Reprezentação à Academia Real das Ciências sobre a refórma da ortografia | Page 9

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quanto ás três
interjeiçõis, no cazo de decidir-se que á aspiração, seria melhór
indical-a pondo na vogal o espírito áspero dos gregos--uma vírgula ás

avéssas; mas a comissão não vê razão por que a aja, nem lhe paréce que
aja com efeito, e tão pouco julga conveniente avêl-a, porque a sua
aspereza tornaria a interjeição menos eufónica.
Em fim, a respeito do fato da nulidade das letras, sucitárão-se dúvidas
quanto ao--x--, e ao--s--no meio das palavras. Porem um ezame
reflètido móstra, que só em pronúncia afètada se fás ouvir o som
sibilante que éssas letras reprezentaríão nas palavras respètivas, e que
éssa pronúncia é forçada e tórna a palavra mais áspera, sendo por isso
menos confórme ao jénio da língua. E o fato do--s--se não axar em
documentos das primeiras éras da língua, e em livros de épocas menos
remótas (de Càmõis, Fr. Luís de Souza, J. Freire de Andrade, Padre
Vieira, etc.), e de não se empregar oje mesmo em várias d'aquélas
palavras, é próva de que éssa letra tem sido e é nula na pronúncia jeral.
No que tóca á substituição de letras a fim de se xegar á unidade de
reprezentação das consoantes, cumpre á comissão notar que, sendo éla
reclamada pelo princípio fundamental da ortografia sónica, é ao mesmo
tempo ezijida pela necessidade de remover os obstáculos que a
reprezentação múltipla oferéce aos que aprêndem o português. Os dois
sons de--c--de--g--e de--r--, os três de--s--e os cinco de--x--, são um
martírio para professores e alunos d'instrução primária. E não á razão
para que continuemos a suportar éssas dificuldades.
Com efeito, tendo o--j--que é sinal onomatópico da articulação--je--,
por que não avemos d'empregar sempre esse sinal a reprezentar ésta
articulação? Tendo da mesma sórte o--z--, sinal onomatópico de--ze--,
não dis tambem a razão que reprezentemos sempre ésta articulação por
aquele sinal? Dando nós ao--c--um nóme que é onomatópico da
articulação--ce--, e empregando-o só por eicèção a reprezental-a, ao
passo que o empregâmos a reprezentar a articulação--qe--no màiór
número dos cazos tendo tambem para ésta um sinal onomatópico, não
averá nisto um duplo absurdo? E a anomalia dos cinco sons do--x--é
tambem injustificável. Os gregos tínhão ésta letra, a que atribuíão uma
só reprezentação; os latinos adòtárão-na, e reprezentávão com ela a
mesma articulação que os gregos. Por isso a comissão entende, que
deveremos empregal-a unicamente a reprezentar a articulação da qual é

para nós sinal onomatópico; nos demais valores déve ser substituída
pelos respètivos sinais. E o mesmo julga a respeito do--c--; assim como
julga que a boa razão manda que--s--fique reprezentando sòmente o seu
som sibilante, que oje reprezenta talvês 99 vezes sobre 100.
A todas éstas substituiçõis só se póde objètar com a razão estimolójica,
mas éla não reziste a um ezame reflètido. A comissão aprecia a
etimolojia no que vale; não póde porem esquècer o que reclâmão outras
consideraçõis, á frente das quais está a incalculável vantájem das
estraordinárias facilidades que d'aquélas substituiçõis advirão a quem
aprende o português. Alem d'isso a etimolojia não fica perdida; e como
já foi indicado, o que se tem a fazer, é nada em comparação do que já
se fês: ólhe-se para a série d'ezemplos das alteraçõis operadas, que
acima se aprezentou, e ficar-se-á convencido de que as substituiçõis
que se propõi e é precizo realizar, são uma simples emitação.
Quanto á criação de um carátèr privativo para um dos sons de--r--, e á
reprezentação de--lhe--, assim como de--nhe--, por um carátèr único,
parece-lhe que por si mesmas se justifícão; e mais justificada ainda se
deverá julgar a criação dos nóvos caratéres para as vogais acentuadas:
bem como julga irrecuzável a vantájem, que os que aprêndem a ler,
axarão em sêrem os ditongos reprezentados por caratéres especiais. E
do mesmo módo lhe paréce, que dispensa justificação a eliminação
do--ph--; assim como a do--ch--em qualquér das suas duas
reprezentaçõis (onde nada justifica o seu emprego), atentos os
embaraços que ele prodús.
* * * * *
Finalmente a comissão, depois da espozição e demonstração feitas,
julga dever acrecentar que, ao ezemplo que nos dérão espanhóis e
italiânos, para a refórma que propõi, se junta outro vindo de mais alto e
de mais lonje. Todas as consideraçõis lévão a crer, que a formóza
língua da tão celebrada Grécia antiga tinha ortografia sónica. A
prozódia grega contava 7 elementos vogais e 17 consoantes, e a sua
ortografia 24 caratéres, um para cada um d'esses elementos
privativamente; e com os acentos e espíritos sobre os caratéres,
indicávão-se as variaçõis de quantidade e de tom: se se dobrávão letras,

éra cèrtamente por que a pronúncia das letras dobradas diferia da das
sinjélas, como acontéce em italiâno. Nem outra couza se devia esperar
d'éssa tão douta nação, por isso que a unidade de reprezentação dos
sons éra conseqüéncia lójica da substituição da escritura simbólica pela
escritura alfabética,--razão
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