Octavia | Page 5

Vittorio Alfieri
magestade que brilha em teu semblante. Um gesto, um sorriso, um olhar teu podem acalmar a tormenta que agita aquelle cora??o. Ousei jurar-lhe em teu nome que nunca tiveste ten??o de abandona-la; que f?ra para altos fins, de mim desconhecidos, que chamaste Octavia a Roma, mas que o seu regresso n?o seria um mal para Popp��a.
N��RO.
Fiel interprete de meus sentimentos, disseste-lhe a verdade. J�� eu lhe fizera igual juramento, mais ella foi surda a meus protestos. O dia, que agora come?a, n?o se acabar�� sem que o destino de Octavia esteja decedido e desta vez para sempre.
TIGELLINO.
E eu espero que haver�� tranquillidade, se quizeres patentear ao povo quanto Octavia �� criminosa.
N��RO.
Incorreu ella no meu odio; queres maior crime? Mas, �� porventura preciso que eu motive a minha vontade?
TIGELLINO.
Demais! Ainda n?o podeste reduzir este povo impio �� degrada??o que elle tanto merece. Conservou-se silencioso, �� certo, em face das fogueiras de Agrippina e de Claudio; calou-se ainda ao ver a de Britannico; entretanto hoje deplora a sorte de Octavia e atreve-se a murmurar. Patent��a-lhe os crimes de Octavia e a plebe emmudecer��.
N��RO.
Nunca amei esta mulher; pelo contrario, aborreci-a sempre; ella teve a audacia de chorar por seu irm?o; vi-a obedecer cegamente �� cruel Agrippina; mais de uma vez tem repetido o nome de seus antepassados que empunh��r?o o sceptro; cada um destes actos �� um crime e tanto me basta para julga-la digna de castigo. Sua senten?a est�� lavrada! Chegue ella, e minha vontade ser�� feita. Roma saber�� que Octavia deixou de viver; s?o estas as contas que de minhas ac??es devo aos Romanos.
TIGELLINO.
Senhor, tremo por ti. N?o �� prudente affrontar a plebe enfurecida. Se podes inflingir a essa mulher justo castigo, porque queres que ella pare?a victima de tua vontade absoluta? N?o f?ra melhor desvendar os seus maiores delictos, mostra-la ao povo criminosa como ella ��, emquanto a julg?o innocente?
N��RO.
Commetteu ella porventura outros crimes... e maiores?
TIGELLINO.
Ninguem ousou ainda revelar-t'os; mas deverei calar-me por mais tempo, agora que, repudiada por ti, e com raz?o, ella n?o �� mais tua esposa? Essa mulher indigna estava ainda em teu palacio, partilhava comtigo o leito e o throno, usurpava as homenagens devidas �� imperatriz, e j�� se rebaix��ra mais do que o faria a mulher mais v��l e criminosa; j�� resolv��ra esquecer seu illustre sangue, sua honra, a dignidade propria e a de seus av��s, junto de um miseravel citharista, para quem voltava olhares amorosos.
N��RO.
Que infamia! que audacia!
TIGELLINO.
O escravo Euc��ro toc��ra-lhe o cora??o; dahi a calma com que supportou o repudio, o desterro, tudo! Euc��ro compensava-lhe amplamente a perda de N��ro: companheiro inseparavel, fazia-lhe esquecer o desterro... Desterro? digo mal. Ameno refugio os seus criminosos amores encontr��r?o na tranquilla Campania. Alli, reclinada na relva, entre fl?res, �� margem de um brando regato, ella escutava os sons suaves que a dextra imbelle de seu amante tirava da cithara e aos quaes se casava o seu canto: alli n?o invejava ella as perdidas honras nem a anterior posi??o.
N��RO.
Filha de Messalina, ella n?o podia desmentir o sangue de que nasceu. Mas, dize, ser�� possivel provar o que acabas do contar-me?
TIGELLINO.
Muitas de suas creadas sabem os pormenores deste caso; e os contar��? quando forem interrogadas. Eu n?o te revelaria este segredo, se Octavia tivesse em algum tempo possuido o teu amor. Mas que digo? louco! se elle merecesse a tua affei??o, ter-te-hia j��mais ultrajado assim? nem se quer lhe occorreria tal pensamento. Raz?es politicas, contra a tua vontade, der?o-te Octavia por esposa: ella conheceu que n?o era digna de ti e rebaixou seu cora??o vil em vis amores.
N��RO.
Receio exp��r a luz infamante t?o obscuro crime!...
TIGELLINO.
A infamia �� s�� de quem commetteu o delicto.
N��RO.
�� certo.
TIGELLINO.
Tenha cada um a paga merecida; ella a de r��, tu a de justiceiro, e o podes ser sem perigo.
N��RO.
Tens raz?o no que dizes; faze, pois, o que resolveste e sem demora.

SCENA IV.
N��RO, TIGELLINO E SENECA.
SENECA.
Senhor, j�� Octavia transp?z os umbraes de teu palacio; se �� infausta ou grata a noticia que te trago, n?o sei. Ninguem quiz disputar-me a preferencia em dar-te esta nova; o que me parece triste presagio.
N��RO.
Vai, Tigellino, executa as minhas ordens, e tu volta pelo mesmo caminho por onde vieste; vai ao encontro de Octavia e dize-lhe que aqui estou s�� e que a espero tambem s��.

SCENA V.
N��RO.
�� assaz culpada Octavia; posso duvidar de seus crimes? Lamento s�� que n?o fosse eu o primeiro a quem occorresse a id��a de accusa-la. Ser�� possivel que N��ro precise aprender com outrem os meios de derrubar seus inimigos? Mas approxima-se o dia em que, para livrar-me de quantos aborre?o, bastar-me ha fazer um gesto do alto do meu throno.

SCENA VI.
N��RO, OCTAVIA.
OCTAVIA.
Por entre os horrores de uma noite tenebrosa, rodeada de soldados armados, sou arrastada a este mesmo palacio, de onde, ha dois mezes, fui expellida �� viva for?a. Ser-me-ha licito perguntar ao meu
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