Tratado das Ilhas Novas | Page 6

Francisco de Souza

maritimos, marinheiros e pilotos.
Como dissemos, o sr. Pierre Margry reconhece que João Affonso
descrevera por observação propria, o que o mesmo João Affonso
confessa nos extractos offerecidos por aquelle sr., o Mar Roxo, as
costas do Malabar e de Malaca.
Ora, perguntaremos em boa consciencia ao sr. Pierre Margry, fez João
Affonso esses exames n'aquelles mares e regiões ao serviço de França?
O que o levaria ao Mar Roxo, onde os nossos capitães só então iam
com fins puramente militares? Acaso já teria então o seu Governo
vistas sobre o córte do Suez e a navigabilidade d'aquelle mar?!!

Quem lhe daria a audacia de examinar no serviço de França, as costas
do Malabar e as de Malaca, então os logares mais frequentados pelos
portuguezes?
Nós não hesitamos, nem comnosco os que tiveram alguma idéa da
nossa dominação na India por aquelles tempos, em affirmar que as
navegações de João Affonso por aquellas regiões só poderiam ter logar
ao serviço do Portugal, sua patria, e nunca jamais ao de França, onde
depois se lançou. Tão longa, minuciosa, feliz e então ignorada e não
sabida navegação ao serviço de França é inadmissivel e insustentavel.
João Affonso foi um portuguez lançado em França; assás o temos
demonstrado.
A historia vem ainda em auxilio da nossa argumentação, mas a historia
irrefragavel.
Não é nenhum escriptor vaidoso das nossas glorias maritimas que se
aproveitasse da sinceridade de Charlevoix, quem nol-o affirma. É, nem
mais, nem menos, o nosso querido frei Luiz de Sousa, escriptor muito
anterior a Charlevoix, quem nol-o diz nas seguintes palavras, fallando,
em suas memorias e documentos para os Annaes de D. João III, ao
anno de 1533. «Por carta de Elrey, de 3 de fevereiro de 1533, consta de
um João Affonso que andava levantado com francezes; e que no
mesmo tempo andava Duarte Coelho com armada na costa da
Malagueta, e que el-rei lhe mandava que viesse a esperar as naus da
India».
Por aqui vemos mais que João Affonso se tinha ao serviço de França
tornado respeitavel a Portugal. Na verdade as queixas do nosso
Governo contra elle, chegaram a obrigar o Governo Francez a tel-o por
algum tempo preso em Poitiers.
Fique, pois, João Affonso d'hoje em diante havido por portuguez,
porém não na lealdade, e sirva a qualificação de Saintongeois, que elle
jámais usou, mas que lhe foi dada depois de morto, apenas para indicar
que elle tomára por patria adoptiva Saintonge; ou então sirva para
mostrar o quanto os francezes de então, como os d'hoje, o

ambicionavam seu, e o pouco escrupulo em forjar os meios de prova
com que podessem sustentar suas aereas pertenções.
Terminando este artigo da presente carta, lembraremos a grande
possibilidade de encontrar na propria Hydrographia manuscripta de
João Affonso a confissão da sua qualidade de portuguez.
O silencio do sr. Pierre Margry, no extracto que d'ella offerece, á cerca
dos portos e costas de Portugal, confessamos que nos parece bem
suspeitoso.
* * * * *
Extracto da carta ao ex.^mo redactor do--Jornal do Commercio--José
Maria Latino Coelho, por João Teixeira Soares. Sobre a qualidade de
portuguezes de tres grandes navegadores do seculo XVI; João Affonso
ao serviço de França, João Fernandes e Pedro Fernandes de Queiroz,
ao de Hespanha. Publicado nos folhetins do--Jorgense--n.^os 90 e 91
de 1875.

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