engole taes patranhas.?
XVIII
?é falso! n?o consinto se pretenda?Menoscabar quem tanto se acrisola;?Mormente o bom ministro da fazenda,?Que, macio nos tributos, n?o esfola.??--?Fóra! fóra! seu traste d'encommenda!?Gritou o povoreo, este é granjola!??E o sucio, por temer as consequencias,?Escondeu-se nas mudas reticencias.
XIX
--?Eu sou republicano cá de dentro!??Disse um tal agarrando um pedregulho.?--Fóra, fóra!--clamaram lá do centro.?Crescera a vozearia e o barulho:?--?Ah! safa, seu canalha, que o desventro!?Já se calle, ou a boca lhe atafulho!?Lhe brada, faca em punho um vil fadista:?Acabemos com a ra?a realista.?
XX
Tal quando ronca o mar em tempestade,?Revolvido por grande furac?o,?E em montanhas de espuma corre, invade?Ainda a mais alt'rosa embarca??o;?Ou quando no aduar em feridade?De assalto abrindo as garras o le?o?Percorre a empolgar seu inimigo,?Assim o orador se viu em p'rigo.
XXI
Mas n'essa confus?o o paroleiro?Se esgueirava, fugindo com prudencia;?A mesa assalta um lépido barbeiro,?Que sóbe desde logo á presidencia.?Muitos gritam:--?Os reis custam dinheiro?Que sae dos nossos bolsos; é d'urgencia?Acclamarmos da plebe a sob'rania.??E de vez foi crescendo a gritaria.
XXII
--?A palavra! a palavra, cidad?o!??Todos pedem, mas logo o presidente?Tocava a campainha, que o tac?o?Lhe impede ser ouvido d'essa gente.?--?Ordem, ordem!... silencio! á vota??o?Vou propor, se o club m'o consente,?Artigos do contrato federal,?Que abula a realeza em Portugal.
XXIII
Que futuro medonho nos aterra!..?Funccionarios, ministros, titulares?Absorvem e devoram nossa terra!?Trope?amos ahi co'os militares?Sem termos nem sequer sombras de guerra,?E sustentamos, nós, os populares?Um _deficit_ a crescer, e os publicanos?Tributos a lan?ar todos os annos!
XXIV
E caem os partidos, sempre os mesmos?Do governo os mand?es, a mesma escola;?O estado a soffrer graves tenesmos,?Só nos resta o pedirmos inda esmola;?A fazenda consome-se em torresmos,?E vamos n'um recúo-caranguejola;?Somos ricos e grandes de comedia.?A triste bancarota alguem impede-a?
XXV
O supremo poder nas m?os d'um homem,?Que póde ser um tolo, ou um tyranno!?A historia dos reis, que os tempos somem,?Consultae, e tereis o desengano.?Providencias energicas se tomem?Contra o nosso porvir, e o grave damno?Que os despostas causaram a seus povos;?Meus principios s?o justos, e s?o novos.
XXVI
é um rei liberal, como é a pella?Na m?o d'um jogador; do ministerio?Espera para a rubríca a chancella?E faz o que lhe dizem, sem criterio?Se a coisa é de momento ou bagatella;?Pois se quer governar, sem refrigerio?Dos partidos depostos, soffre assomos,?Qual juiz de arraial co'os seus mordomos;
XXVII
Sempre ás cristas, e sempre engalfinhados,?Cubi?ando os poleiros das na??es,?De ministros, de pares, deputados,?De camaras, de empregos; ambi??es?Porque morrem de amor e de cuidados,?N?o lh'importam... (que grandes magan?es!)?As venturas do povo... em palavrorios,?Sobem, descem com vivas, foguetorios.
XXVIII
Portugal anda ha muito n'estas crises;?Na terrivel press?o de tantas mós,?Vae moendo farinha p'ra os felizes?Que contentes lhe cantam--_Venha a nós_!?Mas se um dia a revolta al?ar a voz?Em delirios cruentos, nos paizes?Onde endémica lavra a _devorite_,?é p'ra logo applicar-lhe dynamite.?
XXIX
?Cidad?o, vou entrar n'esta palestra?E mostrar-vos, que a natureza é sabia:?O corti?o é communa, a abelha mestra?De governo perfeito a ideia acaba-a.?Economica, vêde, n?o sequestra?Com tributos, ardis, com manha e labia?Do seu povo a uberosa dota??o;?Aprendei o que ha bom n'esta li??o.?
XXX
--?Bravo, _s?_ Zé Mathias... é bem dito!?O rei é um chupista... e apoiado...?Diz elle que é divino... é um maldito,?Que as rendas dizimando vae do Estado.??Com palmas um cantava o pirolito,?E outro com a banza bate o fado.?--?Ordem, ordem! berrava o presidente;?Assignem o protesto, que é urgente.?
XXXI
?Se em nascimento e morte s?o iguaes?Os homens, o que importam distinc??es??Porventura tem rei os animaes,?Duques, condes, marquezes e bar?es??Tem ministros, soldados, generaes??Um thesouro com praga d'inscrip??es??Ha fórma de governo, que reuna?Maiores bens, do que a provida communa!
XXXII
Silencio... N?o tem ricos, n?o tem nobres;?Permitte a cada um o que é preciso.?Portugal, é mister, que tu recobres?Teus foros sociaes, sem prejuizo?Dos que nascem... nem haja humildes, pobres;?Sejam nossos braz?es: honra, juizo;?A terra fique livre, os bens communs,?E p'ra todos acabem os jejuns.
XXXIII
Bem nos basta aturar o rei do dia,?Que d'inverno a soslaio nos visita,?E de ver?o nos abrasa em calmaria.?Todo o rei é verdugo e parasita,?Que as entranhas do povo, qual harpia,?Molesta d'extors?es, opprime, irrita;?Por este decilitro vos protesto?Que o governo do rei é o mais funesto.
XXXIV
Vêde desgra?a tanta... esses pedintes,?Co'os filhinhos ao collo as tristes m?es,?E nós d'essas lamurias sendo ouvintes?Sem ter para lhes dar soccorro e p?es;?Da miseria chegaram aos requintes?Que os ossos v?o roendo como c?es?E os ministros reunem na Ajuda?A pedir á na??o que lhes acuda.
XXXV
Eu vos juro, valentes patriotas?Que buscaes alluir a monarchia,?Que havemos de enforcar os agiotas?E aos ricos... oh! que grande montaria.??--?Muito bem! bravo! viva!? Entre risotas?Festejavam do povo a sob'rania,?E todos entoando a _Marselhesa_?Bradaram:--?Bota abaixo a realesa.?
XXXVI
?A republica só, heroica e pura?Sem esses comil?es e sem tributos,?é governo, que aos povos dá ventura.?Vêde gregos, romanos, Solons, Brutos?Que var?es de coragem, de lizura!??--?ó _s?_ Zé, se fallou agora em brutos,?Disse um d'elles, entendo em cortezia?Que pedisse licen?a á companhia.?
XXXVII
--?Tenho odio fatal, e t?o profundo,?Aos reis todos, e á sua parentella,?Que juntando-me aquelles, que ha no mundo,?Eu guisára uma farta cabidela,?Ou ent?o do oceano bem no fundo?Armava-lhe um tremalho, uma
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