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The Project Gutenberg EBook of Os Simples, by Guerra Junqueiro
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Title: Os Simples
Author: Guerra Junqueiro
Release Date: January 16, 2006 [EBook #17534]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
? START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OS SIMPLES ***
Produced by Jo?o Miguel Neves, Rita Farinha and the Online?Distributed Proofreading Team at (This?file was produced from images generously made available?by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de?Portugal).)
GUERRA JUNQUEIRO
*Os Simples*
PORTO
TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL
MDCCCXCII
OS SIMPLES
IMPRIMIRAM-SE D'ESTE LIVRO:
1 exemplar em papel pergaminho?16 exemplares em papel Wathman
Todos estes exemplares s?o assignados e numerados pelo auctor.
GUERRA JUNQUEIRO
*Os Simples*
PORTO
TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL
MDCCCXCII
A F.
_Querida:
é este por emquanto o meu melhor livro.?Pertence-te.
teu J._
*PRELUDIO*
I
A CAMINHO
(_Abril, ao raiar d'alva. Por uma encosta de sementeiras, pastos, olivedos e amendoaes em flor vae um loiro peregrino adolescente, d'olhos ingenuos e extasiados no alvor da estrella da manh?_.)
Um Lavrador
(_de noventa anos, em mangas de camísa a lavrar uma terra_)
ó Senhor t?o novo, d'olhos c?r de esp'ran?a,?Ides de caminho para algum logar?
O Peregrino
Vou dar volta ao mundo...
O Lavrador
Sem arnez ou lan?a?!?ó Senhor t?o novo, d'olhos c?r de esp'ran?a,?Penas e miserias é o que ireis achar!...
Uma Velhinha
(mais adiante)
ó Senhor t?o novo, d'olhos inocentes,?Ides com cuidados para um tal andar!...
O Peregrino
Vou a prender monstros, combater serpentes...
A Velhinha
ó Senhor t?o novo, d'olhos inocentes,?Os drag?es ferozes vam-no espostejar!...
Uma Joven Camponeza
(mais adiante)
ó Senhor t?o novo, d'olhos encantados,?Ides pela fresca para algum pomar?
O Peregrino
Vou-me a ler Destinos, descobrir os Fados...
A Camponeza
ó Senhor t?o novo, d'olhos encantados,?Feiticeiros negros vam-no enfeiti?ar!...
Uma Pastorinha
(mais adiante)
ó Senhor t?o novo, d'olhos t?o brilhantes,?Vossos olhos disem que ides p'ra casar...
O Peregrino
Vou fazer tesoiros, fabricar diamantes...
A Pastorinha
ó Senhor t?o novo, d'olhos t?o brilhantes,?Ha ladr?es nos bosques, vam-no assassinar!...
Um Mendigo
(mais adiante)
ó Senhor t?o novo, d'olhos c?r de chama,?Vossos olhos ardem como a luz solar!...
O Peregrino
Vou descobrir mundos, quero gloria e fama!...
O Mendigo
ó Senhor t?o novo, d'olhos c?r de chama,?Sobe o pó mais alto que os trov?es do mar!...
A Estrella D'Alva
ó crean?a, d'olhos c?r da flor dos linhos,?Por infernos deixas tua paz, teu lar!...
O Peregrino
(desaparecendo ao longe)
Florirei as pedras pelos maus caminhos!?Levo a luz dos astros e as can??es dos ninhos?A sorrir nos beijos e a tremer no olhar!...
II
DE VOLTA
(_Crepusculo, Novembro. Pela encosta fria e desnudada vae andando, esfarrapado e exangue, um pobresinho triste, arrimado ao bord?o_.)
Um Lavrador
(_de cem anos, ainda robusto, à porta do casebre_)
Mendigo d'olhos sem esp'ran?a,?Vaes-te perder na escurid?o...?Entra em meu lar; dorme, descan?a...
O Pobresinho
(andando sempre)
Quem dera a paz divina e mansa,?Velho, que tens no cora??o!...
Uma Velhinha
(_a resar à porta do moinho_)
Mendigo d'olhos sem ventura,?Dentro da azenha ha um enxerg?o;?Terás len?oes, terás fartura...
O Pobresinho
(andando sempre)
Eu só quizera essa candura,?Irm? da Gra?a e da Ilus?o!...
Uma Camponeza
(que vem da vindima)
Mendigo d'olhos d'engeitado,?Na nossa casa ha vinho e p?o;?E ha leite fresco; e ha mel doirado...
O Pobresinho
(andando sempre)
Tua alegria sem cuidado,?Eis o que eu busco... em v?o! em v?o!...
Uma Pastorinha
Mendigo d'olhos de coveiro,?Trago a merenda no surr?o;?O queijo é bom, mas é grosseiro...
O Pobresinho
(andando sempre)
Dá-me o teu riso feiticeiro,?Lirio do monte inda em bot?o!
Um Pedinte
Mendigo d'olhos na agonia,?Dou-te o meu manto e o meu bord?o;?Nada mais levo... a noite é fria...
O Pobrezinho
(andando sempre)
Apenas ai! desejaria?Tua crist? resigna??o!...
A Estrella Vesper
ó sonhador louco d'outrora,?Teus sonhos lindos onde est?o?!?Ebrio da luz, rico d'aurora,?Vi-te partir... e vejo agora?Um morto erguido d'um caix?o!
Teus olhos fulvos namorei-os?De dia e noite, da amplid?o:?Vi-os sorrir entre gorgeios,?Vi-os cantar e vi-os cheios?De pranto e febre e indigna??o!?Regressa emfim, é teu destino,?á paz obscura, á submiss?o...?E outra vez meigo e pequenino?Deixa dormir, como um menino,?Teu velho e exhausto cora??o!...
O Pobresinho
(chorando)
Só tu, estrella, me conheces?Em minha dor, minha afli??o!...?Só tu n?o dormes, n?o esqueces...?Só tu ouviste as minhas preces...?Bemdito, estrella, o teu clar?o!
Setembro--91.
I
*A MOLEIRINHA*
A MOLEIRINHA
Pela estrada plana, toc, toc, toc,?Guia o jumentinho uma velhinha errante.?Como v?o ligeiros, ambos a reboque,?Antes que anoite?a, toc, toc, toc,?A velhinha atraz, o jumentito adiante!...
Toc, toc, a velha vae para o moinho,?Tem oitenta anos, bem bonito rol!...?E comtudo alegre como um passarinho,?Toc, toc, e fresca como o branco linho,?De manh? nas relvas a córar ao sol.
Vae sem cabe?ada, em liberdade franca,?O gerico russo d'uma linda c?r;?Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,?Tange-o, toc, toc, a moleirinha branca?Com o galho verde d'uma giesta em flor.
Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,?Toc, toc, toc, que recorda??o!?Minha avó ceguinha se me representa...?Tinha eu seis anos, tinha ella oitenta,?Quem me fez o ber?o fez-lhe o seu caix?o!...
Toc, toc, toc, lindo burriquito,?Para as minhas filhas quem m'o dera a mim!?Nada mais gracioso, nada mais bonito!?Quando a Virgem pura foi para o Egipto,?Com certeza ia n'um burrico assim.
Toc, toc, é tarde, moleirinha santa!?Nascem as estrellas, vivas, em cardume...?Toc, toc, toc, e quando o galo canta,?Logo a moleirinha, toc, se levanta,?P'ra
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