Primeira origem da arte | Page 3

João Villeneuve
[~q] se tem pelo primeiro inventor
dos Punçoens e Matrizes, aos quaes cõmunicou o seu projecto, com que
ultimamente se publicaraõ tantos effeitos desta Arte, como o explicou
Arnaldo Bergellano nestes Versos.
Addidit huic operi lucem sumptumque laboris Faustus Germamus,
munera fausta ferens. Et levi ligno sculpunt & grammata prima, Quae
poterat variis quisque referre modis. Materiam bibulae supponunt indè
papyri Aptam, quam libris littore Nilus alit. Insuper aptabant mitti quas
sepia guttas Reddebat pressas sculpta tabella notas. Sed qui non poterat
propria de classe character Tolli, nec variis usibus aptus erat, Illi
succurrit Petrus cognomine Schoffer, Quo vix caelando promptior alter
erat. Ille sagax animi praeclare toreumata finxit, Quae sanxit matris
nomine posteritas. Et primus vocum fundebat in aere figuras, Innumeris
cogi quae potuere modis.
E mais adiante fallando nesta mesma sociedade neste distico:
Illo primus erat tunc Guttembergus in albo, Alter erat Faustus, tertius
Opilio.
Principiaraõ estes Inventores a imprimir os primeiros Livros no anno de
1450. como se acha escrito no Livro intitulado Trithemianarum
Historiarum Breviarium: isto mesmo confirma Erasmo no prologo de
hum Tito Livio, impresso em 2 Volumes no anno de 1519 em
Moguncia, por Joaõ Schoffer, filho de Pedro Schoffer, e Neto de Joaõ
Fust, no fim do qual se lê tambem hum Privilegio do Emperador
Maximiliano, dado ao mesmo Joaõ Schoffer em consideraçaõ de seu
avou Joaõ Faust ter inventado a Arte de imprimir.
A Biblia, que estes mesmos primeiros inventores imprimiraõ, era tam

semelhante às manuscritas, que levando Joaõ Faust muitos Exemplares
a Pariz, de que a mayor parte eraõ de pergaminho, ornados com
grandes Letras, e Vinhetas de ouro feitas de maõ, como ainda muitos
existem, os vendeo por Escritos de maõ por hum preço muy
consideravel; porèm advertindo os [~q] os tinhaõ comprado, que os
Exemplares eraõ muitos, o accusaraõ pelo crime de feitiçaria; e isto
obrigou a Joaõ Fauste a retirarse para Moguncia; e naõ se achando
ainda seguro, passou a Strasbourg, aonde assistio alg[~u] tempo, e alli
ensinou esta Arte a Joaõ Metelin, ou Mentel, que foy o primeiro, que a
exercitou em Strasbourg.
Depois publicou por hum Edital o Parlamento de Pariz, que declarava
livre de culpa a Joaõ Faust, reconhecendo a grande utilidade da
admiravel Arte de imprimir.
Tendo estes engenhosos Artifices impresso estas Biblias, e alguns mais
Livros, se deviaõ separar, ou morrer, porque se naõ achaõ outros com
os seus nomes; e assim se principiou a divulgar este invento pelos
criados, e Officiaes destes primeiros Impressores.
Joaõ de la Caille na sua Historia da Impressaõ, de quem tirey a mayor
parte destas noticias, diz que Roma fora a primeira Cidade aonde se
principiou a exercitar esta Arte no anno de 1467. sendo Pontifice Paulo
II, e que o primeiro Livro, [~q] ahi imprimiraõ Conrado Suvenhein, e
Arnoldo Parmarts, fora a Cidade de Deos de Santo Agostinho, e que
por isto se ficara chamando a letra em que esta Obra foy impressa, com
o mesmo nome do Santo; porèm eu entendo, que Joaõ de la Caille se
engana, se he certo o que pessoas dignas de mayor credito me
affirmaraõ, dizendome que na Livraria de huma das primeiras Casas
deste Reyno se acha hum Livro impresso em Lisboa sem data, porèm
em lugar della, se lê nelle, que fora impresso 8 annos depois de se
inventar a Arte da Imprimissaõ; (saõ palavras do mesmo Livro) e como
o mesmo de la Caille assenta, que os primeiros Livros se principiaraõ a
imprimir no anno 1450. sendo certa a noticia da nossa primeira ediçaõ,
tambem fica sem duvida, que já em Lisboa havia Impressaõ no anno
1458. que saõ nove annos antes que esta Arte se exercitasse em Roma,
como diz o mesmo de la Caille; mas sobre esta materia espero tratar

mais com extençaõ em outra Obra a [~q] mais propriamente pertence.
Foy tal o progresso, [~q] em breve tempo fez esta utilissima Arte, que
dentro do mesmo seculo de 400. se introduzio o seu uso nas Cidades
mais principaes de Europa, e os que a exercitaraõ, tiveraõ tanta
estimaçaõ, que mereceraõ occupar muitos lugares, e Officios pela sua
capacidade, a qual parece que adquiriraõ pelo mesmo emprego em que
se occupavaõ, tirando do seu trabalho o melhor lucro no estudo [~q]
faziaõ, e pelas noticias com [~q] se instruiaõ. Sirva a todos de exemplo
o celebre Aldo Manuntio, que floreceo no mesmo seculo de 400. e a
quem devem os Professores da Lingua Latina a mayor luz para
penetrarem os mysterios mais escuros, e o methodo mais efficaz de se
aproveitarem das riquezas deste Thesouro da erudiçaõ. Os louvores
desta Arte naõ cabem nem ainda em tantos volumes, quantos por ella se
tem publicado, porque todas quantas ediçoens se fizerem pelos seculos
futuros, todas seraõ novas provas da sua utilidade, porque ninguem
negarà, que se a Arte
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