Pátria | Page 4

Junqueiro Guerra
$10
_Ora??o ao P?o_ $12
_Ora??o à Luz_ $20
_Marcha do ódio_ $30
A ENTRAR NO PRéLO:
_Ora??o à Flor_.--_Ora??o ao Homem_.
A SAIR BREVEMENTE:
_Unidade do Sêr_ (estudo filosófico e scientífico).
PROPRIEDADE DOS EDITORES
_A propriedade literária e artística está garantida em todos os países que aderiram á Conven??o de Berne--(Em Portugal, pela lei de 18 de Mar?o de 1911. No Brasil, pela lei n.^o 2577 de 17 de Janeiro de 1912)_.
Porto--Imprensa Moderna
_á alma do meu amigo
Dr. José Falc?o_
_Aos meus amigos
Basílio Teles
José Pereira de Sampaio_
ACTORES
Um doido.?O rei.?Magnus, duque de S. Vicente de Fóra.?Opiparus, príncipe d'Oiro Alegre.?Ciganus, marquês de Saltamontes.?Astrologus, cronista-mór de el-rei.?Iago, antigo c?o de fila, dentes p?dres, obeso, gordura flácida. Judas, c?o mesti?o de l?bo, carcunda, sarnento, olhar falso, injectado de bílis. Veneno, fraldiqueirito an?o, ladrinchador e lambareiro.
*PáTRIA*
Noite de tormenta. Céu caliginoso, mar em fúria, ventanias trágicas, relampagos distantes. O castelo do rei à beira-mar. Sala de armas. Nos muros, entre panóplias, os retratos em pé da dinastia de Bragan?a. Agachados ao lume, os três c?es familiares de el-rei,--Iago, Judas, Veneno. Entram Opiparus, Magnus e Ciganus. Sentam-se, afagando os c?es. Magnus poisa na mesa um pergaminho com
? sêlo rial. é o tratado com a Inglaterra.
SCENA I
CIGANUS, _apontando o pergaminho e rindo_:
Necrológio a assinar pelo defunto!
MAGNUS, _com gravidade_:
é urgente:?Salvamo-nos...
OPIPARUS, _acendendo um charuto_:
Perdendo a honra... felizmente!?Inda bem! inda bem! vai-se a _ária das Quinas_...
MAGNUS, _convicto_:
Glorioso pend?o s?bre um castelo em ruínas...
OPIPARUS:
O pend?o! o pend?o!... um trapo bicolor,?A que hoje o mundo limpa o nariz... por favor.
CIGANUS:
Emquanto a mim, que levem tudo, o reino em massa,?Pouco importa; o demónio é que o levem de gra?a.?Mas agora acabou-se!... e, em logar de protesto,?Vejamos antes se o ladr?o nos compra o resto...?Um bom negócio... hein?!... manobrado com arte...
OPIPARUS, _soprando o fumo do charuto_:
Dou por cem libras, quem na quer? a minha parte...
MAGNUS, _grandioso_:
Quando d'animo leve o príncipe assim fala,?N?o se queixem depois que a dinamite estala,?Nem se admirem de ver o país qualquer dia?Na mais desenfreada e tremenda anarquia!?Prudência! haja prudência, ao menos, meus senhores...?é grave a ocasi?o... gravíssima!... Rumores?De medonha tormenta andam no ar... Cuidado!?N?o desanimo, é certo... Um povo que deu brado,?Uma na??o heróica entre as na??es do mundo,?Há-de viver... é longo o horizonte e é fecundo!...?Creio ainda no meu país, na minha terra!...?Guardo a esp'ran?a...
OPIPARUS:
Bem sei, no Banco de Inglaterra...?A esp'ran?a e dois milh?es em oiro, tudo à ordem...?N?o é isto?...
MAGNUS, _embara?ado_:
Exagêro... exagêro... Concordem...?Sim, concordem... pouco me resta e pouco valho...?Mas o suor duma vida inteira de trabalho...?Economias... bagatela... um nada... era mister...?No dia d'àmanh?, com filhos, com mulher...?Entendem, claro está... era preciso, emfim,?Seguran?a... N?o me envergonho... Emquanto a mim,?Posso falar de cara alta... o meu passado...
OPIPARUS:
Se é mesmo a profiss?o do duque o ser honrado!?é o seu modo de vida, o seu ofício... Creio?Que é daí... que é daí que a fortuna lhe veio:?Ninguêm lho nega... O duque é dos bons, é dos puros...?E a virtude a render, a dignidade a juros?Acumulados... Francamente, eu noto, eu verifico?Que era caso de estar muitíssimo mais rico...?O duque foi modesto: a honra de espartano?N?o a deu nem talvez a dois por cento ao ano!
MAGNUS, _sorrindo constrangido_:
Má língua!...
CIGANUS, _com seriedade irónica_:
O nosso duque a ofender-se... que asneira!?O príncipe graceja... histórias... brincadeira...?à honradez do duque, inteiri?a e macissa,?Todo o mundo lhe faz a devida justi?a...?Mas vamos ao que importa,--ao bom pirata inglês...
MAGNUS:
El-rei assinará?... o que julga, marquês?
OPIPARUS:
El-rei nesse tratado é rei como Jesus,?E, portanto, v?o ver que o assina de cruz.
CIGANUS:
Sem o ler. Quem duvída? Assinatura pronta!?Paris vale uma missa e Lisboa uma afronta.?E, em suma, concordemos nós que um mau reinado,?Por um bom pontapé, fica de gra?a, é dado.?A el-rei àmanh? nem lhe lembra. Tranqùilo,?Dormirá,
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