Octavia | Page 9

Vittorio Alfieri
tu, falla-lhe em meu nome, mostra-te em meu lugar; bem sabes o que seja o povo, é perigoso contemporisar com elle. Faze o que f?r conveniente: dissimula promette, concede, illude-o, mata, se f?r preciso; lan?a m?o do ouro, do terr?r, do ferro, das palavras enganadoras, comtanto que triumphes. Vae, v?a, e volta.

SCENA IV.
NéRO, OCTAVIA E SENECA.
NéRO.
Desgra?ado de ti, Seneca, se tentares sahir deste palacio!... Mas afasta-te de mim... N?o quero vêr-te. Podes fazer votos por tua felicidade; espera, deseja, mas o teu dia se approxima.
SENECA.
Eu o espero.

SCENA V.
NéRO E OCTAVIA.
NéRO.
Quanto a ti, fica certa de que é este o ultimo triumpho que alcan?as; gosa-o, pois em breve...
OCTAVIA.
Dia virá, mas já tarde, em que conhecerás melhor Octavia.

SCENA VI.
POPPéA, NéRO E OCTAVIA.
POPPéA.
Dize-me, Néro, collocaste-me no throno a teu lado para que de mim zombasse a plebe insolente?... Mas que vejo?... em quanto me acabrunh?o de ultrages, silencioso ahi ficas sem me vingares junto dessa que é a causa de todas as desgra?as! Será, pois, verdade que Néro é o senhor do mundo, quando o povo lhe imp?e uma esposa?
OCTAVIA.
Tu unica possues o cora??o de Néro: que temes pois? Eu, vil prisioneira, sou apenas obstaculo á audacia do povo. Alegra-te, pois, p?e de parte os cuidados; tuas lagrimas preciosas seccará? em breve, quando vires correr em ondas o meu sangue.
NéRO.
Dentro em pouco Roma inteira saberá da tua infamia, e conhecerá qu?o indigno era o idolo por ella escolhido. Os ultrajes, que te atirár?o ás m?os cheias, Poppéa, transformar-se-h?o em louvores; ás homenagens, que a ella prestár?o, substituirá o opprobrio.
OCTAVIA.
Se alguem tentasse convencer-me do crime infame de que me accus?o com provas v?s, a ti só, Poppéa, quizera eu por meu juiz. Tu sabes o que seja mudar a cada instante de amor, e sabes tambem qual a recompensa que merece quem de tal crime se torna ré. Mas a vossos olhos bem sei que sou innocente. Porque tu, que tens tanto orgulho da tua virtude, n?o ousas encarar-me?
NéRO.
Que te atreves dizer? Respeita a esposa de teu senhor, treme...
POPPéA.
Deixa que ella falle; bem faz em escolher-me para juiz; onde acharia outro mais indulgente? E que melhor castigo poderia eu inflingir áquella que trahio o amor de Néro, do que a perda desse amor? Haverá por ventura pena mais suave? Logo que eu houver provado a existencia da paix?o infame, que debalde buscas esconder, tornarei publico teu crime; amante indigna de Eucéro, quero que sejas sua esposa.
OCTAVIA.
O escravo Eucéro é aqui o véo que cobre uma iniquidade mais vil do que elle proprio. Mas recuso discutir comtigo, n?o nasci para descer t?o baixo, n?o sou, como tu, audaz...
NéRO.
Com quem ousas comparar-te? A chamma adultera, em que ardes, p?e-te abaixo da mais vil escrava; cahiste da alta posi??o onde te collocára o nascimento.
OCTAVIA.
N?o me odiáras tanto, se com effeito eu tivesse decahido, ou se ao menos pudesses crê-lo. Entregar-te-hei, se o quizeres, tudo quanto me pertence, mas n?o a minha innocencia. Cruel Néro, embora sejas criminoso, n?o posso deixar de amar-te, nem de envergonhar-me deste amor. é opprobrio para mim, bem o sei, chamarem-me rival de Poppéa; mas, n?o o sou, esta mulher nunca te amou, n?o te ama, e só ambiciona a tua posi??o, o teu throno, o esplendor que o cerca.
NéRO.
Perfida! Já...
OCTAVIA.
Quanto a ti, quando comecei a amar-te, n?o eras o que hoje és; tinhas nascido talvez para o bem. Jámais na tua infancia déste prova de indole perversa. Eis aqui a mulher que envenenou-te a alma e o cora??o; ella foi quem perverteu a tua intelligencia; ella, sim ella, quem te ensinou o sabor do sangue; eis aqui o genio máo de Roma. De mim n?o fallo, que nada valem meus males, comparados com os da patria; mas tu tingiste de sangue as aguas do Tibre; meu irm?o, tua m?i...
NéRO.
Cala-te! cala-te! ou eu...
POPPéA.
Merece ella porventura a tua cólera, senhor? O ultraje é sempre meio de defesa de que lan?a m?o o réo. Se ella me houvesse offendido, se lhe pudesses dar credito, ent?o suas palavras teri?o peso para mim. Que disse ella? Que n?o te amo? Bem sabes...
OCTAVIA.
Melhor que elle o sabes tu; Néro só o saberá no dia em que perder o imperio; ent?o te conhecerá qual és. Ah! porque no throno (causa unica do odio que me vota Néro) porque no throno tive eu o ber?o! por que n?o descendo de familia obscura? Seria ent?o menos suspeita e menos odiosa.
NéRO.
Manos odiosa? Sempre o foste, e de dia em dia mais te tornas; agora, porém, sê-lo-has por pouco tempo.
POPPéA.
Se n?o posso dizer-me descendente de familia real, nasci porventura de sangue vil? E, quando o fosse, n?o me bastára n?o ser filha de Messalina?
OCTAVIA.
Reinav?o meus pais, a isto deve-se o serem de todos conhecidos pequenos erros que commettêr?o. Mas, quem soube jámais o que fizer?o vossos avós obscuros e ignorados? Ainda, porém, que
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