Trovas do Bandarra | Page 4

Bandarra Gonçalo Anes
nem teve outro irm?o bom Capit?o. Conhe??o logo todos esta clara verdade; e far?o toda a devida estima??o das Trovas do celebrado Bandarra, qua neste particular ja vemos desempenhadas, e cumpridas.
[1] Estas Profecias de Santo Isidoro, Arcebispo de Sevilha, de que aqui falla, em que vaticinou successos de Castella, podem ler se na Ressurrei??o de Portugal por Fern?o Homem, que tambem foi impressa em Nantes pelo mesmo impressor Guillelmo do Monnier; e ahi se diz for?o tiradas de um Livro, que se havia impresso em Valen?a no anno de 1520., e que andav?o nas li??es de sua vida no Breviario Dominicano, e em outros. O anno de 636., que tambem aqui se a ponta, foi o mesmo da morte deste Santo Prelado, mui esclarecido pelo zelo da Fe, e inteireza da disciplina Ecclesiastica.
VALETE.
A QUEM LER.

Foi Gon?aleannes Bandarra (Benevolo Leitor) um official de ?apateiro de cal?ado de corr��a, homem de boa vida, o qual viveu na antiga Villa de Trancoso do Bispado da Guarda. Passou sempre pobremente, e sem mais cabedal, que a limitado de seu officio, que naquelles lugares n?o costuma ser muito. Concorreu nos tempos do Rei D. Jo?o o III. de Portugal. As suas Trovas, que compoz no anno de 1540 pouco mais ou menos, for?o sempre t?o recebidas, e celebradas, que n?o necessit?o de maiores abona??es que as do tempo que tanto as accredita. E se tambem as faz muito estimadas o offerece las seu Author ao Illustrissimo Bispo da Guarda D. Jo?o de Portugal, que Deos tem,[2] mais o devem ser hoje assim pelos effeitos mostrarem sua verdade como pelas mandar imprimir um Principe Portuguez grande, e excellente. Ac??o na verdade descobridora do fino amor de Rei, e do zelo do bem do Reino (que vivem em seu nobre, e fiel peito) cujas principiadas glorias faz estampar, para que sej?o notorias, e perpetuas. Estas canta o celebre Bandarra em seus grosseiros, mas mysteriosos Versos, a quem o entendimento applica mais authorisado titulo que o curto, que se permitte �� penna. Muito se pode sentir, mas nem tudo se pode dizer particularmente em materias, que pedem approva??o do Supremo Tribunal.
[2] Esta Dedicatoria a D. Jo?o de Portugal, Bispo da Guarda he o documento mais certo da morte de Bandarra succeder depois do anno de 1556, porque so neste podia ser feita, que foi o primeiro em que aquelle Prelado foi provido na quella Diocese, e confirmado pelo Pontifice Paulo IV., e ainda no anno seguinte he que tomou posse. Foi mui exemplar por suas virtudes, como lhe chama Bandarra, n?e menos do que era mui distinto por sua nobreza como ramo florecente dos primeiros Condes de Vimioso. A heroica paciencia, com que sofreu ser despojado da sua dignidade Episcopal, e recluso em um Mosteiro, depois da infausta jornada do nosso Augustissimo REI o Senhor D. Sebasti?o nosso Senhor, far�� em todo o tempo sempre illustre o seu nome, e mui accreditada a sua memoria.
Grandes injurias tem feito o dilatado tempo de mais de cem annos ��s Trovas do Bandarra: uma vez viciando as com a corrup??o; outra accrescentando as; outra diminuindo as. Para ficar s�� o gr?o, e deitar f��ra do taboleiro o joio, e a hervilhaca foi necessario (e n?o com pouca industria) buscar as mais antigas copias, das quaes a de menor idade he de outenta annos, nas m?os de pessoas intelligentes, e fide-dignas, com as quaes se apurou esta, que sahe �� luz, e ficar�� ��s escuras a immensa multid?o de treslados destas Trovas, todos viciados, e corruptos: pois n?o havia pessoa, que n?o tivesse um Bandarra a seu modo. Va? os Versos numerados, e rubricados para maior clareza, e distin??o. Deve se porem advertir um grande mysterio, que est�� no Verso LXXXVIII. aonde diz.--O seu nome he D. Jo?o.--Li?o muitos.--O seu nome he de D. Jo?o;--mas os mais antigos usav?o de uma letra I, que parecia ser a letra F. Quiz Deos, por nosso bem, que no ler houvesse diferencas.
VALE.
TROVAS DO BANDARRA.

DEDICATORIA DO AUTHOR
_A Dom Jo?o de Portugal Bispo da Guarda._
Illustrissimo Senhor,?De Virtudes mui perfeito,?V��s deveis de ser eleito?De todas as Leis dador.
Deos vos deu tanto primor,?Que n?o se acha em vossa marca?Mais subido Patriarcha,?De nobre Gente Pastor.
Determinei de escrever?A minha ?apataria:?Por ver Vossa Senhoria?O que sahe de meu cozer.
Que me quero entremeter?Nesta obra, que offere?o?Porque saib?o o que conhe?o,?E quanto mais posso fazer.
Sahir�� de meu cozer?Tanta obra de lavores,?Que folguem muitos Senhores?De a cal?ar, e trazer.
E quero entremeter?La?os em obra grosseira,?Quem tiver boa maneira?Folgar�� muito de aver.
Cozo com linho assedado,?Encerado a cada ponto;?Cozo meudo sem conto,?Que assim o quer o cal?ado.
Se vier algum avizado?Requerer algumas solas,?Eu as corto sem bitolas,?E logo vai sobresolado.
Tambem sou official:?��s vezes cozo com vira,?E sei bem como se tira?O ganho do cabedal.
Se vier algum zombar?Fazer me qualquer pergunta,?Dir lhe hei, como se ajunta?A agulha com o dedal.
Minha
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