Ruy o escudeiro: Conto | Page 5

Luís da Silva Mousinho de Albuquerque
verdura

Que nutre do Mondego a limfa pura.

De risonha colina no vertente,
Que o rio carinhoso em baixo lava,
A
cidade Conimbrica é jacente,
Que então de espesso muro se cercava;

N'ella ajuntando estava armada gente
Affonso, que attacar
apparelhava
O agareno Ismar chefe animoso
Do transtagano mouro
bellicoso.
Era Affonso acompanhado
D'esse Irmão, de Henrique filho
Cavalleiro de alto brilho,
Por Dom Fuas educado.
Fuas era aparentado
De Ruy com os ascendentes,
E o sangue de seus parentes
No Joven reconhecendo,
Seus destinos protegendo,
Por escudeiro o ligou
A Pedro, que o aceitou,
E entregando-lhe a lança,
Poz n'elle tal confiança,
Que como a filho o tratou.

Lá na peleija de Ourique
No mais forte das batalhas
Rachou elmos, rompeu malhas
Ruy, com o filho de Henrique.
Ao som da tuba guerreira
Seu coração se accendeu;
Qual touro, aberta a barreira,
Com o mouro accommetteu.

Aos golpes da herdada lança
Muitos mouros expiraram,
Muitos da espada a provança
Cáro co'a vida pagaram;
E no sangue de inimigos,
Que pela Fé derramou,
Entre azares, e perigos,
Do pai a morte vingou.
Do defunto Ruy tal era o filho,
Que Pedro Affonso ao ermo
acompanhava.
Já do cadente Sol o ultimo brilho
Nas bordas do

horisonte se apagava,
De altas idéas no inspirado trilho
O provecto
Ermitão continuava:
Quando subito o rosto alevantando
Volveu aos
dois o aspecto venerando.
ERMITÃO.
«Salve prole de Henrique, heroe preclaro,
«Salve sangue de Reis, a
quem a gloria
«Predestinada está no assento claro
«De ter, mais que
de imigos, a victoria:
«Sim, tu triumfarás do abysmo avaro,
«Do
mundo calcarás pompa, e vangloria,
«Todo o fulgôr da humana
heroicidade
«Sepultando no asilo da piedade.
«Onde dos teus a estirpe triumfante
«Teve origem irás, nobre e
animoso,
«Do teu sangue encontrar varão prestante,
«Que em ti
fecundará germen piedoso;
«Deporás a couraça rutilante,
«O elmo,
o escudo, o ferro temeroso,
«Para aspirar á gloria, que não passa,

«No retiro e silencio de Alcobaça.
«Tu porem, oh mancebo, de que abrolhos
«Cheio é para ti campo da
vida,
«Em que mar procelloso, entre que escolhos
«Teus de seguir a
róta combatida,
«Que lagrimas amargas de teus olhos
«Devem
correr, no peito que feridas
«Pungentes sofrerás, sem ter conforto

«Antes que
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 43
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.