Á hora do crime | Page 6

Francisco Luiz Coutinho de Miranda
é completamente negro e carregado de nuvens procellosas! A republica tem feito grandes conquistas no mundo! Na Fran?a opéra milagres! na Suissa dá nobres exemplos! na America offerece li??o proficua! no nosso irm?o e amigo Portugal cria profundas raizes! e até na propria Prussia produz phenomenos, porque ao passo que os exercitos devastadores do autocrata allem?o talam os campos verdejantes da bella Fran?a, para asphyxiar a democracia, o povo de Berlim, que é povo, e que por isso é nobre, e generoso, e republicano, como todos os seus irm?os no mundo, elege para seu representante ao parlamento o chefe ostensivo do partido republicano d'Allemanha! E é n'esta conjunctura, que a voz auctorisada de um velho respeitavel ha de trazer o desalento ao espirito dos valentes campe?es da democracia hespanhola?... N?o, D. Ramon! O futuro é nosso! Ao triumpho completo da Fran?a, e elle ha-de vir, deve seguir-se o derrocamento dos thronos! á emancipa??o do povo francez seguir-se-ha a emancipa??o da Europa! A derrota do tyranno allem?o deve necessariamente ser o signal da queda de todos os despotas do mundo!
(Durante esta falla tem entrado successivamente pelo fundo muitos individuos, e pela porta lateral D. Carlos, que recebe todos com cordialidade e affecto.)
TODOS
Apoiado!... Muito bem!... é assim!...

SCENA V
*Os mesmos, D. Carlos, e os recem-vindos*
D. EMILIO
(Voltando-se para o fundo) Eil-os, os nossos amigos! Em todos a mesma fé! Em todos a mesma esperan?a!
D. RAMON
(Aos recem-chegados) Conversavamos, eu e D. Emilio, acerca do futuro do paiz, e do obstaculo, n?o insuperavel, que a elei??o do rei pode trazer é realisa??o dos nossos desejos!
D. EMILIO
Tratemos porém agora do assumpto que aqui nos traz hoje. (A D. Ramon) D. Ramon, occupae a presidencia, vós, que sois o mais velho. (A D. Carlos) E vós, D. Carlos, exporeis as ras?es que vos determinaram a convocar esta reuni?o dos nossos amigos.
D. RAMON
(Occupando a presidencia) Acceito, n?o por vaidade; mas por condescendencia. Este logar pertence de direito ao honrado chefe do partido republicano hespanhol; que, modesto até ao extremo, nem mesmo entre os seus mais intimos e mais leaes amigos quer ser o primeiro; quando a verdade é que nenhum de nós se lhe avantaja, nem em talento, nem em virtude, nem em dedica??o!
TODOS
Apoiado! Apoiado! (D. Emilio agradece com o gesto)
D. CARLOS
Meus senhores, o rei está a chegar, o general Prim parte esta noute para Cartagena, a fim de o acompanhar a Madrid; é mister pois que o partido republicano tome uma delibera??o definitiva ácerca do procedimento que deve adoptar no dia da coroa??o do italiano.
UMA VOZ
Formule a sua proposta.
D. CARLOS
(Continuando) é o que vou fazer. Eu proponho que nós todos empreguemos os esfor?os possiveis, para que os nossos correligionarios madrilenos, sem excep??o de um só, se apresentem vestidos de lucto pesado no dia da chegada de Amadeu a Madrid. Creio que faremos assim uma imponente manifesta??o, visto que imperiosas ras?es partidarias obstam a que ella seja mais ruidosa e mais energica. é um protesto solemne contra a invas?o ambiciosa do estrangeiro, e ao mesmo tempo um aviso ao seu espirito, que verá de certo no lucto do povo um argumento vehemente contra os que por adula??o, por servilismo, por vil baixesa lhe h?o de dizer no pa?o real, que elle inspira amor áquelles que só sentem por elle profunda indifferen?a, se n?o lhe votam do intimo d'alma rancor e odio!
D. EMILIO
Approvo a idéa; mas pe?o para fazer uma observa??o, talvez desnecessaria. A manifesta??o dos republicanos deve ser digna e nobre, para ser magestosa! Envidemos toda a nossa energia, ponhamos em ac??o toda a nossa actividade, para que nem o italiano, nem o general que o fez rei d'Hespanha, soffram sequer um insulto! Amadeu é um principe ambicioso, talvez; mas julga acceitar legalmente a cor?a, por que legalmente lh'a julgou offerecer a maioria da assembléa constituinte, no erro fatal a que a levou o seu grande respeito por Prim, e o desconhecimento dos poderes limitados que lhe conferia o seu mandato! O marquez de los Castillejos, por mais fatal que fosse para a patria a sua obseca??o, ou quem sabe se a difficuldade da sua posi??o politica, é hespanhol e liberal, foi o mais valente caudilho da revolu??o de Cadix, é um cidad?o benemerito, é um general aguerrido, é o heroe do Mexico, de Reus, de Castillejos, de Marrocos e de Sarago?a! Que um e outro sejam pois respeitados por nós! Que Amadeu, quando o povo lhe indicar imperiosamente o caminho da sua patria, n?o possa accusar os republicanos d'Hespanha de uma grosseria, ou de uma crueldade! Que Prim possa ser de futuro o esteio solido da republica, como tem sido mais de uma vez o sustentaculo valente da liberdade! (Ouve-se fóra uma grande detona??o.)
TODOS
(Erguendo-se e correndo á janella) Que é isto? Que é isto?
D. RAMON
(á janella) Vejo muito povo aglomerado na esquina da rua do Turco... soldados e
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