Trovas do Bandarra | Page 2

Bandarra Gonçalo Anes
morte de Bandarra, que, conforme escreveu Barbosa Machado na

sua Biblioth. Lusitana, foi depois de 1556. Saõ tambem dignos de ver
se nos elogios, que lhe tributão D. Nicolaõ Monteiro, Vox Turtur., o P.
Vasconcellos no seu admiravel Livro da Restauraç. de Portugal, e
outros, que aponta o mesmo Barboza.
Resta antes de concluir mos em agradecimento fazer neste lugar
honrada memoria de dous consumados varões, que muito contribuiraõ
para gloria do nosso Author. Seja o primeiro D. Vasco Luiz da Gama,
V. Conde da Vidigueira, e I. Marquez de Niza, a quem se deve aquella
Edicçaõ de Nantes, e nella se diz sómente ser por um grande Senhor de
Portugal; e verdadeiramente foi notado de mui nobres, e excellentes
qualidades, por onde se faz credor de grandissimos elogios. Occupou
mui altos empregos, como o de Almirante do Mar da India, Deputado
da Junta dos Tres Estados, e do Despacho das Juntas na Regencia da
Rainha D. Luiza, e de seus filhos os Reis D. Affonso VI., e D. Pedro II.
sendo Regente, Vedor da Fazenda dos ditos Reis, e Estribeiro Mor da
Rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboia. Foi Commendador na
Ordem de Christo, e do Conselho de Estado, e Guerra, e duas vezes
Embaixador a França por El Rei D. João IV., a primeira em 1642, e a
segunda em 1646, em que mostrou discripção, prudencia e zelo do bem
do Reino, a ultimamente a Roma em obediencia aos Papas Urbano
VIII., e Innocencio X. Na Paz, que se celebrou deste Reino com Castela
em 1668. teve muita parte, sendo um dos Plenipotenciarios para ella
eleito, em que se houve com muita circumspecção.
O outro he D. Alvaro de Abranches da Camera, que antes lhe havia
mandado levantar novo sepulchro com seu Epitafio na Igreja de S.
Pedro da Villa de Trancozo, trasladando seus ossos de outra baixa, e
humilde, em que jazia, e fazendo lhe insculpir por divisa na pedra os
instrumentos do officio de çapateiro, que elle havia exercitado. Esta
grande honra havia o mesmo Bandarra profetizado nas Quadras 8 e 9
do. III. Corpo das Trovas, Sonho I. por estas mysteriosas palavras:
8.
Vejo, mas não sei se vejo,
O certo he, que me cheira,
Que me vem
honrar á Beira
Um Grande do pè do Tejo.

9.
Formas, cabos, e sovelas
Lavradinhas com primor
Mandareis abrir,
Senhor,
Muitos folgarão de vê las.
Ali taõ somente lhe chama, e assim o dá a conhecer, "Um Grande do pé
do Tejo:" e sem duvida foi elle um dos mais illustres, e accreditados
Fidalgos da Corte no seu tempo. Era filho de D. Francisco da Camera
Coutinho, Commendador de S. João da Castanheira na Ordem de
Christo e D. Guimar de Abranches; e neto pela parte paterna de Rui
Gonsalves da Camera, Capitão Donatario da Ilha de S. Miguel, I.
Conde de Villa Franca, e de D. Joanna de Blaesvelt, da Casa dos
Condes de Redondo, e pela mai de D. Joao de Abranches de Almada, e
de sua segunda mulher D. Antonia de Souza. A tamanha nobreza uniu
muitos merecimentos, adquiridos por seus serviços. Deve se a seu
singular espirito, e valor a liberdade da Patria na gloriosa Acclamação
d'el Rei D. João IV., sendo um daquelles illustros Fidalgos, que para
ella sobre maneira concorreu, arvorando a Bandeira da Cidade,
recobrando o Castello de Lisboa, e soltando alguns, que ali se achavão
prezos, com outras muitas acções de lealdade, e heroico desinteresse,
que serão de exemplo á posteridade. Foi Commendador de S. João da
Castanheira, Senhor dos Morgados de Abranches, e Almadas,
Conselheiro de Estado, Mestre de Campo General da Estremadura, e
por duas vezes Governador das Armas da Provincia da Beira. E porque
digamos tudo para seu completo elogio, foi casado com D. Maria de
Lencastre, da Casa dos Barões, hoje Marquezes de Alvito, e della
houve a D. Magdalena de Lencastre e Abranches, I. Condessa de
Valladares, mulher do Conde D. Miguel Luiz de Menezes, e D. Guimar
de Lencastre, que foi mai de Tristão da Cunha de Ataide, I. Conde de
Povolide, e de Nuno da Cunha de Ataide, Inquisidor Geral destes
Reinos, e Cardial da Santa Igreja de Roma do titulo de S. Anastacia,
por quem se transmitiu o Segundo Corpo das Trovas ineditas, que
agora damos. Delle se lembra o P. Nicolão da Maia na Relação
daquella Acclamação que publicou em 1641. Salgad. de Araujo,
Success. Militar. Liv. III., cap. 30, e seg., O Conde da Ericeira, Portug.
Restaurad. P. I. nos Liv. 2. 4. 7. 8., Souz. Hist., Genealog. da Casa Real,
Liv. VII. cap. I. Castro, Mapp. de Portugal, P. IV. cap. 4. e outros.

A honra de mandar levantar a Bandarra o sepulchro, que acima
dizemos, e por que se lhe deve esta sua memoria, refere o mesmo
Antonio de Souza de Macedo na sobredita Lusitania
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