deixa-a ir até á loucura! ajuda-a a ir até á
loucura. Vae tu tambem pessoalmente, co'a tua cabeça até á loucura!
Vem ler a loucura escripta na palma da tua mão. Fecha a tua mão, com
força. Agarra bem a loucura dentro da tua mão!
«Senão... se tens mêdo da duvida e te pões a fugir d'ella por môr da
loucura que já está á vista, se não começas desde já a desbastar a
fantasia que cresceu no logar marcado para ti, lá em baixo na terra; se
não pretendes transformar essa fantasia em imaginação tranquilla e
creadora...
... um dia a loucura virá plo seu proprio pé bater á tua porta, e tu,
desprevenido, e tu sem mãos para a esganar, porque a loucura já será
maior do que na palma da tua mão, porque a loucura será maior do que
as tuas mãos, porque a loucura poderá mais do que tu com as tuas mãos;
e ella fará de ti o pior de todos, por não teres sabido servir-te d'ella
como tu devias sabe-lo querer!
+FIM DE DIA+
Um por um, toda a humanidade ouviu a Cruz da encruzilhada, e a cada
um parecia-lhe reconhecer aquelle modo de fallar.
Havia oliveiras á beira da estrada para a gente se encostar.
Antes de cada um chegar a casa havia um chafariz para matar a sêde.
Eu não sabia que o chafariz tinha tanto que vêr--havia muitos soldados
por causa das raparigas a encher as bilhas!
Depois o Sol começou a ficar muito encarnado e cada vez maior por
detraz das dunas, muito encarnado, e deixou-me sósinho em cima do
muro.
Do lado do mar ouvia-se uma nóra a puxar agua. O boi tinha os olhos
guardados para não entontecer. Os alcatruzes da nóra subiam por um
lado e desciam plo outro lado--como hontem!
A musica da nóra só tem uma volta. Todos os dias. Ámanhã tambem,
os alcatruzes da nóra vão subir por aqui e descer por lá. Todos os dias.
Em baixo a Terra, em cima o Sol.
Quando olharam para traz, a Cruz da encruzilhada já estava muito
longe. Era necessario acertar a vista para a reconhecer. Mas, era sem
duvida ella, a cruz inconfundivel--aquella onde cabe um homem inteiro
e de pé!
+FIM DA PRIMEIRA PARTE+
+CONFIDENCIAS+
Mãe! a oleografia está a entornar o amarello do Deserto por cima da
minha vida. O amarello do Deserto é mais comprido do que um dia
todo!
Mãe! eu queria ser o arabe! Eu queria raptar a menina loira! Eu queria
saber raptar.
Dá-me um cavallo, mãe! Até á palmeira verde esmeralda! E o anel?!
A minha cabeça amollece ao sol sobre a areia movediça do Deserto! A
minha cabeça está molle como a minha almofada!
Ha uns signaes dentro da minha cabeça, como os signaes do Egypcio,
como os signaes do Phenicio. Os signaes d'estes já teem antecedentes e
eu ainda vou para a vida.
Não ha muros para que haja estrada! Não ha muros para pôr cartazes!
Não está a mão de tinta preta a apontar--por aqui!
Só ha sombra do Sol nas larangeiras da outra margem; e todas as noites
o somno chega roubado!
Mãe! As estrellas estão a mentir. Luzem quando mentem. Mentem
quando luzem. Estão a luzir, ou mentem?
Já ia a cuspir para o ceu!
Mãe! a minha estrella é doida! Coube-me nas sortes a Estrella-doida!
Mãe! dá-me um cavallo! Eu já sou o gallope! Ha uma palmeira, Mãe!
O que quer dizer um anel? Tem uma esmeralda.
Mãe! eu quero ser as trez oleografias!
* * * * *
Mãe!
Em cima das estatuas está o verbo ganhar, Mãe! será para mim?
Quando passo pelas estatuas fico parado. A olhar para cima das
estatuas. Fico parado a subir. Não sei quem me agarra para me levantar
ao ar. Agarram-me por debaixo dos braços para me levantar ao ar. Para
eu ver o verbo ganhar em cima das estatuas.
* * *
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