e anima??o, esta poetica crian?a fazia cestinhos de vimes e juncos, que guarnecia com musgo e fl?res silvestres, mas com um gosto e belleza exquisito, os quaes D. Thereza mandava vender, dando sempre bom pre?o.
Ganharam renome os cestos de Rosa.
Em todas as quintas e casas ricas dos arredores n?o queriam outros, e até muitas familias da cidade, que iam passar o ver?o áquelles sitios, compravam e procuravam com avidez os cestos d'esta gentil ramalheteira.
D. Thereza, como mulher que comprehendia os seus interesses, entendeu que lhe era de mais proveito o empregar Rosa, durante a primavera, a fazer cestos e ramos, do que na quinta, por isso assim o determinou. Quando Rosa o soube, saltou d'alegria, por que se dava melhor á sombra dos pinheiros e carvalhos, do que em casa.
Passou-se assim o ver?o, e D. Thereza n?o teve que se arrepender da sua resolu??o. Um certo numero de meias cor?as de prata provou o bom resultado do negocio de cestos e fl?res.
O inverno pareceu triste e monotono a Rosa. Tinha-se habituado de tal maneira a ir todas as manh?s para a serra, que chegava muitas vezes a esquecer-se do trabalho, e ir insensivelmente até á baixa d'ella. Voltava ent?o muito apressada á quinta e redobrava d'actividade, para fazer esquecer as suas faltas involuntarias.
Occupou-se a fiar quasi todo o inverno, e o producto do seu trabalho foi augmentar o pequeno thesouro principiado com a venda dos cestos e fl?res.
D. Thereza considerava Rosa como sua filha, n?o podendo estar sem ella um unico instante, e nos dias de feiras e romarias tinha gosto em que Rosa apparecesse entre as mais lindas e mais ornadas lavradeiras do lugar.
A amisade, que tinha a Rosa, reflectia-se na avó; tratava-a com tal respeito e affabilidade, que a poderiam tomar por m?i de D. Thereza, tanto ella a cercava de cuidados e desvelos.
A felicidade da pobre cega, e bem assim o futuro de Rosa poder-se-iam julgar seguros; mas como nada n'este mundo é immutavel, o momento, em que a adversidade ia estender o seu bra?o de ferro sobre as duas infelizes, n?o estava longe.
V.
Voltou a primavera e com ella as encantadoras occupa??es de Rosa. Foi com enthusiasmo, que a candida e poetica crian?a encontrou as fl?res, suas amigas, com que preparou os primeiros ramos, que appareceram no mercado.
Os cestinhos e ramos de Rosa obtiveram uma grande extrac??o, como no anno anterior. Ia entregal-os pessoalmente nas casas ricas, e muitas vezes as senhoras morgadas, se julgavam felizes por ter em sua companhia esta linda crian?a por algum tempo.
Rosa, vestida á lavradeira, era muito galante e modesta; o seu metal de voz era agradavel, e as maneiras t?o delicadas, que quasi sempre as freguezas, ao pre?o do ramo, juntavam um presentinho para a vendedeira; mas quando perguntavam a Rosa o que era que mais estimava, respondia sempre, que o seu maior desejo era possuir um livro para se instruir.
Rosinha tinha uma paix?o ardente pelo estudo; quasi sem mestre tinha aprendido a lêr correntemente, e a sua maior alegria consistia em obter um livro para se entregar á leitura.
D. Thereza pela sua parte tambem n?o obstava aos desejos de Rosa, tanto que se lhe n?o dava que ella faltasse ás suas obriga??es; mas devemos fazer-lhe justi?a dizendo que sabia alliar a satisfa??o dos seus desejos, com o cumprimento dos seus deveres, por isso só depois de ter terminado os seus affazeres é que se dava ao estudo.
Estava Rosinha uma occasi?o sentada á borda d'um ribeiro, entretida a colher juncos para fazer um cesto, quando, sem ella o presentir, se lhe aproximou uma senhora ainda joven.
--Para que estaes escolhendo esses juncos, minha menina?--lhe disse a joven senhora com modo affavel.
Rosa levantou a cabe?a, e vendo a desconhecida, saudou-a e respondeu:
--Fa?o cestinhos com fl?res para vender.
--Quero ent?o já avaliar a vossa habilidade. Amo muito as fl?res, por isso queria que me fizesses um cestinho já, e se eu ficar contente has-de-me fazer um todos os dias. Aceitaes?
--Aceito, sim, minha senhora, e ainda que tenho muitas encommendas a satisfazer, vou já preparar o vosso.
--Assento-me aqui ao pé de ti e vamos conversando. Como te chamas?
--Rosa de Jesus, uma sua criada, minha senhora.
--Assim, Rosa, o teu trabalho é fazer cestos de fl?res para depois os ires vender?
--Sim, minha senhora.
--E teus paes em que se occupam?
--Já n?o tenho paes; só me resta minha avó, que é cega.
--és orph?, e onde moras?
--Estou em casa da snr.^a D. Thereza de Sousa, proprietaria em S. Cosme, t?o boa, como rica.
Ha um anno, que eu e minha avó n?o sabiamos aonde nos haviamos de recolher; estavamos em Dezembro, e havia dous dias que n?o tinhamos comido, quando de repente me lembrei da snr.^a D. Thereza. Eu e minha avó, que ent?o moravamos na serra de Vallongo, pozemos-nos a caminho para S. Cosme. O caminho é muito mau, por isso
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