que é a minha ben??o sobre a terra. Quando o meu genro morreu, por causa d'uma ferida, que fez em uma perna com o seu machado, porque elle era rachador de lenha na serra, e a quem minha filha, m?i de Rosa, seguiu passado pouco tempo, quasi que enlouqueci, porque n?o sabia o que havia de fazer. Rosa, disse-me com a sua voz meiga e humilde: avósinha, eu conhe?o uma senhora muito caritativa; vamos a sua casa, que estou certa nos ha-de recolher. E foi verdade.
A snr.^a D. Thereza, essa boa e caritativa senhora, para quem pe?o a Deus todos os beneficios e ben??os, teve a caridade de recolher em sua casa uma velha enferma e inutil como eu. Mas isto devo-o a Rosinha, porque ella sabe dizer as cousas de tal maneira, que, penetrando até o cora??o, commovem e decidem á compaix?o. Vai em dezoito mezes que aqui nos achamos. Fio um pouco para n?o estar em descan?o; mas Rosinha, senhora, Rosinha, cantando sempre, trabalha desde pela manh? até á noite. Em quanto que dura o ver?o, occupa-se a colher fl?res na serra e no campo, e a fazer cestinhos com ellas; mas isto n?o obsta a que, quando se recolhe, lave a roupa, limpe os moveis, e ajude a cozinhar, e se quizesse dizer-vos tudo o que ella faz, ou sabe fazer, levar-me-ia muito tempo.
Assim, amo muito a minha querida Rosinha. Mas onde estás tu, que te n?o chegas a mim para te dar um abra?o?
Rosa, com o pretexto de ir colher um ramo para D. Julia, tinha-se retirado, quando a avó come?ára a elogial-a.
A viscondessa e sua filha ouviram com prazer o panegyrico de Rosa, feito pela avó, e iam fazer novas perguntas, quando D. Thereza chegou.
Depois de terminados os comprimentos preliminares, a viscondessa expoz a D. Thereza como sua filha sympathisára com Rosa, e estava resolvida a tomal-a sob a sua protec??o, se D. Thereza a isso se n?o oppozesse.
--Primeiro que tudo--respondeu D. Thereza--desejo a felicidade e venturas de Rosinha, ainda que me ha-de custar muito a separar-me d'ella: porém, se f?r sua vontade, n?o me opponho, por que julgo lhe procuraes a sua felicidade; mas ponho por condi??o, que lhe n?o prohibireis vir algumas vezes visitar-me.
--Isso, senhora, é um dever sagrado, que Rosa tem a cumprir. Vamos porém interrogal-a, por que ella nada sabe do que acabamos de fallar.
D. Thereza chamou a pequena, que veio correndo, e disse-lhe:
--Rosinha, queres ir viver com esta senhora e sua filha?
--Pois vós, senhora--respondeu Rosa tremula e timida--quereis mandar-me embora?
--N?o. Pergunto sómente se me queres deixar, para te tornares uma menina da cidade, instruida e de maneiras polidas?
--N?o, minha senhora. Nunca--disse Rosa chorando, lan?ando-se nos bra?os da sua bemfeitora--nunca vos deixarei. Tenho muitos e muitos desejos de me instruir e de aprender, mas, se para isso é necessario o deixar-vos, antes quero ficar ignorante toda a minha vida. Recolheste-nos, senhora, quando eu e a minha querida avósinha, estavamos quasi a morrer de fome, e havia de ser t?o ingrata, que, quando principio a servir d'alguma utilidade, vos abandonasse? N?o, senhora, nunca, nunca vos deixarei.
--Ouvistel-a, minhas senhoras--disse D. Thereza enxugando os olhos, razos de lagrimas.
--Pelo que vejo, Rosa, estás bem decidida a n?o vir comnosco?--lhe disse a viscondessa.
--Seria feliz e muito feliz, minha senhora, se podesse ir viver na sua companhia, e de sua estimavel filha; mas antes de vós, está a snr.^a D. Thereza, que salvou a minha pobre avósinha d'estender a m?o á caridade publica e que sempre t?o minha amiga tem sido. Perdoai-me, senhora, se assim fallo...
--Dá-me um abra?o, minha menina--lhe disse a viscondessa interrompendo-a--dá-me um abra?o, porque te mostraste tal, como eu desejava, boa, humilde e reconhecida aos beneficios, que te fazem.
N?o tenhas receio, que te separemos da snr.^a D. Thereza. Pediremos sómente á tua bemfeitora, que nos deixe entrar com metade nos beneficios, que te prodigalisa.
--E eu, Rosa--acrescentou D. Julia--quero ser a tua preceptora. Quando o tempo estiver bom, dar-te-hei as li??es na serra, á sombra d'um sobreiro, ou d'um pinheiro, ou á borda d'um regato; e quando estiver mau, dar-tas-hei em minha casa, porque ouso esperar, que a snr.^a D. Thereza me n?o negará este favor, e prazer.
--Oh n?o, minha senhora, esteja certa d'isso. Logo que termine o seu servi?o dos cestinhos fica livre para vos ir procurar.
--é objecto convencionado--disse a viscondessa--por isso a snr.^a D. Thereza ha-de-me permittir licen?a de offerecer a Rosa, para si e sua avó, o que contém esta pequena bolsa. é para comprar em nosso nome um vestido novo.
E como D. Thereza, Rosa e a avó lhe fizessem muitos agradecimentos, a viscondessa impoz-lhes com brandura silencio, e retirou-se, promettendo voltar muito breve á quinta.
D. Julia abra?ou a sua pequena discipula, e retirou-se dizendo-lhe ?até ámanh??.
Nas proximidades de casa a viscondessa e sua filha encontraram D. Bertha, que estava esperando pelas
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