face com um monstrosinho, parece-me um tanto aborrecivel.
--Rosa é muito linda e interessante.
--Para ti, Julia, todas as lavradeiras s?o lindas e interessantes. Para mim todas s?o feias, e broncas. O calor principia a incommodar-me--disse D. Bertha, sentando-se indolentemente sobre um sophá.--Vai, Julia, vai pintar o teu lindo cestinho, que eu vou sonhar com o meu Porto, para onde espero ir muito breve.
Estas ultimas palavras já mal se perceberam, porque foram acompanhadas com um bocejo, e D. Bertha cerrou os olhos.
D. Julia lan?ou sobre sua irm? um olhar de compaix?o e sahiu.
Alguns instantes depois deu principio ao quadro.
VII.
No dia seguinte Rosa sahiu para a serra, muito cêdo, para adiantar o seu trabalho, e poder assim dedicar mais tempo á joven senhora, que t?o amavel e generosa tinha sido com ella.
Trabalhou com tal desembara?o, que, muito antes da hora marcada por D. Julia, tinha terminado o seu servi?o.
Aproveitou portanto o tempo entregando-se á leitura d'algumas paginas d'um livro, de que lhe tinham feito presente no dia anterior. Lia com atten??o, e, quando encontrava algum trecho rico e bello, parava, para exprimir a sua alegria e enthusiasmo.
Estava Rosa de tal sorte entregue á leitura, que n?o presentiu a chegada da viscondessa e de sua filha D. Julia.
--Que livro estás lendo, com tanta atten??o, minha menina--lhe disse a viscondessa.
Rosa saudou-a, apresentou-lhe o livro e respondeu:
--S?o as Medita??es religiosas de Rodrigues de Bastos.
--E encontras grande prazer na sua leitura?
--Se encontro, minha senhora. Quando estou sentada á borda d'um regato, ou debaixo d'um carvalho annoso, lendo n'este livro, parece que a minha alma se despe de todos os seus envolucros terrenos e mundanos, e se p?e em contacto com Deus, author de todas estas maravilhas da natureza, que nos cercam, e a quem no fundo do meu cora??o adoro e venero.
A viscondessa e sua filha, admiradas do que ouviam a uma pequena do campo, trocaram entre si um olhar d'intelligencia.
--E que mais costumas lêr?--perguntou D. Julia.
--N?o tenho muitos livros. Além d'este possuo um cathecismo, uma vida de santos, de que leio uma pagina cada domingo, e mais uns livrinhos d'historias bonitas. Esquecia-me dizer-vos, que tambem tenho um livro de geographia, que me deu o mestre escóla da minha freguezia, mas que n?o leio, por que tem muitas palavras, que n?o entendo.
--Pelo que me dizes conhe?o que tens desejos de te instruires. Se te proporcionassem os meios de o fazeres, serias feliz?
--Seria, sim, minha senhora; mas infelizmente isso é impossivel, porque, para ir todos os dias á mestra, é preciso ser muito rica.
--Mas se te mandassem á mestra?--insistiu D. Julia.
--Seria muito feliz, mas nem quero pensar n'isso.
--Pelo contrario; eu e minha m?i, viemos procurar-te para que nos conduzisses a casa da snr.^a D. Thereza, e, se a tua protectora estiver satisfeita comtigo, pedir-lhe-hemos para te deixar ir todos os dias á mestra. Ent?o n?o respondes?
--Perdoai-me, senhora. Estou muito contente e alegre, e queria agradecer-vos, mas n?o posso. Que fiz eu para merecer tantos beneficios?
--Mostraste-te reconhecida aos beneficios da snr.^a D. Thereza, e isso indica um bom cora??o; és trabalhadeira e tens desejos de te instruires; mereces portanto que nos interessemos por ti--lhe disse a viscondessa.--Vamos, ensina-nos o caminho para a quinta da snr.^a D. Thereza.
Rosa, commovida, dirigiu-se para a quinta com a viscondessa e sua filha. Pelo caminho respondeu modestamente, e com gra?a, a todas as perguntas, que lhe fizeram, e cada uma das respostas confirmou mais, as duas senhoras, no bom conceito, que tinham formado de Rosa.
Quando chegaram á quinta, D. Thereza n?o estava em casa, mas n?o devia tardar muito, por isso esperaram. Rosa apresentou ás duas senhoras cadeiras para se sentarem e offereceu-lhes um copinho de leite fresco e morno.
D. Julia, a quem o caminho tinha fatigado, aceitou o offerecimento.
Rosa trouxe ent?o uma toalha de linho, alvo como neve, que estendeu sobre uma mesa, na qual collocou o melhor p?o, que havia em casa, manteiga e um copo de leite.
D. Julia, com uma alegria infantil, aceitou este lunch frugal, e, reanimadas com elle as suas for?as, pediu para visitar a quinta.
A avó de Rosa estava sentada no jardim, debaixo d'um caramanchel de clematites, fiando, e cantando com voz tremula o estribilho d'um romance antigo. N'esta boa velha, bem vestida e de boa presen?a, ninguem seria capaz de reconhecer a pobre cega, que dezoito mezes antes, quasi morrendo de fome e frio, e podendo apenas suster-se em pé, encontramos seguindo o caminho da serra de Vallongo para S. Cosme.
A viscondessa do Candal e sua filha saudaram a pobre cega, e esta, prevenida pela netinha, correspondeu-lhe respeitosamente.
--N?o vos incommodeis, boa mulher---lhe disse a viscondessa--permitti-nos sómente que conversemos por um instante convosco.
--é muita honra para mim, minha querida senhora;--respondeu a cega--estou portanto ás vossas ordens.
--Visto isso n?o vos recusareis a dizer-me se estaes satisfeita com a vossa neta?
--Se estou contente com a minha Rosinha?!--exclamou a cega---com ella,
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