Ruy o escudeiro: Conto | Page 7

Luís da Silva Mousinho de Albuquerque
Cerram as fileiras
Junto ás ondeantes
Variadas bandeiras;
Alli vem rinchando
Cavallos de guerra
O pó levantando
Da arida terra.
A rosada aurora
No aço esplandece.
Que co'a luz, que o córa,
Em chammas parece.
De todos na frente
O Rei cavalgava,
E da heroica gente
Os brios dobrava:
As Quinas sagradas
A cota lhe ornavam,
No pendão lavrados
Ao ar tremolavam.
Emtanto abatidos
A marcha seguiam
Os mouros rendidos,
Que algemas prendiam.

Assim vencedores
Os christãos marchavam,
E aos frescos verdores
Das margens do Mondego se tornavam,
Nas campinas de Ourique
Alçado rei, o heroe filho de Henrique.
FIM DO PRIMEIRO CANTO.
CANTO SEGUNDO.
A tomar vai Leiria, que tomada
Fôra mui pouco havia do vencido.

Camões, Lusiadas, C. 3.º, E. 55.ª
Para unir n'um só leito amantes aguas
Vem o Liz, sobre os seixos
murmurando,
O Lena vem, nascido de entre as fraguas;
Em seu
curso modesto, alegre, e brando,
Entre a relva mimosa, entre a
verdura
Cada qual mollemente serpejando.
Jámais turvou a limfa
clara, e pura
O forte remo, a quilha recurvada
Com que a industria
mortal dóma a natura;
Sómente a braça da arvore quebrada,
A folha
que no outomno cahe sem vida
Pelo placido curso foi levada.
Nas
margens a aveleira entretecida
Com o espinheiro está de flôr fragante,

A madre silva co'a roseira unida.
No espelho das aguas inconstante

Reflectida balança alta ramagem
De alamo bicolôr, choupo
elegante;
Dos vimes, e salgueiros a folhagem,
Molles chorões, as
braças incurvando,
Vedam do sol aos raios a passagem.
Alli, na
primavera, sussurrando,
Recolhe a abelha o mel por entre as flôres,

E a borboleta as beija volitando,
Quando o cantor sublime dos
verdores
Da aurora ao despontar, e á tarde canta
Em frente ao
brando ninho os seus amores.
A róda leve as aguas alevanta,
Que
em canaes variados circulando,
Levam frescura á sequiosa planta;

Em quanto, dos invernos triumfando,
Altos pinheiros sempre verdes
frontes
Reunidos se vêem aos ceos alçando
Na encosta, e cumes
dos visinhos montes.
No meio d'este valle a natureza
Um penhasco erigiu, morro isolado,


Que das aridas rochas a braveza
Abruptas volve aos raios do sol
nado;
Com aridez igual, igual asp'reza
Do occaso, e do sul encara o
lado;
Orna-o do norte apenas a verdura
Em mais suave encosta, e
menos dura.
Do forte morro ás abas se abrigaram
Da destruida Liria os habitantes,

Quando da natal terra os expulsaram
Dos romanos as armas
triumfantes;
Para alli seus penates transportaram,
E da perdida
patria sempre amantes,
De Liria ao novo
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