mais d'uma occasi?o julguei que minha avó ficava na estrada, porque já n?o podia andar; mas o Senhor teve misericordia de nós, e felizmente terminamos a jornada. A snr.^a D. Thereza tratou-nos com muita bondade, e recolheu-nos em sua casa, apesar de sermos um encargo muito pesado.
--Amas ent?o muito a snr.^a D. Thereza?
--Se a amo. N?o queria mais nada, sen?o poder reconhecer todo o bem, que nos faz. N?o desejo sen?o crescer e robustecer para lhe poder servir d'utilidade.
--Estou muito contente, minha pequena, por te ouvir fallar assim. Quando te vi senti-me attrahida para ti, e ficaria muito desgostosa se te n?o encontrasse com sentimentos dignos da estima que te consagro.
Parece-me que o meu cesto está acabado?
--Ainda lhe falta uma cercadura de n?o me deixes. Permitti, senhora, que eu vá ao proximo ribeiro colher estas fl?res, porque alli as ha mais frescas, e em mais abundancia.
--Ide, que aqui te espero.
Rosa partiu correndo.
D. Julia d'Andrade, que tanto interesse mostrava pela protegida de D. Thereza, tinha vinte annos.
O cabello preto muito comprido, e naturalmente encaracolado, fazia-lhe sobresahir ainda mais a pallidez do rosto. Os olhos castanhos tinham um brilho de febre. A physionomia demonstrava um padecimento interno, n'uma palavra, estava affectada d'uma tisica pulmonar.
Sua m?i, a viscondessa do Candal, receiando pela vida de D. Julia, tinha consultado os mais acreditados medicos de Lisboa e Porto, e todos tinham aconselhado os ares do campo, e o n?o constrangimento, como os meios mais proficuos para debellar a molestia. A viscondessa tinha portanto deixado o Porto e ido habitar com suas filhas D. Julia e D. Bertha uma quinta proximo da serra de Vallongo.
D. Julia parecia que revivia no meio da luxuosa natureza, que a cercava. Todos os dias dava grandes passeios, e distrahia-se ou sentando-se á sombra dos carvalhos e sobreiros, ou embrenhando-se entre as ?ar?as. Ao principio a viscondessa receiou que estes passeios t?o longos prejudicassem a saude de sua filha, mas vendo-a mais alegre e mais vigorosa, e que se a pallidez n?o tinha desapparecido, a express?o soffred?ra do rosto era menos pronunciada, ficou mais socegada e esperou obter o triumpho sobre a molestia.
D. Julia era t?o boa, e ao mesmo tempo t?o prudente, que sua m?i n?o temia deixal-a em plena liberdade, e gosar da vida segundo as suas phantasias.
A viscondessa queria que D. Bertha acompanhasse sua irm? nos seus passeios; mas D. Bertha, que era uma joven de 16 annos d'idade, orgulhosa do seu nascimento e belleza, recusou obstinadamente acompanhar sua irm?, dando como raz?o, que lhe repugnava o juntar-se como ella com esses estupidos e rudes alde?os, que habitam os campos, e a quem ella acariciava, e que além d'isso estragava os seus vestidos seguindo D. Julia pelos caminhos estreitos e escabrosos dos campos e da serra. As mil vozes da natureza eram mudas para D. Bertha; no seu cora??o só imperava o egoismo.
Num d'estes passeios é que D. Julia encontrou Rosinha, e que ficou encantada com a sua innocencia.
Havia muito que D. Julia esperava Rosa, e já receava que ella n?o voltasse, quando a viu vir correndo.
--Perdoai-me, senhora, o ter-vos feito esperar tanto tempo, mas eu fui muito longe colher as violetas e os n?o me deixes, porque queria que o meu cestinho vos agradasse.--Assim fallando Rosa apresentou a D. Julia um cestinho, que era um primor d'arte no gosto, e esperou toda confusa, a sua aprecia??o.
Uma alegre exclama??o de D. Julia lhe fez vir o sorriso aos labios.
--Quero abra?ar-te, minha querida menina; ha muito tempo que n?o vi nada t?o lindo, e como me causaste um grande prazer, quero recompensar-te; mas deixa-me ainda admirar o teu bello trabalho.
Este cestinho podia vêr-se. No centro tinha raminhos de violetas com as folhas verdes, ainda humidas; uma cor?a de lirios cercava as violetas, e em volta uma grinalda de musgo, semeada de raminhos de rosas amarellas e geranios. Dous ramos de madre-silva serpenteavam por entre os juncos formando as azas.
--N?o quero--disse D. Julia, depois d'alguns instantes de silencio--que uma obra t?o bella tenha um viver ephemero; vou já bordar um quadro, cópia d'este cestinho, que ha-de ficar muito rico. Mas, Rosinha, quanto queres por este trabalho?
--Dar-me-ha o que quizer, minha senhora, como costumam fazer as outras minhas freguezas.
--Mas quanto é que custam ordinariamente?
--Tres ou quatro vintens.
--Quatro vintens!--disse D. Julia admirada.
--Acha caro, minha senhora?--disse Rosa com acanhamento.
--Caro, n?o, minha pequena. Quando estava no Porto pagava, por muito maior pre?o, ramos que tinham muito menos valor, que o teu cestinho. Toma, Rosinha, n?o tenho aqui sen?o esta meia cor?a, mas amanha a esta hora apparece aqui, e fallaremos...
--N?o posso aceitar o que me dáes, minha senhora, porque é muito.
--Queres fazer-me zangar?
--N?o, senhora. é a primeira vez que a vejo, mas já a estimo muito. Eu n?o preciso de nada; a snr.^a D. Thereza é muito minha amiga e...
--N?o é uma esmola que
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