Trovas Inedìtas de Bandarra | Page 2

Baptismo.
20.
Fazemos dos dias noites?Vivendo como agrestes,?Haverà castigo, e a?outes?Cada qual se fa?a prestes.
21.
Espantozos movimentos?Havemos cedo dever,?E antes de muitos tempos?Ha de isto de acontecer.
22.
N?o haverà em Hespanha?Lugar preveligiado,?Tudo serà assollado?Dessa gente de Alemanha.
23.
Todos os lugares planos?Por terra ser?o prostrados,?Muitos males, muitos damnos?Haverà pellos peceádos.
24.
As Serras se habitar?o?E os Oiteiros mais altos,?Muitas Gentes sahir?o?Outros andar?o em Saltos.
25.
Andar?o como pasmados?Chorando pellos caminhos,?De suas terras lan?ados?De parentes, e vesinhos.
26.
Ent?o n?o haverà amigos?Nem pay que por filho seja,?O mais seguro abrigo?Serà acolherse à Igreja.
27.
Nesses tempos os meninos?Ainda que innocentes,?Ter?o t?obem accidentes?Muito fora dos Caminhos.
28.
Haverà peregrina?oens?Mortes sem conto de dura,?Males fogos devisoens?Só Deos lhe póde dar cura.
29.
Ha de ser Rey quem f?r?Que em Deos está o saber?O bom, o S?o, o melhor?Só elle o há de escolher.
30.
Por particular enteresse?Tem chegado o mundo a tanto,?Triste do que lhe parece?Que háde bastar fal?omanto.
31.
Os póvos h?o de alintar?As culpas dos seos Monarchas,?Que sem nenhum estudar?S?o Letràdos, e Patriarchas.
32.
Nos Ceos haverà sinaes?Na Terra n?o faltar?o,?Tormentos pennas, e ais?Que aos Ceos penetrar?o.
33.
E depois do Le?o morto?N?o sem falta de mistério,?Aportarà neste porto?Outro com maior Império.
34.
Entrarà com companheiro?Na terra dos Luzitannos,?Cada qual bom Cavalleiro?Destruir?o os Arriannos.
35.
Tempos traz tempos vir?o?Que os Grandes ser?o baixàdos?Os pequennos exaltádos?Povo, e Rey governar?o.
36.
E depois de tantos males?Fomes, pestes devisoens,?Cheios os montes, e Valles?De tristes peregrina??ens.
37.
Tornarà o Redemptor?A olhar por seo rebanho,?E tello ha com muito amanho?Como bom Rey e Senhor.
38.
Escaparà pouca gente?De t?o perigoza dan?a,?Virà tempo de bonan?a?Quem viver serà contente.
39.
Vejo vir grandes baleias?Pella costa de Biscaya?Gaia gaia da vezinha praya?Que lhe tingem as areias.
40.
Eis là contra a Norúega?Raios, Cavallos, Golfinhos,?Com que pre?a que navega?Tanta Cópia de Marinhos.
41.
Vejo milhoens de Relampagos?Trovoens que rompem os ceos?Nuvems de mui grandes véos?Coriscos grandes expantos.
42.
Que mancebo t?o formozo?Dà Luz a todo o Emisfério,?Rosto mui digno de Império?Forte, fero, e graciozo.
43.
Iá por for?a toma a Seora?Cercàdo de Leoens bravos,?Oh que unhas dentes quebrádos?Teme, e treme toda a terra.
44.
Mil rapozas v?o dìante?Buscando grutas, e c?vàs,?A Lebres, Coelhos d?o novas?Que fuj?o de tal semblante.
45.
Descan?ame a vista vendo?Hirse o tempo já chegando,?E estarse a Alma alegrando?Com o que vejo, e entendo.
46.
Venha embora o Le?o forte?De tantos accompanhádo,?Que affirm?o, e tem jurado?Que em que lhe custe a morte?O h?o de ver coroado.
47.
Que grandes arriba?oens?S?o Atums, ou s?o Sardinhos,?Maiores s?o que Barquinhas?S?o Náos, boms Galioens.
48.
Parece que seo caminho?Hé direito a Portugal?Ai se eu mal n?o advinho?N?o v?o carregar de Sal.
49.
Que rostos, corpos, e armas,?Quanto fogo, e quanto asso,?No rosto gente do Passo?E Soldados nas Bisarmas.
50.
Ora quero-lhe dizer?Esta cà occupàda a Terra,?Mas poder?o responder?Se hé gente de paz, ou guerra.
51.
Hé gente que em si encerra?E aquillo que diz n?o faz,?Diz guerra, ordena páz?Pergoa paz, e faz guerra.
52.
O Seo Rey quer ser Monarcha?E toda a Terra pertende,?Tudo abrange, e tudo abarca?E do díreito n?o pende.
53.
Vinde cà Rey Soberanno?Quero vos dezenganar,?Lembro-vos que sois humanno?E que tudo hade acabar.
54.
E que na postreira hora?Quando o mal jà estìver feito,?E n?o possa ser desfeito?Treme olma, e em v?o chora.
55.
Lembre vos o que aconteceo?A Tholedo com o pay?Que já cada hum là vay?E n?o sei qual pa o ceo.
56.
Quereis vòs a Portugal?Sendo elle nome macho?Ajuda mal por que lhe acho?Muita fémea, e pouco Sal.
57.
Se quizerdes por direito?Deixarse há elle torcer,?Mas for?ado hé máo geito?Para se deixar vencer.
58.
Vejo vosso damno perto?Hireis perdendo o reynádo?E t?o bem tende por certo?Morrerdes desconsolado
59.
Luzitanna hé chamáda?A Dama que dezejaés,?Ella hé dantes despozada?Perseguilla hé por demais
60.
Ainda que em caza tem?De Ulices tantos povos,?Hir-se h?o como os porcos?Ante o Le?o que vem.
61.
Esta profecìa hè bella?Mui certa e verdadeira,?Quem tiver boa terceira?Gozarà a Sabia Donzella.
Fim da quarta parte.
Quinta parte das Trovas de Bandarra.
1.
Quando de noite me ponho?A dormir sem me benzer,?Tudo o que háde a?uceder?Se me representa em Sonho.
2.
Sempre mandei escrever?Aquillo que me lembrou,?Porque a memoria a postou?De tudo se esquecer.
3.
Nas Trovas que tinha feito?Muito hà que conciderar,?Como o seo tempo chegar?Se vera o meo conceito.
4.
Sempre por thezoiras fa?o?As minhas contas mui certas,?Portas que h?o de estar abertas?N?o s?o boas para o pa?o.
5.
Eu na? sou Profeta inteiro?E menos na minha terra,?Mas vejo vir pella Serra?Atraz de hum Lobo hum Cordeiro.
6.
O Sol pello meio dia?Faz o effeito de Geada,?Vejo partir huma armada?Carregáda de agua fria.
7.
Huma grande tempestade?Com o céo muiclaro, e Serenno,?Farà hum hommem moreno?Com rez?o mas sem piedade.
8.
A minha trepe?a tem?Trez péz mui bem seguros,?Vejo fabricar hums muros?Mas eu na? sei para quem.
9.
Quem muitos annos durar?Hade ver couzas indignas.?Tocar-se ha? muitas bozinas?Por hommems peixes do már.
10.
Todo o mundo grita, e berra?Cada qual no seo officio,?Pois antes que hum beneficio,?Querem, peste, fome, e guerra.
11.
Quando furo com a Suvella?Coiro gro?o, e Macio,?Vejo prender no Rocio?Quaze toda a parentella.
12.
Eu tenho medo da morte?Como couza superior,?O Presbitero maior?Na? háde tornar à Corte.
13.
Annos h?ode vir à terra?Em que por nossos peccados,?Nas cazas fiquem os gados?As gentes viva? na Serra.
14.
Sempre como os meos feijoens?Quando vem bem temperados,?Vejo no templo os Copados?No Cural os Cappellaens.
15.
Sou Sapateiro, mas Nobre?Com mui pouco Cabedal,?E tu triste Portugal?Quando mais rico, mais pobre.
16.
O