aos cavalleiros e senhores,?e ás preciosas damas, que ao presente?t'escutam, piedosas sempre ás d?res:?narra-nos essa historia surprehente?d'esse genio infeliz, e esses horrores,?que trazes, como vejo, na lembran?a,?com mais respeito que a dos pares de Fran?a.
De novo tudo riu. Toda a sonora?e ampla salla echoou com as risadas.?Viam-se rir as boccas c?r d'aurora?das magnificas damas decotadas.?Duquezas louras, tran?as c?r d'amora,?com bellas m?os, macias, delicadas,?abafavam o riso em transparentes?len?os lacerados entre os dentes.
O velho ergueu-se em toda a magestade?e bradou n'uma voz terrivel, dura,?que fez cessar de prompto a hilaridade,?pelo tom nunca ouvido de amargura:?--?Ah! infeliz, indigna Humanidade?mil vezes infeliz! se a Creatura?sempre se risse assim do que é sublime?ou quando o mundo se infamou n'um crime!
Ah! infeliz mil vezes! se o que é nobre?e o que é infame, ignobil, monstruoso,?sob o Azul sagrado que nos cobre?tivesse o mesmo aplauso victorioso!?Maldito e excomungado fosse o pobre!?e maldito o Destino criminoso!?por trabalhar ainda para o mundo?com um suor inutil e infecundo!
?Maldita fosse a Vida e o ardente beijo?do Amor que produziu a Crea??o,?maldito o Sonho e as azas do Desejo?maldito o Pranto, a Ancia, e a Aspira??o!?Despenhada mil vezes sobre um brejo?de insondavel miseria e humilha??o
? mundo se abysmasse n'um inferno do implacavel, ancioso gelo eterno!
?Maldito fosse tudo o que suspira,?maldita a D?r, mais o solu?o Humano,?maldita a Alma e a lagrima da Lyra,?maldito tudo quanto é grande e insano!?Que sobre o mundo horrivel, onde gyra?a serpente da Idea no oceano?da treva, o derradeiro homem horrendo?expirasse, ainda rindo, e maldizendo!
?Agora, quanto a mim, ó altas damas?magnificas, divinas, scintillantes,?e cujos bellos olhos teem mais chammas?do que os olhos dos rigidos brilhantes,?antes d'ouvirdes os funestos dramas?da fome, horrorisai-vos, sabei antes?que eu sou só um plebeu vil que trabalha,?e que saio das ondas da canalha!
?Senti tambem em mim o fogo ardente?da Lyra perpassar-me pela fronte,?e amei tudo o que é justo e que é potente,?e meus irm?os chamei ao bosque e ao monte.?Nos desertos castellos do Occidente,?ás nuvens c?r de sangue do horisonte,?tambem eu fui sentar-me nas collinas,?a chorar sobre as glorias e as ruinas!
?Mas o Genio infeliz, o vulto immenso
? heroe cantor vencido pela morte esse que me perturba, quando penso no implacavel da tyrana Sorte, esse que já entrou no bosque denso, que já partiu o muro bronzeo e forte, que em breve v?o deitar na escura valla, esse, só de eu fallar... treme-me a falla!?
O velho ent?o contou a trabalhosa?lenda do Genio, a musa, e seu destino,?a intui??o da Natureza rumorosa?da flor, da sombra, e rio crystallino.?Como o Sol pae das plantas, e da rosa,?penhasco alcantillado e voz do sino,?Vegeta??es, florestas, nuvens, ventos,?e cellulas, raizes, pensamentos;
tudo que é vida que tem alma e sente,?tudo que é flor suave e tem perfume,?tudo que é aza e corta o ar luzente,?tudo que é astro, brilha ou que tem lume,?tudo que foge liquido e corrente,?tudo que em corpo e alma se resume,?tudo que é bello como o sol na alfombra?ou fundo e triste como a voz da Sombra,
todo esse vasto Todo verde e bello,?toda essa santa Natureza enorme,
? luar como a folha d'um cutello,
? minerio que crêem que só dorme, as heras nas ruinas do castello, os mulluscos e a larva humilde e informe, tudo isso bello ou feio que se ostenta, tem voz, tem alma, chora e se lamenta!
Mas que o Genio no meio d'isto tudo?soffre mais, porque entende estes lamentos!?Elle traduz a Dor d'isso que é mudo,?e resume os geraes desolamentos!?N?o tendo contra a Sorte um outro escudo?que n?o sejam seus fortes pensamentos,?passa curvado n'um pesar profundo,?--sentindo em si o mal de todo o mundo!
E todos escutavam silenciosos?damas, bar?es, religiosamente,?os sentidos geraes mysteriosos?das palavras do velho extranho e ardente.?E cuidavam ouvir os mil chorosos?e solu?antes ais, longinquamente,?das subterraneas Cousas infelizes:?os ais da planta e os choros das raizes!
Elle pintou depois o Genio, quando?deixou prender seu forte cora??o?nos sorrisos d'um gesto puro e brando,?e vagou na torrente da Paix?o.?Como feridos rouxinoes cantando,?os seus versos resavam da affli??o,?das tragedias, desgra?as e dos brados?dos tristes cora??es despeda?ados.
E as palavras sentidas, violentas?do plebeu calavam pelos peitos,?e sentiam-se ouvir como os tormentos?dos grandes cora??es santos desfeitos.?Parecia-se sentir as suarentas?e desvelladas noutes sobre os leitos?diamantes separados, solitarios,?mais gelados que os leitos funerarios!
Desenhou-o depois triste e exilado,?por todo o mundo errante peregrino,?vagando como heroe, como soldado,?a?outado do vento do Destino:?e o seu rude pezar fundo e divino?da grande viuvez do ente amado,?pondo-o nas rochas tragico e proscripto,?de bra?os levantados ao Infinito.
E todos escutavam, surprehendidos,?essas desgra?as barbaras sepultas?no mysterio do olvido, e esses gemidos?e essas sagradas lastimas inultas.?Bar?es e cavalleiros commovidos?enxugavam as lagrimas a occultas,?e as pallidas senhoras solu?antes?alagavam com prantos os brilhantes.
Depois pintou o horror da tempestade?e o assobio dos ventos nas procellas,?dos naufragios a lugubre verdade,?um navio sem mastros e sem vellas.?E o Genio do mar na immensidade,?á fria claridade das estrellas,?entre as ondas, os ventos, os espantos,?salvando o grande o livro dos seus
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.