bebado és direito,?A quem em bebedices é suspeito.
XXXIX.
Porque se o copo aqui se n?o mostrasse?Vencido d'esta gente e infamado,?Bem f?ra que aqui Baccho o sustentasse,?Que o territorio seu deixa esgotado,?Mas esta ten??o sua agora passe,?Porque em fim vem de estomago danado;?E nunca beba mais vinho de Beja?Quem do beber alheo tem inveja.
XL.
E tu pois que padre és da borracheza,?N?o consintas que bebam por canada;?E porque mostres mais tua grandeza,?Com pipas, quartos seja agasalhada:?Tragam-lhe alguns leit?es lá da deveza?De conserva azeitona e retalhada,?Sardinha de Liceira que é conforme?Que a sêde se repare e se reforme.
XLI.
Como isto disse o bebado famoso?O gr?o Francisco ledo consentiu,?E uma ta?a de vinho mui cheiroso?Logo sobre elles todos esparsiu.?Cada um pelo caminho desgostoso?Da rua das adegas se partiu,?Providos de beber seus instrumentos?Tornaram para os frios aposentos.
XLII.
Em quanto este conselho na famosa?Adega se passou, aquella gente?Pisando a charneca sequiosa?Beber deseja d'Evora a agoa-ardente.?E chegando á Amieira lamarosa,?Onde o caminho vem de Benavente,?Se algum licor trazia de Lyeo,?Sem gota lhe ficar alli o bebeo.
XLIII.
T?o rijamente os odres despejavam?Como em terra que tem de vinho abrigo;?Mas se tanto bebiam confiavam?No Thomé dos Peg?es que era amigo.?á desejada venda já chegavam?Onde os abra?a o seu compadre antigo;?E em signal que da vinda se alegrava,?Novos vinhos que tinha lhe mostrava.
XLIV.
Vasco Bagulho que era o capit?o?Que ás Bacchanaes venturas se offerece,?De soberbo e altivo borrach?o,?A quem fortuna em copo favorece,?Para se aqui deter n?o vê raz?o,?Que a terra n?o dá vinho ao que parece.?Por diante passar determinava?Mas impediu-lh'o o vinho que chegava.
XLV.
Eis que apparece logo em companhia?Uma recova d'asnos de Castella,?Que gran copia de vinho lhe trazia,?Que foi fermosa vista, cousa bella.?Alvoro?am-se todos de alegria,?Desejam já provar a causa d'ella:?Que tal será o vinho alli diziam,?De que logares estes o trariam?
XLVI.
Os seus borrach?es eram de maneira?Que pipas pareciam mui compridas,?Agasalha-os com festa a taverneira?Por suas ta?as ver melhor providas,?O vinho bota em vasos de madeira.?Enchendo do restante as mais medidas.?Senta-se á meza logo em continente,?Para beber tambem com esta gente.
XLVII.
E do que os Castelhanos vem providos?Come?am a comer todos sentados,?Que uns d'azeitonas vem apercebidos,?Outros de uns pexinhos bem salgados.?E os que de manjares vem despidos,?Come?am a mandar vir alhos assados,?E sobre isto aos outros v?o brindando,?Os castelhanos vinhos festejando.
XLVIII.
Estando assi comendo, eis que chegavam?Outros que lhes pediam que esperassem,?Porque para beber desafiavam?Os mais famosos tres que alli se achavam.?Vinho trazem tambem, o qual gavavam,?Pedindo aos assentados que provassem:?Para provar do vinho um fóra salta,?Que no beber aos outros mais se exalta.
XLIX.
N?o tem descarregado a agoa-ardente,?Quando o que saltou fóra já bebia;?Come?a de gaval-o á sua gente,?Dizendo que parece malvasia.?O tarverneiro ent?o em continente?Tal gente recebeu com alegria.?Enchem vasos de vinho e do que deitam?Os que vem e os que est?o nem gota engeitam.
L.
Comendo alegremente perguntavam,?Com lingua onde as palavras se detinham,?D'onde era o licor branco que gostavam?E se vermelho entre elle tambem tinham.?De Castella os marranos lhe tornavam?Que si, e suas mercês de donde vinham??Disse um d'elles: De junto a Benavente,?Vimos a Evora a beber sómente.
LI.
De Riba-tejo temos já provado?Os vinhos, e as adegas temos visto,?Caparica deixamos esgotado?_Molto sudando nel glorioso acquisto_.?E de um bebado somos t?o amado,?T?o querido de todos e bem quisto,?Que n?o no largo mar com leda fronte,?Mas de vinho entraremos n'uma fonte.
LII.
E por mandado seu buscando vamos?A terra que Louredo em torno rega,?Depois que os quartos todos esgotamos?Da Telha, Lavradio, Aldea-gallega.?Mas já raz?o parece que saibamos,?Se entre vós a verdade se n?o nega,?Quem sois, que vinho é este que buscaes,?E se tendes do d'Evora alguns signaes.
LIII.
Somos, um dos do vinho lhe tornou,?Estrangeiros na terra e na na??o,?Que os proprios s?o aquelles que criou?A terra que sovado come o p?o.?A lei cega tivemos que ensinou?Aquelle descendente de Abrah?o,?Que vinho n?o bebeu quente nem frio;?_Intendami chi può, che m'intend'io_.
LIV.
Esta pequena venda aonde estamos?é de nossa passagem certa escala,?Onde ás vezes taes vinhos nós gostamos,?Que acontece ficar homem sem falla.?E por ser terra esteril procuramos,?Cada vez que passamos, visital-a.?Comem aqui e bebem tanto a pique,?Que prometto que o Fuentes cedo enrique.
LV.
E pois que tantos odres despejaes?Se d'Evora buscaes o vinho ardente,?Guiando-vos irei, té que sejaes?Postos em Monte-mór seguramente,?Onde será bem feito que vejaes?O tridentino André que é o bebente?Que essa terra governa, e que vos veja,?Para que d'alguns vinhos vos proveja.
LVI.
Dizendo isto o Mourisco carregou?Os seus odres, deixando a companhia,?D'ella e do vendeiro se apartou;?Bebe cada um sua vez por cortezia;?Os novos companheiros acceitou?Com mostras de prazer e d'alegria,?Dizendo a cada um que caminhasse,?E quem beber quizesse que o tomasse.
LVII.
A noite se passou na leda frota?Com estranha alegria n?o cuidada,?Por acharem em terra t?o remota?A venda nova d'elles desejada.?Disse o Mourisco alli: Venga la bota!?Na castelhana lingua d'elle usada.?Elles que no beber tanto se esmeram,?A seu mandado logo obedeceram.
LVIII.
Do vinho alegres c?res rutilavam?Pelas ta?as de vidro crystallino;?As velhas azeitonas que lhes davam?Festejam mais que fl?res e boninas,?Da venda os taverneiros s'espantavam?Do
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