cruel e orgulhoso, mas n?o se julga ainda bem seguro no throno; virá um dia em que...
OCTAVIA.
Que tumulto é este? que escuto?
SENECA.
Parece ser o povo de Roma...
OCTAVIA.
Oh! céo, approxima-se deste palacio...
SENECA.
Ou?o os gritos do povo em revolta.
OCTAVIA.
Ai de mim! o que terá acontecido!...
SENECA.
Nada receies; nós somos os unicos que estamos seguros neste palacio indigno.
OCTAVIA.
Cresce o tumulto. Ah! infeliz! talvez que Néro esteja em perigo... Mas que vejo?...
SENECA.
é Néro; ei-lo que para aqui se encaminha.
OCTAVIA.
Oh! quanta cólera brilha no seu olhar feroz! Eu tremo!...
SCENA II.
NéRO, OCTAVIA E SENECA.
NéRO.
Quem és tu, quem és tu mulher perfida, cuja volta provoca perturba??es no povo de Roma e cujo nome elle ousa acclamar?... O que fazias aqui? O que planejavas com este réo, este traidor? Estás ambos em meu poder. Em v?o o povo insensato reclama a tua presen?a. Ah! se tiver de mostrar-te á plebe, espero mostrar-te morta como mereces.
OCTAVIA.
Faze de mim, ó Néro, o que quizeres, mas, crê, sou innocente, n?o tive parte na revolta popular. Ao povo, juro, nada pe?o, nada delle espero; mas, já que contra minha vontade vos fiz mal, castiga meu crime involuntario.
NéRO.
Antes de punir-te, quero que todos saib?o quanto és criminosa.
SENECA.
Esperas illudir o povo com mentiras t?o torpes?
NéRO.
Tu tambem, cobarde instigador de revoltas, que aqui te escondes, chefe ignorado do tumulto popular, sentirás um dia o peso da minha cólera e da minha vingan?a.
SCENA III.
TIGELLINO, OCTAVIA, NéRO E SENECA.
TIGELLINO.
Senhor...
NéRO.
Que novas trazes, Tigellino, falla.
TIGELLINO.
A revolta cresce de minuto em minuto; o unico recurso agora é a tua presen?a. O povo, apenas soube que por ordem inesperada Octavia voltára a Roma, quiz immediatamente vê-la. Julga, ignorante, que mudaste de opini?o; ha quem affirme que Octavia partilha de novo o leito imperial. Alguns correm ao Capitolio, e alli manifest?o sua alegria e os votos que por ella fazem; outros coro?o de louro triumphal as estatuas de Octavia, ha tanto tempo abandonadas; outros, ebrios de prazer, derrib?o as estatuas de Poppéa; outros, emfim, mais que audazes, arrast?o-as pelas ruas, gritando, amaldi?oando-a. Por toda a parte ouvem-se contra Poppéa accusa??es infames; cobrem-na de ridiculo; ento?o louvores a Néro, mas querem que, pelo menos, Poppéa seja expulsa de Roma; os mais temerarios ous?o em gritos pedir a sua morte. Ouves daqui os cantos de alegria, depois as amea?as, depois as supplicas. Reina por toda a parte a agita??o; ninguem quer mais obedecer. Os soldados e os chefes debalde se esfor??o por opp?r um dique á multid?o furiosa, debalde; o povo rompe as fileiras da tropa, espalha em torno a confus?o; já houve mortes; cumpre n?o perder um momento. O que deverei fazer? O que ordenas, Senhor?
NéRO.
O que fazer?... Mostre-se Octavia ao povo, mostre-se já... e depois, morra.
OCTAVIA.
Eis o meu peito inerme, fere, se o queres, comtanto que minha morte te aproveite... Mostra-me moribunda ao povo revoltado; acalmar-se-ha logo essa criminosa alegria. Só pe?o uma gra?a: sej?o as minhas cinzas guardadas na mesma urna que encerra as de Britannico. O nosso tumulo servirá de base inabalavel ao throno de Néro. O que te detém? tira-me a vida, e cesse o teu furor.
SENECA.
Se queres, ó Néro, porder ao mesmo tempo o throno e a vida, o meio é certo: manda assassinar Octavia.
NéRO.
Hei de vingar-me, quaesquer que sej?o as consequencias do meu acto.
OCTAVIA.
Oh! quero antes soffrer mil mortes do que exp?r Néro ao menor perigo.
TIGELLINO.
O tempo urge. N?o ouves estes gritos furiosos? Nunca vi o povo possuido de tanta cólera; tanto mais devemos temê-lo, quanto mais o arrebata a alegria. Cumpre tomar já uma decis?o.
OCTAVIA.
Porque hesitas, Néro? Para applacar o povo, deves escolher entre estes dous extremos: matar-me, ou dar-me o teu amor. Nunca pudeste fingir que me amavas; concede me ao menos a morte que desejo ardentemente. Illude este povo credulo, cujo furor se acalmará em breve; o povo é sempre inconstante. Permitte sómente que eu me apresente a elle com semblante tranquillo, como se houvesse recuperado a tua affei??o; saberei dissimular. Deste modo os grupos se dispersar?o, cessará o tumulto, reinará de novo a ordem e terás ent?o tempo para desembainhar a espada e degolar a victima.
NéRO.
Sim, mostrar-te-hei aos Romanos; mas antes quero saber se sou ou n?o senhor em Roma. Vae, Tigellino, corre ao acampamento, reune em segredo os pretorianos, cahe de sorpreza sobre os audaciosos rebeldes, e, por onde passares, vae espalhando a morte.
TIGELLINO.
Farei como o ordenas; mas o resultado é incerto. Parecerá cruel punir com a morte manifesta??es de alegria. E, se crescer o furor do povo? Elle é inconstante, bem sabes, da alegria passa facilmente a cólera; é difficil resistir a uma cidade inteira. Se f?rmos vencidos, eu e os meus soldados, quem te defenderá?
NéRO.
Tens raz?o... Mas, se eu ceder, poder?o pensar que...
TIGELLINO.
Confia em mim, senhor; n?o transformes um perigo momentaneo em grave mal; a tua presen?a bastará por si só para acalmar o povo.
NéRO.
Eu... fico aqui para guardar Octavia. Vae
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.