meninas Meirelles.
--Meu Deus, como estou aborrecida--lhes disse ella.
--Pois eu, minha irm?--respondeu D. Julia--venho muito alegre; o espectaculo, que acabo de gosar, dar-me-ha felicidade n?o só para hoje, mas tambem para muito tempo, porque será contado no numero das minhas mais gratas e queridas recorda??es.
VIII.
D. Julia, na fórma convencionada, principiou no seguinte dia o curso, que queria fazer seguir a Rosa. Tomou com ardor a obriga??o, que se tinha imposto desempenhar, mas o seu zelo n?o excedia, o que mostrava a sua alumna. Intelligente, e anciosa por aprender, Rosa era incansavel, e muitas vezes foi preciso que D. Julia moderasse a sua applica??o; as li??es tinham lugar umas vezes na serra, outras vezes em casa da viscondessa.
Decorreram assim tres mezes. No fim d'este tempo, os progressos, que Rosa tinha feito, eram espantosos, e como tanto a professora, como a discipula n?o afrouxavam no seu zelo, era d'esperar que, no fim dos dous mezes que D. Julia ainda tinha a passar no campo, Rosa estivesse bastante desenvolvida para continuar, sem nada esquecer, a estudar sósinha, durante o inverno.
Mas, quando menos se esperava, a terrivel molestia, que parecia ter deixado D. Julia, reappareceu com uma intensidade violenta.
A pobre menina n?o teve for?as para resistir a este ataque, e n?o podia sahir do quarto.
Rosa, que no auge da sua desespera??o, com risco da propria vida, quereria dar algumas for?as á amiga do seu cora??o, podia a custo conter as lagrimas, contemplando-a, pallida e cadaverica, recostada n'uma cadeira de bra?os, forcejando por se levantar sem auxilio, para n?o aterrar a sua querida m?i e a sua discipula predilecta.
N'este momento Rosa tinha um unico pensamento; o de sacrificar-se por aquella, que tanto a amava e lhe queria. Os mais pequenos desejos, e os mais vagos caprichos eram adivinhados de Rosa, e executados antes mesmo que D. Julia os tivesse enunciado. Se queria descer ao jardim, o bra?o de Rosa é que a amparava; se queria ouvir alguma passagem dos seus livros favoritos, Rosa lia-lh'a immediatamente.
D. Julia, muito sensibilisada por tanta dedica??o, affligia-se com a lembran?a, de que o progresso da sua discipula estava parado. D. Bertha podia substituil-a, mas essa nunca consentiria em ser a precept?ra d'uma lavradeira. A viscondessa resolveu-se a dar as li??es a Rosa, para socegar a inquieta??o de D. Julia.
Havia já tres semanas que D. Julia estava doente, e cada dia ia a peor; sua m?i já n?o tinha esperan?as algumas. Tres medicos, que do Porto haviam sido chamados, n?o deram esperan?as da doente melhorar.
A viscondessa, porém, n?o podendo convencer-se de que sua filha estava irremediavelmente perdida, cria que os medicos se tinham enganado, e resolveu recolher ao Porto, para lhe fazer uma nova junta.
D. Bertha, contristada ao principio com a molestia de sua irm?, consolava-se com a idéa de voltar ao seio da sociedade, que ella tanto amava.
Só á for?a de muitas instancias e esfor?os é que D. Julia consentiu em deixar o campo; mas, ainda assim, com a expressa condi??o de para lá voltar se peorasse.
Quando Rosa soube que a viscondessa se ia retirar do campo, n?o p?de conter a sua desespera??o. Queria acompanhar D. Julia, e n?o a desamparar um só instante. D. Julia procurava socegal-a, mas tudo era baldado, por que Rosa estava inconsolavel.
Na vespera da partida Rosa veio despedir-se de D. Julia; lan?ou-se-lhe aos pés, chorando, e pediu-lhe que lhe escrevesse muitas e muitas vezes. A doente assim lh'o prometteu, e, tirando debaixo do travesseiro uma bolsinha de sêda, apresentou-a a Rosa.
--Aceita, minha menina--lhe disse ella--esta bolsa; contem cem mil reis, que s?o as minhas economias do ver?o; p?e a juros este dinheiro, para que se augmente este capitalsinho.
é um presente muito pequeno; mas se nos n?o tornarmos a vêr, minha boa m?i, dar-te-ha, em meu nome, mais alguma cousa.
Rosa beijou as m?os de D. Julia, e queria recusar a bolsa.
--N?o recuses, Rosa--tornou D. Julia--sen?o f?r para ti, é para tua avó. Sabes lá o que tem para vos acontecer, e se esta pequena somma ainda vos será util? Adeus, Rosinha; ama-me sempre muito, e reza muito ao Senhor, para que me dê saude.
Rosa quiz responder, mas as lagrimas e solu?os embargaram-lhe a voz. A viscondessa, testemunha d'esta scena t?o tocante, temendo as funestas consequencias, que sua filha soffreria com t?o grande commo??o, levantou Rosa, e pediu-lhe com instancia e por favor que se retirasse. A pobre menina cedeu a custo, mas antes de se retirar ainda p?de vêr D. Julia, que, com um olhar maternal, a aben?oava.
IX.
Já tinha decorrido mais d'um mez, desde que D. Julia recolhera ao Porto, e Rosa ainda n?o tinha recebido carta da sua amiga. A pobre crian?a affligia-se, julgando, que este silencio, para com ella, n?o tinha outra causa, sen?o o estado cada vez mais perigoso de D. Julia. D. Thereza, que partilhava do pesar de sua filha adoptiva, procurava por
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