Trovas do Bandarra | Page 3

Bandarra Gonçalo Anes
elevavit honorifice nobili epitaphio; et Rex postea, capella boni reditu ejus donavit nepotem; ac merito, nam si Nabuchodonosor, et Cyrus remunerarunt Hieremiam, et Isaiam quod pro eis prophetaverint; et magnus Alexander, in gratiam Danielis prophetisantes victorias ejus, adoravit Jaddum summum Pontificem Hierosolimae; �� fortiori Christianissimus Princeps Alexandro maior generosam gratificationem debebat ostendere."
AOS VERDADEIROS PORTUGUEZES DEVOTOS DO ENCUBERTO.

Divida he for?osa, Senhores, offerecer vos o amor da Patria esta insigne, e mysteriosa obra: porque se seu Author f?ra vivo neste venturoso tempo assim o fizera em satisfa??o de t?o dilatadas esperan?as, que por mais de sessenta annos alentar?o o animo daquelles, que com tanta raz?o, e justi?a desejav?o, que a Real Coroa de Portugal tornasse a illustrar a cabe?a de Principe natural, e verdadeiro. Tudo merece uma firme, e longa esperan?a pois n?o ha couza que mais custe, e atormente. Assim o affirma Estacio no Livro I.
...."Spes anxia mentem?Extrahit, et longo consummit guaudia voto."
Tambem se vos offerece nestas Trovas do Bandarra uma verdade cumprida para recompensa de vossos desejos continuos, merecedores sempre de desempenhos grandes, quaes s?o as certas posses de esperan?as continuas. Para sua maior estima??o he precisamente nescessario o conhecimento, e noticia do sazonado fructo que se possue, procedido da flor do que se esperou: porque n?o ha amar sem conhecer diz o Principe da Filosofia: Nihil volitum, quin praecognitum. O Libertador do nosso captiveiro, captiveiro, o remedio de nossos males, o descan?o, de nossos trabalhos he o Rei Encuberto, de quem trata Bandarra, e a quem tomou por assumpto, e por objecto de seus versos, como nelles se v��, e particularmente na Estancia LXXII. dizendo:
Este Rei t?o excellente,?De quem tomei minha teima.
Val o mesmo que dizer: Deste Rei trato somente, delle escrevo, posto que as figuras, e ac??es sej?o muitas, e differentes. O teimoso sempre porfia, e teima: assim Bandarra sempre falla neste Rei, ao qual chama o Encuberto, como consta do Verso LXXV. fallando do Porco, que far�� fugir para o deserto:
Demostra que vai ferido?Desse bom Rei Encuberto.
A este Rei Encuberto attribue seis propriedades, e signaes, quaes sa? os seguintes: O Primeiro, O Rei novo he alevantado. Verso LXXXVII., diz, que he Rei novo. O Segundo, que ser�� Rei eleito, e na? s�� por success?o. Verso C. O Rei novo ho escolhido, e elegido. O Terceiro, que he Infante, como se l�� no Verso LXXXVIII. Saia, saia esse Infante, bem andante. O Quarto, que se chamar�� D. Jo?o, Verso LXXXVIII.: O seu nome he D, Jo?o, nome, de que tanto gostou o Author, que seis vezes falla nelle, como se v�� nos Versos XXV. XXXVIII. XLIV. LV. LXXXVIII. XCIII. O Quinto, que ter�� um irm?o bom Capit?o, Verso CII.: Este Rei tem um irm?o bom Capit?o. Diz ultimamente, que este Rei ser�� acclamado, e alevantado, quando se cerrarem os quarenta annos, como consta do Verso LXXXVII.:
Ja se cerra? os quarenta?Que se e[m]menta?Por um Doutor ja passado:?O Rei novo he alevantado.
Todos estes signaes evidentemente convem s�� a El Rei D. Jo?o IV., nosso Senhor, o qual he Rei novo, porque antes n?o reinava, posto que era Rei de juro. Rei elegido foi pela commum inspira??o, e geral acclama??o de todo o Reino; Infante era tambem, porque os Principes de Bragan?a s?o Infantes, como tambem por bisneto do Infante D. Duarte, filho nono do Senhor Rei D. Manoel. Chama se alem disto D. Jo?o. Tem um irm?o valeroso Capit?o qual he o Senhor Infante D. Duarte, que Deos livre. A elei??o, ou commum inspira??o, e acclama??o (que tudo he o mesmo conforme a Direito) foi quando cerrav?o quarenta annos, pois foi Sabbado (e havia de ser Sabbado) dia setimo, em que Deos descan?ou da crea??o do Universo, como em mysterio, e em signal, que nossas afflic??es o can?ar?o, e que descan?ava com o Rei, que naquelle dia nos deu para nosso descan?o liberdade; pois o dia em que primeiro descan?ou foi, como se sabe Sabbado. Assim nos restituiu o nosso legitimo Rei Sabbado primeiro dia de Dezembro, mez em que cerrou o anno de 1640.
Conclue se logo com toda a certeza, e moral evidencia, que El Rei D. Jo?o o IV., nosso Senhor he o esperado, e t?o desejado Rei Encuberto, de quem Santo Isidoro fallou na era de 636., escrevendo muitas couzas futuras de Hespanha[1], e Bandarra tantas vezes repitiu. N?o ha mais esperar outro Encuberto; porque he couza v?, e aerea; e o mesmo Rei de Castella chamou a El Rei, nosso Senhor Encuberto duas vezes, quando antes de ser Rei o mandou governar ��s armas de Portugal �� Villa de Almada, em a Carta dizia fosse encuberto; e pois os signaes, que delle se apont?o de nenhuma maneira convem a El Rei D. Sebasti?o, nem he Rei novo mas velho; n?o foi Rei de elei??o sen?o de success?o, e que nasceu Rei, porque n?o se chamava Jo?o,
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