dizellas?
Se vedes, que o Mundo inteiro
As vai
erguendo ás Estrellas?
Diz que vio a Capital
Cheia de pompa, e grandeza;
E que a ergueis
a lustre tal
D'entre os braços da molleza,
Que he no Clima natural.
Que nas mãos, onde se encerra
Alto Poder respeitozo,
Mostraste na
nova Terra
Ao Vizinho revoltozo,
N'uma a paz, em outra a guerra.
Que offreceis a vida então
Para a palavra salvar-se,
Que, os bons
Reis não dão em vão;
Acção digna de contar-se
Entre as de Mario,
ou Catão;
Que a mão que as Quinas voltêa,
Justiça ao Povo reparte;
E que
igualmente menêa,
Ora as Bandeiras de Marte,
Ora as Balanças de
Astiéa;
Mas já vossa austeridade
Minha narração reprime;
Ouvis-me contra
vontade;
Perdoai, Senhor, hum crime,
De que foi causa a verdade;
Pois que vos não dão desvelos
Louvores, que préza a gente,
Eu vou,
Senhor, suspendellos;
E vou dar-vos novamente
Motivos de
merecellos.
A minha longa fadiga
Já sabeis qual he, Senhor;
Levai-me a bem,
que a não diga;
Deixai-me poupar a dôr
De abrir huma chaga
antiga.
Pintar Irmans desgrenhadas
Co'as creanças innocentes.
Nos débeis
braços alçadas,
E de lagrimas ardentes,
Quasi sem fruto, banhadas.
Mostrar-lhe os olhos magoados,
Onde inutil pranto assiste,
Immoveis no chão pregados,
Nutrindo hum silencio triste,
Falsa paz
dos desgraçados;
Contar-vos, que entre os Irmãos,
Diz o bom Pai, com ternura,
Que
ao Ceo levantem as mãos;
Que assim se emenda a ventura,
E não
com queixumes vãos:
Que he do espirito fraqueza
Perder suspiros no vento;
Que venção a
natureza;
Que fação co'soffrimento
Honroza a dura pobreza;
Não lhe ver de dor sinais;
Ter no rosto olhos serenos,
E no peito
agudos ais;
Que porque se escutão menos,
Por isso me córtão mais:
Dar-vos huma inteira idéa
Da desgraça minha, e delles,
Pintura de
pranto chêa;
Se he preciza, he para aquelles,
A quem não dóe dor
alhêa.
As almas tão bem nascidas,
Como a vossa vejo ser,
Para serem
condoîdas,
Não tem precizão de ver
Correr sangue das feridas;
Sabeis, que soffro a impiedade
De vã fortuna traidora;
Mudai pois
de heroicidade;
Vinde pleitear agora
A cauza da humanidade;
Por vós tirar não podeis
Penas, que a alma me abafárão;
Mas ante o
Throno valeis;
E se o Sceptro vos fiárão,
Que vos negarão os Reis?
Reger-lhe os vastos Estados,
Ir dar-lhe hum novo esplendor,
São
feitos famigerados;
Mas inda o será maior
Ir pedir por desgraçados,
Disse a Cezar o Orador,
Que os Soldados tinhão parte
No perigo, e
no louvor;
Que fosse em outro Estendarte
Elle só o Vencedor;
Que era, de doce brandura
O deixar-se então vencer,
Mór victoria, e
mais segura;
Onde não tinhão poder
Nem ferro, nem má ventura.
Vencei vós sem ter Soldados;
Fazei de dias de dor
Dias
bemaventurados;
E possa essa mão, Senhor,
Mais do que podem
meus fados;
Claros Avós imitastes,
Que o Mundo apenas abrange;
No berço
palmas achastes;
Dos Heróes que vio o Gange,
O sangue, e as
acções herdastes;
Remotos Povos vencêrão,
E mares bravos abrindo;
As Quinas
desenvolvêrão;
Ante eles o Gange, e o Indo,
Tintos de sangue
corrêrão.
Vós, que em obras semelhantes
Fostes ser a Copia honroza
Do que
elles fizerão d'antes,
Na série maravilhoza
Das vossas acções
brilhantes;
Consenti, que a larga historia,
Que Almeidas levanta aos Ceos,
Lhes deixe no Altar da Gloria
Pendente, entre os mais Troféos,
Huma negra Palmatoria.
_A' Illustrissima, e Excellentissima Senhora Condeça de Tarouca, na
occasião do seu Casamento_.
Senhora, o Forte da Estrella,
Chorando o bem que perdeo,
Das suas
justas saudades
Por portador me escolheo;
Quiz que eu viesse contallas
Ao som desta rouca Lyra,
De longos
annos affeita
A acompanhar quem suspira;
Não fallo nos ternos Pais;
Nelles a alta Jerarquia
Tempéra saudozo
pranto
Com o pranto da alegria;
Ao nome dos seus Passados
Planos caminhos achárão,
Unindo ao
sangue de Heróes
O sangue de Heróes que herdárão;
Não fallo no amavel Conde;
Esse não faz compaixão;
Tem seges,
tem bons cavallos,
Tem o remedio na mão;
Sobre rápidos ginetes,
Quebrando a dura calçada,
Com o Francisco
a reboque,
Andará sempre na estrada;
Tambem das caras Irmans
Não venho as mágoas pintar;
Co'a terna
Mãi muitas vezes
As virão desafogar;
Fallo da triste Familia,
Que em amoroza manîa
Accuza o Ceo, que
vos deo
Formozura, e Fidalguia;
Dons, de seu mal cauzadores;
E que deixão coroado,
Na mais
illustre Conquista,
O mais ditozo Soldado;
Ralham delle a toda hora;
Foi cauza do seu tormento;
Elogião, e
praguejão
Seu alto merecimento;
Se he Soldado, siga a Guerra,
E as funestas glorias della;
Ataque
milhões de Fortes,
Mas deixe em paz o da Estrella;
Tem figura, tem talentos;
Tem alta Estirpe preclara;
Oxalá que
assim não fosse,
Ella então o desprezára; =
Mas, Senhores, perdoai-lhes;
A's vezes na grande dor
Fallão
palavras de raiva
A linguagem de amor;
O Silva, o Authomato honrado,[1]
Anda mais abstracto, e mudo;
Põe o doce antes da sôpa;
Queima o Café, quebra tudo;
[Nota de rodapé 1: Copeiro.]
O hirsuto, austéro Rodrigues,
Semblante de poucas pazes,
Desafoga
a sua dor,
Dando murros nos rapazes;
Vossa Aya, de tres idades,
Em canto escuro assentada,
Vos manda
calado pranto,
N'um cobertor abafada.
Outras vezes esquecida
De quanto seu Fado he crú,
No queixo
ajustando o lenço,
E sobrepondo o bajú:
Ergue ao ar cansados ossos;
E sem temer ventos frios,
Tirando-lhe
Amor o pezo
Dos gelados pés tardios;
Do bom costume enganada,
E com a uzada cautela,
Para dar, e ter,
bons dias,
Vos vai abrir a janela;
A janela a desengana;
Renova-lhe a dor no peito;
Chama em vão o
vosso nome,
Abraçando hum ermo leito.
Do peito das mais Creadas
A saudade se não risca,
Desde as Ayas
ralhadoras,
Té á ladina Francisca.
E pois que
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