Octavia | Page 4

Vittorio Alfieri
arte de reinar, ou ella propria te dará a cor?a.

ACTO SEGUNDO
* * * * *

SCENA I.
POPPéA, TIGELLINO.
POPPéA.
Corremos hoje o mesmo perigo, Tigellino; devemos pois procurar um mesmo asylo.
TIGELLINO.
O que podes receiar da parte de Octavia?
POPPéA.
Quanto á belleza nada temo; a rainha sempre prevalecerá aos olhos de Néro; temo, sim, o seu fingido amor, a sua dissimulada meiguice; temo os ardis e a eloquencia de Seneca, a grita da plebe e o remorso do proprio Néro.
TIGELLINO.
Ama-te elle ha tanto tempo e ainda n?o o conheces? Elle só sente remorsos de n?o ter feito maiores males. Fica certa de que, se chama Octavia a Roma, é só com o fim de tirar della completa vingan?a. Deixa-me despertar-lhe o odio innato e profundo que em seu cora??o se une ao rancor que vota á esposa. é este o asylo que devemos buscar ante o perigo que corremos.
POPPéA.
Estás tranquillo, eu, porém, n?o me julgo segura, mas a franqueza com que fallas convida-me á franqueza. Bem conhe?o Néro, bem sei que nelle o remorso nada póde; mas o medo, dize, n?o tem grande influencia sobre seu espirito? Quem n?o o vio tremulo junto da m?i que odiava? Amava-me elle já ent?o loucamente e no entanto ousou porventura dar-me a m?o de esposo emquanto ella foi viva? N?o bastava a presen?a silenciosa de Burrho para o fazer tremer! Enfim o proprio Seneca, sem poder e sem influencia, n?o o intimida ás vezes com suas palavras v?s? S?o estes os unicos remorsos de que o julgo capaz. Ajunta a isso as murmura??es e as amea?as dos romanos...
TIGELLINO.
Tudo isto só servirá para arrastar Octavia ao la?o onde já cahir?o, Agrippina, Burrho e tantos outros. Se desejas a morte de tua rival, deixa que novo terror augmente no corar?o de Néro o medo antigo. Elle ainda n?o manifestou todo o sou pensamento, mas eu sei que nada ha que tanto o domine como a sua pusilanimidade. Roma, pedindo o regresso de Octavia, pronunciou a senten?a de morte da propria Octavia.
POPPéA.
é certo; mas, se ella conseguir reconquistar por um momento só a antiga influencia...
TIGELLINO.
N?o, n?o o receies; Octavia n?o conhece o caminho que vai ter ao cora??o de Néro; sua virtude austera irrita o espirito do esposo; sua obediencia, seu amor, sua timidez desagrad?o-lhe igualmente; Néro detesta em Octavia todos estes meios de seduc??o que a nós tanto approveit?o. Falla, o que deverei fazer?
POPPéA.
Emprega toda a tua perspicacia em saber o que se passa e todo o zelo em dizer-m'o; cumpre prever tudo; tornar Octavia ainda mais desprezivel; descobrir mil meios de perdê-la e lembra-los a Néro; inventar crimes de que ella nem sequer tenha idéa; desinvolver toda a astucia de que és capaz; ir, vir, occupar o espirito do imperador, engana-lo, cega-lo e estar sempre alerta. Eis aqui o que te cumpre fazer.
TIGELLINO.
Assim o farei, mas creio que os projectos de Néro já est?o assentados. Fica certa de que elle n?o precisa de li??es para exercer vingan?as e bem sabes que lhe exacerba a colera quem quer mostrar que sabe tanto como elle.
POPPéA.
Tudo o irrita, bem o sei; ainda ha pouco o excesso de meu amor excitou-lhe o furor; já n?o era o amante quem fallava, mas sim o feroz senhor que ordenava do alto do throno.
TIGELLINO.
N?o o provoques jámais. Tens grande influencia sobre seu cora??o; mas a colera impetuosa, a embriaguez do poder e a sede feroz de vingan?a domin?o no mais facilmente do que o faz o amor. Afasta-te daqui, é esta a hora em que elle tem por costume vir fallar-me; confia em mim.
POPPéA.
Juro-te, que, se me servires agora, ninguem terá, mais do que tu, poder e influencia junto de Néro.

SCENA II.
TIGELLINO
é verdade que se Octavia triumphasse, a nossa desgra?a seria certa; mas eu gozo da confian?a de Néro. Seu odio é t?o feroz e a innocencia de Octavia t?o completa, que ella n?o póde evitar sua triste sorte. Cumpre-me, entretanto, mostrar-me habil; disfar?ar seus terrores com o nome de prudencia e dizer-lhe que a justi?a é mais criminosa que a vingan?a. Senhor do mundo, tens em mim teu senhor, unico, absoluto: eu só posso despertar-te n'alma o terror ou dissipa-lo. Desgra?ado de mim, se o medo n?o tivesse influencia sobre a tua alma! é este o unico meio que me resta para impellir-te ao mal; e quem poderia deter teus passos e dirigir-te para o bem?

SCENA III.
NéRO, TIGELLINO.
TIGELLINO.
Ah! senhor, porque n?o chegaste mais cedo? Ouvirias ainda os solu?os de uma mulher que te ama loucamente. A duvida, o receio, o amor tráv?o luta medonha no cora??o sensivel e fiel de Poppéa. Porque assim affliges quem te adora?
NéRO.
Allucinada por injustos ciumes, Poppéa desconhece a verdade; a ella só amo.
TIGELLINO.
Isto mesmo acabo de dizer-lhe; mas quem poderá melhor abrandar as angustias de um cora??o repleto de zelos do que o amante adorado? Occulta junto della a terrivel
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