Trovas do Bandarra | Page 3

Bandarra Gonçalo Anes
Liberat., e lugar
apontado a pag. 736., e damos as suas mesmas palavras:--"Anno 1641.
D. Alvarus de Abranches, provinciae Beirae Generalis, hujus viri
humile sepulchrum in portico Ecclesiae S. Petri dicti oppidi Trancoso,
elevavit honorifice nobili epitaphio; et Rex postea, capella boni reditu
ejus donavit nepotem; ac merito, nam si Nabuchodonosor, et Cyrus
remunerarunt Hieremiam, et Isaiam quod pro eis prophetaverint; et
magnus Alexander, in gratiam Danielis prophetisantes victorias ejus,
adoravit Jaddum summum Pontificem Hierosolimae; à fortiori
Christianissimus Princeps Alexandro maior generosam gratificationem
debebat ostendere."
AOS VERDADEIROS PORTUGUEZES DEVOTOS DO
ENCUBERTO.

Divida he forçosa, Senhores, offerecer vos o amor da Patria esta insigne,
e mysteriosa obra: porque se seu Author fôra vivo neste venturoso
tempo assim o fizera em satisfação de tão dilatadas esperanças, que por
mais de sessenta annos alentarão o animo daquelles, que com tanta
razão, e justiça desejavão, que a Real Coroa de Portugal tornasse a
illustrar a cabeça de Principe natural, e verdadeiro. Tudo merece uma
firme, e longa esperança pois não ha couza que mais custe, e atormente.
Assim o affirma Estacio no Livro I.
...."Spes anxia mentem
Extrahit, et longo consummit guaudia voto."
Tambem se vos offerece nestas Trovas do Bandarra uma verdade
cumprida para recompensa de vossos desejos continuos, merecedores
sempre de desempenhos grandes, quaes são as certas posses de
esperanças continuas. Para sua maior estimação he precisamente
nescessario o conhecimento, e noticia do sazonado fructo que se possue,
procedido da flor do que se esperou: porque não ha amar sem conhecer
diz o Principe da Filosofia: Nihil volitum, quin praecognitum. O
Libertador do nosso captiveiro, captiveiro, o remedio de nossos males,

o descanço, de nossos trabalhos he o Rei Encuberto, de quem trata
Bandarra, e a quem tomou por assumpto, e por objecto de seus versos,
como nelles se vê, e particularmente na Estancia LXXII. dizendo:
Este Rei tão excellente,
De quem tomei minha teima.
Val o mesmo que dizer: Deste Rei trato somente, delle escrevo, posto
que as figuras, e acções sejão muitas, e differentes. O teimoso sempre
porfia, e teima: assim Bandarra sempre falla neste Rei, ao qual chama o
Encuberto, como consta do Verso LXXV. fallando do Porco, que fará
fugir para o deserto:
Demostra que vai ferido
Desse bom Rei Encuberto.
A este Rei Encuberto attribue seis propriedades, e signaes, quaes saõ os
seguintes: O Primeiro, O Rei novo he alevantado. Verso LXXXVII.,
diz, que he Rei novo. O Segundo, que será Rei eleito, e naõ só por
successão. Verso C. O Rei novo ho escolhido, e elegido. O Terceiro,
que he Infante, como se lê no Verso LXXXVIII. Saia, saia esse Infante,
bem andante. O Quarto, que se chamará D. João, Verso LXXXVIII.: O
seu nome he D, João, nome, de que tanto gostou o Author, que seis
vezes falla nelle, como se vê nos Versos XXV. XXXVIII. XLIV. LV.
LXXXVIII. XCIII. O Quinto, que terá um irmão bom Capitão, Verso
CII.: Este Rei tem um irmão bom Capitão. Diz ultimamente, que este
Rei será acclamado, e alevantado, quando se cerrarem os quarenta
annos, como consta do Verso LXXXVII.:
Ja se cerraõ os quarenta
Que se e[m]menta
Por um Doutor ja
passado:
O Rei novo he alevantado.
Todos estes signaes evidentemente convem só a El Rei D. João IV.,
nosso Senhor, o qual he Rei novo, porque antes não reinava, posto que
era Rei de juro. Rei elegido foi pela commum inspiração, e geral
acclamação de todo o Reino; Infante era tambem, porque os Principes
de Bragança são Infantes, como tambem por bisneto do Infante D.
Duarte, filho nono do Senhor Rei D. Manoel. Chama se alem disto D.
João. Tem um irmão valeroso Capitão qual he o Senhor Infante D.

Duarte, que Deos livre. A eleição, ou commum inspiração, e
acclamação (que tudo he o mesmo conforme a Direito) foi quando
cerravão quarenta annos, pois foi Sabbado (e havia de ser Sabbado) dia
setimo, em que Deos descançou da creação do Universo, como em
mysterio, e em signal, que nossas afflicções o cançarão, e que
descançava com o Rei, que naquelle dia nos deu para nosso descanço
liberdade; pois o dia em que primeiro descançou foi, como se sabe
Sabbado. Assim nos restituiu o nosso legitimo Rei Sabbado primeiro
dia de Dezembro, mez em que cerrou o anno de 1640.
Conclue se logo com toda a certeza, e moral evidencia, que El Rei D.
João o IV., nosso Senhor he o esperado, e tão desejado Rei Encuberto,
de quem Santo Isidoro fallou na era de 636., escrevendo muitas couzas
futuras de Hespanha[1], e Bandarra tantas vezes repitiu. Não ha mais
esperar outro Encuberto; porque he couza vã, e aerea; e o mesmo Rei
de Castella chamou a El Rei, nosso Senhor Encuberto duas vezes,
quando antes de ser Rei o mandou governar ás armas de Portugal á
Villa de Almada, em a Carta
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